Palmeiras e Ferroviária são as equipes que têm mais condições de brigar de igual para igual contra o Corinthians pelo título do Brasileirão Feminino a médio prazo no humilde entendimento deste que escreve. Os elencos já possuem um certo entrosamento, os reforços contratados na última janela de transferências foram muito bons e os técnicos Hoffmann Túlio e Roberta Batista têm conhecimento amplo do velho e rude esporte bretão e capacidade de montar equipes altamente competitivas. O jogo disputado neste sábado (16), na Arena Fonte Luminosa, nos mostrou que as Palestrinas estão um passo à frente das Guerreiras Grenás por conta da qualidade individual de Bia Zazenratto, Sochor, Duda Santos e companhia e pelo melhor entendimento daquilo que é planejado antes da bolar. É por isso que a vitória do Palmeiras por 3 a 1 foi mais do que justa.
Vitória e liderança das Palestrinas! 🐷
Com gols da Sochor (2x) e da Bia Zaneratto, o @Palmeiras_FEM venceu a Ferroviária por 3 a 1 e assumiu a liderança da minha disputa!#BrasileirãoFemininoNeoenergia 🇧🇷 pic.twitter.com/Cz3V4sOPS3
— Brasileirão Feminino Neoenergia (@BRFeminino) April 16, 2022
Para se entender bem como as Palestrinas construíram o resultado em Araraquara, é preciso entender como os dois treinadores pensaram suas equipes para um dos jogos mais aguardados dessa primeira fase de Brasileirão Feminino. Roberta Batista manteve seu 4-3-3/4-1-4-1 com marcação mais alta e ataque móvel com Eudimilla abrindo espaços para a chegadas de Mylena Carioca e Larhy pelos lados do campo. Mais atrás, Luana protegia a zaga e Ingryd era a volante “box-to-box”, isto é, a jogadora que ia de área a área carregando a bola ou aparecendo na frente como opção de passe. Além disso, Carol Tavares e Barrinha abriam o campo e se comportavam como verdadeiras pontas.
Do outro lado, Hoffmann Túlio apostou num esquema que variava de um 4-4-2 inicial para um 4-2-3-1 ou até um 4-3-1-2 dependendo do posicionamento de Sochor, Byanca Brasil e Bia Zaneratto na intermediária ofensiva. O Palmeiras não teve muitos problemas para controlar as ações desde o início (apesar do jogo mais estudado e mais pegado em determinados momentos). Isso porque Júlia Bianchi dava uma boa dinâmica ao meio-campo e Andressinha distribuía bem os passes na saída de bola. Ao mesmo tempo, Duda Santos e Byanca Brasil jogavam mais pelos lados abriam o corredor para a subida das laterais Camilinha e Katrine ou procuravam Bia Zaneratto no comando de ataque.
Formação inicial das duas equipes na Fonte Luminosa. Roberta Batista mandou a Ferroviária a campo no seu 4-3-3 costumeiro e Hoffmann Túlio apostou na movimentação e no controle do meio-campo.
A estratégia de Hoffmann Túlio era simples. Sua equipe variava de um bloco médio para uma pressão mais forte no campo adversário com encaixes na marcação. Tudo para que a volante Luana ficasse isolada do restante da equipe e Ingryd não tivesse condições de conduzir a bola até o campo de ataque. A estratégia funcionou aos 35 minutos, quando Bia Zaneratto interceptou passe de Barrinha na intermediária e fez a jogada que resultou no gol de Sochor (após passe de Duda Santos). Tendo que sair mais para o jogo, as Guerreiras Grenás encontravam certa dificuldade para furar as linhas do Palmeiras mesmo na inversão para uma linha de cinco atacantes com a subida das laterais para o setor ofensivo. Ao mesmo tempo, Byanca Brasil e Sochor se revezavam pelo lado e por dentro dependendo de onde estava a bola e ajudavam na contenção do ataque afeano.
Apesar de preencher bem o comando de ataque, a Ferroviária encontrava certa dificuldade encontrar espaços entre as linhas do Palmeiras. As melhores jogadas saíam pelos lados do campo com os avanços de Barrinha e Carol Tavares. Foto: Reprodução / BAND
Com Aline Gomes e Fany Gauto nos lugares de Mylena Carioca e Suzane, a segunda etapa começou com as Guerreiras Grenás adiantando ainda mais as suas linhas e forçando bastante o erro na saída de bola palestrina. A estratégia quase deu certo antes da primeira volta no relógio quando o ataque afeano interceptou passe de Jully e Eudimilla desperdiçou boa chance dentro da área. Dois minutos depois, no entanto, Sochor marcaria o segundo gol do Palmeiras (e o segundo dela na partida) depois de se aproveitar de bola mal dominada por Luana na intermediária e do posicionamento mais adiantado da goleira Luciana no lance. Belíssimo gol, diga-se de passagem.
Vale destacar nesse lance a maneira como Hoffman Túlio posicionou sua equipe de modo a acabar com a superioridade numérica das Guerreiras Grenás na defesa. Enquanto Katrine exerce a pressão na portadora da bola, Duda Santos, Andressina e Júlia Bianchi permanecem um pouco mais atrás. Camilinha abre o campo pela direita e o trio ofensivo tira a sobra da última linha. Bia Zaneratto e Byanca Brasil saem do lado para dentro e Sochor se comporta como uma espécie de “enganche”, recuando para armar as jogadas e buscando o espaço vazio entre as linhas para municiar a forte dupla de ataque palestrina. Tudo isso em cima de uma defesa que tem grandes dificuldades para controlar a profundidade.
Byanca Brasil, Sochor (a “enganche” do time) e Bia Zaneratto tiram a superioridade numérica da zaga afeana. Mais atrás, Duda Santos, Andressinha e Júlia Bianchi protegem a zaga enquanto as laterais Camilinha e Katrine abrem o campo. Foto: Reprodução / BAND
O gol marcado por Luana aos sete minutos da segunda etapa (em bobeira da goleira Jully na saída de bola) deu uma boa injeção de ânimo nas Guerreiras Grenás. Fany Gauto acertou o travessão e Eudimilla teve em Aline Gomes a companheira de ataque que faltou no primeiro tempo. Mesmo assim, o escrete de Roberta Batista ainda pecava muito nas tomadas de decisão e no último passe. Aos poucos, o Palmeiras foi acertando a marcação e retomando o controle da partida. Hoffmann Túlio acertou em cheio com a entrada de Chú no lugar de uma extenuada Byanca Brasil e viu Bia Zaneratto fazer o terceiro gol palestrino em bela jogada individual partindo do meio-campo. A “Imperatriz” aproveitou bem o bote errado de Gessica e toda a desorganização defensiva da Ferroviária para invadir a área e tocar na saída da goleira Luciana. Golaço ao melhor e bem conhecido estilo Bia Zaneratto.
O golaço de Bia Zaneratto expôs a desorganização defensiva das Guerreiras Grenás e os erros constantes nas tomadas de decisão. O bote errado de Gessica escancarou a última linha e só facilitou a vida da “Imperatriz” no lance. Foto: Reprodução / BAND
O Palmeiras saiu de campo com o resultado positivo porque soube controlar melhor o meio-campo e explorou bem a qualidade individual das suas jogadoras. Do outro lado, a Ferroviária ainda oscila muito dentro de um mesmo jogo. O time pode criar boas jogadas, empilhar chances de gol e falhar clamorosamente nos momentos decisivos num espaço curto de tempo. Mas o grande problema segue no sistema defensivo. A última linha segue com muitos problemas para controlar a profundidade (o popular “correr para trás”) quando é atacada e Ingryd sofreu para tentar organizar as coisas no meio-campo. Nesse ponto, a entrada de Fany Gauto pode ser uma alternativa interessante para que a camisa 8 afeana não fique sobrecarregada na armação das jogadas e na saída de bola. Ao mesmo tempo, Rafa Mineira e Aline Milene podem e devem ganhar mais minutos no time das Guerreiras Grenás.
O Palmeiras saiu de campo vencedor porque conseguiu explorar todas essas falhas da Ferroviária sem perder o controle das ações no meio-campo. Hoffmann Túlio vai conseguindo implementar um sistema de jogo interessante com essas variações do 4-4-2 para um 4-3-1-2 com uma jogadora atuando como “enganche”. Difícil não ver em Sochor e Ary Borges as jogadoras com mais capacidade de exercer essa função no escrete palestrino. Falta ainda a subida de patamar. Mas precisamos reconhecer que a equipe promete brigar forte pelo título do Brasileirão Feminino.
https://www.youtube.com/watch?v=P2ummZ9iSdE
