É verdade que este que escreve esperava uma vitória do Palmeiras sobre o São José muito por conta da qualidade dos dois elencos e da posição das duas equipes na tabela do Brasileirão Feminino. Visto por este aspecto, os 5 a 0 aplicados na partida deste domingo (29) não foram nenhuma surpresa. A novidade veio da formação escolhida por Hoffmann Túlio para acomodar Carol Baiana, Bia Zaneratto e Chú dentro do seu 4-3-3 costumeiro. A camisa 10 das Palestrinas foi muito mais uma meia-armadora, uma jogadora voltada para a criação e distribuição de passes do que a atacante que eu e você conhecemos. Não deixa de ser uma inovação interessante dentro de um contexto muito mais favorável do que em jogos anteriores e também é uma alternativa interessante para essa sequência de temporada.
Quem via a escalação inicial do Palmeiras pode até ter pensado que Hoffmann Túlio havia optado por um 4-4-2 com Chú e Duda Santos pelos lados e Bia Zaneratto e Carol Baiana mais enfiadas e empurrando a linha de cinco do São José para trás. A dúvida ficava por quem ocuparia o espaço por dentro. Poderíamos pensar em Andressinha vindo de trás, Júlia Bianchi ou até mesmo Camilinha (jogando como uma espécie de “lateral-armadora” mais pelo centro do campo). O que vimos no Alliaz Parque foi algo diferente do esperado. Ao invés de jogar mais à frente como a atacante habilidosa que é, Bia Zaneratto nos mostrou uma outra faceta do seu futebol atuando na função que era de Ary Borges (que não foi relacionada para a partida).
Hoffmann Túlio apostou na “Imperatriz” como uma “10 de ofício”, isto é, a jogadora que recua para buscar a entrelinha e que explora bem a chamada “Zona 14” do campo e abre espaço para a chegada das volantes ao ataque. E o interessante desse posicionamento é que ele combina com o 4-3-3 mais posicional do treinador das Palestrinas. Duda Santos e Chú abriam o campo, Camilinha aparecia por dentro, Júlia Bianchi ficava um pouco mais por trás e Andressinha atacava o espaço. O São José de Guilherme Giudice, por sua vez, encontrava muitas dificuldades para fazer a bola chegar na frente e sofria com a forte pressão pós-perda de um Palmeiras intenso e bastante móvel.

É interessante notar que os três gols do Palmeiras no primeiro tempo nasceram de lances em que a qualidade individual fez a diferença. A cobrança de falta de Duda Santos que a goleira Zany aceitou, a falha de Karen no lance do gol de Carol Baiana e a penalidade cometida de maneira tola após cobrança de falta de Andressinha. Conforme mencionado anteriormente, já era esperado que os acontecimentos se desenrolassem dessa maneira no Allianz Parque. Mesmo assim, Hoffmann Túlio seguia com seu plano. E o posicionamento mais recuado de Bia Zaneratto podia ser melhor percebido quando as Palestrinas não tinham a posse da bola. A camisa 10 recuava quase como uma volante um pouco mais à frente de Júlia Bianchi no desdobramento do 4-3-3 para o 4-1-4-1 bem conhecido do treinador palmeirense.

As entradas de Byanca Brasil, Sâmia, Katrine, Ottilia e Sochor não mudaram o plano inicial de Hoffmann Túlio. Seu 4-3-3 básico foi mantido e o Palmeiras se impôs na base da qualidade e da força física pra cima de um São José entregue e sem muitas forças para reagir. E Bia Zaneratto seguia jogando mais recuada, sempre procurando o espaço vazio para ter tempo para organizar as jogadas de ataque. É interessante observar que tivemos momentos em que a “Imperatriz” esteve jogando atrás de Júlia Bianchi e Andressinha (que aproveitaram bastante o espaço aberto pela camisa 10). Essa movimentação mais intensa em torno da bola e a proposta de jogar com muito volume nas transições para o ataque foram o diferencial de um Palmeiras mais leve e muito mais intenso neste domingo (29). Vitória justíssima.

Os gols marcados por Byanca Brasil (este em belo passe de calcanhar de Andressinha) e Sochor (em cruzamento de Bia Zaneratto) fecharam o placar no Allianz Parque e confirmaram a superioridade técnica e tática do Palmeiras de Hoffmann Túlio. O posicionamento da camisa 10 mais como uma meio-campista do que como uma atacante funcionou dentro do contexto apresentado no jogo deste domingo (29) e surge como opção para o encaixe dela e de outros nomes do escrete palestrino no time titular. No entanto, é bom que se diga que as melhores chances do São José surgiram quando o time de Guilherme Giudice conseguiu retomar a posse e acionar as atacantes em velocidade. Não foram poucas as vezes em que o Palmeiras deixou a sua última linha desprotegida com as subidas das volantes.
É verdade que a formação com a camisa 10 mais recuada funcionou dentro do cenário que o confronto que o São José apresentou, mas ela pode não ser a melhor escolha contra equipes mais qualificadas. Como o Corinthians, grande rival na briga pelo título do Brasileirão Feminino e adversário do próximo sábado (4). É bom ver que Hoffmann Túlio está buscando alternativas para tirar o melhor de Bia Zaneratto. Mas está bem claro (pelo menos para este que escreve) que elas precisam ser bem estudadas e trabalhadas.