Home Futebol Chuva, intensidade, movimentação e gols: São Paulo atropela o Atlético-MG com autoridade e boa atuação coletiva

Chuva, intensidade, movimentação e gols: São Paulo atropela o Atlético-MG com autoridade e boa atuação coletiva

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa o jogo disputado nesta segunda-feira (30) e as escolhas de Lucas Piccinato e Lindsay Camila

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Antes da bola rolar em Cotia nesta segunda-feira (30), o Atlético-MG de Lindsay Camila havia sofrido apenas sete gols em nove jogos do Brasileirão Feminino, marca que o colocava como a segunda melhor defesa da competição (atrás apenas de Corinthians e Internacional). Isso ajuda a explicar os motivos pelos quais a goleada do São Paulo de Lucas Piccinato, Formiga e Micaelly sobre as Vingadoras deve sim ser celebrada por quem acompanha a modalidade. O Tricolor Paulista manteve a postura ofensiva com boas trocas de passe no campo de ataque, soube trabalhar bem a bola para abrir espaços na defesa do Atlético-MG, não se abalou por ter saído atrás no placar e saiu de campo premiado com a vitória e os três pontos. Mais uma boa atuação coletiva marcada pela concentração das jogadoras e na execução precisa do plano traçado por Lucas Piccinato.

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Mas é sempre bom lembrar que o São Paulo demorou um pouco para entrar no jogo. Ainda mais depois que Marta Edyth abriu o placar logo aos seis minutos de jogo num belo chute da entrada da área que Michelle não alcançou. Mesmo com todo o cenário favorável ao escrete comandado por Lindsay Camila (que sabe montar equipes reativas e voltadas para o contra-ataque), o Tricolor Paulista conseguiu recuperar a concentração relativamente rápido e retomou o controle da partida executando bem os movimentos do 4-4-2/3-4-2-1 proposto por Lucas Piccinato. Só que desta vez, a formação utilizada na equipe tinha um ingrediente a mais: a subida constante de Yaya para o ataque.

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É bem verdade que ter Formiga em campo facilita todo o processo. Poucas jogadoras possuem um conhecimento tão apurado dos caminhos do campo como a veterana da camisa 8 do São Paulo. Com Dani e Naná abrindo bem o campo, Micaelly e Rafa Travalão se movimentando bastante e arrastando a marcação do Atlético-MG (que fechava a entrada da área com perseguições no campo defensivo), o Tricolor Paulista chegou rapidamente ao empate com a ótima Yaya aparecendo na área às costas da defesa atleticana aos 15 minutos do primeiro tempo. Todo o repertório de jogadas da equipe de Lucas Piccinato seguia essa linha: movimentar, arrastar e atacar o espaço.

Fernanda apareceu no lado esquerdo, atraiu a marcação do Atlético-MG e lançou Shashá no corredor. A camisa 64 viu Yaya se lançando no espaço aberto por Micaelly e Rafa Travalão e fez o cruzamento que originou o gol de empate do São Paulo. Foto: Reprodução / SPORTV / GE

A virada veio aos 25 minutos com Micaelly escorando cruzamento rasteiro de Naná. A essa altura, estava mais do que claro que o São Paulo havia encontrado o “mapa da mina” para vencer o bloqueio defensivo do Atlético-MG. E o caminho estava nas triangulações pelos lados do campo. Fernanda ficava um pouco mais e permitia que Naná avançasse pela direita e se juntasse ao trio ofensivo. Do outro lado, Shashá ganhava a companhia de Dani Silva. Com muita gente chegando ao ataque ao mesmo tempo, o Tricolor Paulista foi se impondo e empurrando o Atlético-MG para trás. O único porém estava na recomposição defensiva. Não foram poucas as vezes em que o time de Lucas Piccinato abriu espaços na frente da área e deixou a última linha desguarnecida. Não foram poucas as vezes em que Camila, Nathane, Soraya e Iara se aproximaram perigosamente do gol defendido por Michelle.

O Atlético-MG sempre levou perigo ao gol de Michelle quando conseguia vencer a pressão inicial do São Paulo. Iara e Soraya exploravam bem o espaço às costas das laterais e as falhas na recomposição do escrete comandado por Lucas Piccinato. Foto: Reprodução / SPORTV / GE

Mas é preciso levar em consideração o fato de que o São Paulo sofreu muito pouco diante do Atlético-MG. Na prática, o escrete comandado por Lindsay Camila teve apenas uma chance real de gol no segundo tempo (com Leidi finalizando de longe). A marcação do Tricolor Paulista estava encaixada e dificultava bastante a saída de bola das Vingadoras ao isolar as volantes Marta Edhty e Dayana das jogadoras de meio-campo. Fora isso, a forte pressão na portadora da bola foi responsável direta pelo terceiro gol da equipe de Lucas Piccinato. Rafa Travalão acreditou no lance e balançou as redes aos quatro minutos do segundo tempo. Mas é bom destacar que o 4-4-2 do São Paulo em organização defensiva (e com as linhas em bloco médio) se comportou bem na grande maioria do jogo em Cotia. Principalmente quando Shashá e Naná fechavam os lados e a dupla de ataque forçava o erro da zaga das Vingadoras.

Shashá e Naná fechavam pelos lados, Formiga e Yaya vinham por dentro, Rafa Travalão dava o primeiro combate e Micaelly ficava um pouco mais avançada. O São Paulo soube como travar o Atlético-MG com a marcação encaixada na saída de bola. Foto: Reprodução / SPORTV / GE

O gol da vitória do Tricolor Paulista saiu nos acréscimos com Yaya novamente aparecendo no ataque (mais pelo lado direito) e servindo Micaelly dentro da área. Mais um lance criado a partir da movimentação constante das jogadoras de frente e da ocupação inteligente dos espaços que o Atlético-MG deixava na sua defesa. A quinta vitória do São Paulo como mandante no Brasileirão Feminino teve muito de imposição física, intensidade nas transições e boa execução do plano de jogo estabelecido por Lucas Piccinato. E por mais que o Atlético-MG tenha entrado em campo com a segunda melhor defesa da competição, o time de Lindsay Camila acabou falhando demais na marcação e ofereceu verdadeiras crateras para seu adversário. Principalmente pelos lados do campo, onde Leidi e Katielle sofreram demais com as descidas de Dani, Naná, Shashá e Micaelly.

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A campanha do São Paulo no Brasileirão Feminino já é motivo suficiente para colocar a equipe de Lucas Piccinato como uma das melhores da competição. Ainda mais diante do entendimento cada vez maior das ideias do treinador tricolor. Mas ainda falta o salto final. Falta aquela atuação contra um adversário da primeira linha que possa testar o Tricolor Paulista por inteiro. Mais do que nunca, esse time ainda precisa se provar competitivo se quiser chegar e se manter no topo.