Não foi uma atuação brilhante, é verdade. Mas eu e você precisamos reconhecer que o São Paulo foi extremamente eficiente e executou o plano de Rogério Ceni com o máximo de perfeição e aplicação possível. A vitória sobre o Palmeiras nesta quinta-feira (23) nos apresentou um time concentrado, intenso na marcação, objetivo nas transições ofensivas e que aprendeu com os erros cometidos no Choque-Rei do início da semana (válido pelo Campeonato Brasileiro). E nesse ponto, o grande mérito do Tricolor Paulista foi ter tirado seu forte adversário da zona de conforto e explorado os pontos fracos do 4-2-3-1 costumeiro do escrete comandado por Abel Ferreira. É o tipo de vitória que nos mostra todo o potencial e qualidade de um São Paulo que pode chegar muito mais longe do que está pensando.
É interessante notar que Rogério Ceni repetiu a escalação que entrou em campo na derrota para o Palmeiras no início de semana. Estava claro que o comandante tricolor tinha confiança no plano de jogo e tinha a perfeita noção de que tinha conseguido “machucar” o rival com linhas altas, forte pressão no portador da bola e transições em alta velocidade. O 3-1-4-2 tinha Gabriel Neves na proteção do trio de zagueiros, Igor Vinícius e Reinado espetados como pontas e Rodrigo Nestor e Igor Gomes saltando para a pressão e encaixotando Zé Rafael e Danilo (justamente os responsáveis pela saída de bola do Palmeiras). E ainda havia Patrick jogando como ponta pela esquerda e aparecendo às costas dos volantes para explorar o espaço que aparecia entre Marcos Rocha e Gustavo Gómez na última linha.

Houve quem pensasse que a formação escolhida (e mantida) por Rogério Ceni para o jogo desta quinta-feira (23) indicava uma postura mais conservadora e reativa por parte do São Paulo. No entanto, o que se viu no Morumbi foi uma equipe intensa na marcação e que simplesmente não dava chances para o Palmeiras. Ao contrário do que aconteceu no início da semana, o escrete comandado por Abel Ferreira não encontrava espaços para contra-atacar e crias chances claras de balançar as redes de Jandrei. Fora isso, estava nítido que o atual bicampeão da América estava completamente desconfortável e encontrava dificuldades enormes para fazer a bola chegar em Rony, Dudu e Gabriel Verón. Com a marcação encaixada e muita intensidade nas transições, o São Paulo conseguia se impor e dominar as ações.
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Calleri (duas vezes), Igor Gomes e Igor Vinícius desperdiçaram boas chances de gol antes de Patrick abrir o placar aos 30 minutos do primeiro tempo. Toda a construção do lance mostra bem como o plano de jogo de Rogério Ceni funcionava bem. O São Paulo tinha amplitude com Igor Vinícius e Reinaldo atraindo Marcos Rocha e Piquerez, tinha profundidade com Calleri arrastando Murilo para trás, chegada por dentro com Rodrigo Nestor e Igor Gomes e o “rompedor de linhas” na figura de Patrick. E ainda havia Gabriel Neves aguardando a sobra das jogadas de ataque e muito atento à movimentação de Dudu e Gabriel Veron pelos lados do campo. A postura agressiva, vertical e intensa não deixava o Palmeiras respirar e foi fundamental para abrir espaços na frente da área defenda pelo goleiro Weverton.

Se o São Paulo incomodava o Palmeiras, também não permitia que ele encaixasse contra-ataques e finalizasse a gol. Os números do SofaScore (no tweet abaixo) comprovam que a estratégia escolhida por Rogério Ceni foi a mais acertada e que o time havia aprendido com os erros do jogo disputado na segunda-feira (20). Ao invés de recuar as linhas e segurar o resultado até o apito final, o Tricolor Paulista não abdicou do ataque e ainda criou boas chances de “matar” o jogo no segundo tempo com boas escapadas às costas da defesa palmeirense. Patrick era tormento constante pelo lado esquerdo de ataque, Reinaldo e Igor Vinícius levavam vantagem nos duelos contra Marcos Rocha e Piquerez e os volantes não deixavam Danilo e Zé Rafael confortáveis para iniciar a saída de bola.
Tudo isso se reflete naquilo que vimos em campo. O São Paulo era intenso no ataque, forte na defesa e jogava de maneira inteligente. Estava claro que Rogério Ceni sabia muito bem que o ataque adversário precisava de espaço para atacar e que qualquer vacilo na frente da área poderia ser fatal. Nesse ponto, a organização do Tricolor Paulista nos momentos sem a bola chamavam a atenção pela organização e pela dinâmica. Se Igor Vinícius saltava para a pressão, Igor Gomes recuava e ocupava sua posição na linha de cinco defensores. Ao mesmo tempo, se Reinaldo batia de frente contra dois jogadores palmeirenses, Patrick recuava para formar uma linha com quatro jogadores adicional. Tudo para fechar espaços e linhas de passe dificultar ao máximo a vida dos atacantes adversários nas finalizações a gol.

O auxiliar João Martins fez questão de afirmar que o São Paulo teve seus méritos na construção do resultado desta quinta-feira (23) e que o Palmeiras não esteve realmente numa noite lá muito inspirada. É possível dizer sem medo de errar que essa foi a melhor atuação coletiva do Tricolor Paulista sob o comando de Rogério Ceni em toda a temporada. Não somente pela vitória no clássico, mas pela maneira como ela foi construída. A lamentar somente as oportunidades de gol desperdiçadas no segundo tempo (por pura afobação e erros nas tomadas de decisão) e a lesão do zagueiro Arboleda (um dos melhores em campo na opinião deste que escreve). O camisa 5 se transformou num dos pilares da equipe do Morumbi e comandava o sistema defensivo com muito brilhantismo. Vai fazer muita falta com certeza.
A quebra da invencibilidade de 19 jogos do Palmeiras teve o “dedo” de Rogério Ceni. Aliás, é preciso lembrar que duas das quatro derrotas do escrete alviverde em toda a temporada aconteceram diante do São Paulo. Sem querer entrar no campo da provocação, precisamos reconhecer que o feito do Tricolor Paulista é, de fato, notável. Ainda mais sabendo que todo o “hate” em cima do treinador e de toda a falácia em cima de um time que tem um potencial absurdo de crescimento.

