É possível dizer que o Flamengo teve mais sorte que juízo na grande final da Copa do Brasil? Sim. É possível dizer que o escrete comandado por Dorival Júnior teve mais frieza do que o aguerrido e competitivo Corinthians de Vítor Pereira na decisão por penalidades? Sim. Como diriam os antigos, “finais não se jogam, finais se ganham”. Cada um de nós vai olhar a partida desta quarta-feira (19) de um jeito diferente. Há quem veja méritos no Fla (apesar da atuação bem abaixo do esperado) e há quem enxergue motivos para ficar seriamente preocupado. Certo é que essa emocionante decisão deixa sim lições valiosíssimas para os jogadores e para Dorival Júnior.
Isso porque a vitória ensina tanto quanto a derrota no velho e rude esporte bretão. Embora fosse apontado como o favorito ao título, o Flamengo mostrou dificuldades para conter o volume de jogo imposto pelo Corinthians em vários momentos da partida. Principalmente na segunda etapa, quando Vítor Pereira desfez o 5-3-2 inicial com a entrada de Adson no lugar de Lucas Piton. Ao mesmo tempo, estava claro que o Flamengo não tinha peças para substituir Thiago Maia e Vidal, jogadores importantes no balanço defensivo, mas que sentiram lesões durante o jogo.
É verdade que o Flamengo até conseguiu se sair bem no início da partida com o gol de Pedro (em belíssima troca de passes na entrada da área) e o posicionamento de Arrascaeta Everton Ribeiro mais pelos lados do campo para dar amplitude e deixar a dupla de ataque mais livre. Logo depois do gol do camisa 21, no entanto, o Fla voltou ao 4-3-1-2 costumeiro de Dorival Júnior e conseguiu preencher a entrada da área. Faltava é ficar mais com a bola. E isso acabaria facilitando a vida do Corinthians, que acabaria encontrando mais espaço pelos lados do campo.

Antes mesmo do intervalo, Vítor Pereira já havia percebido que o Flamengo dava sinais de desgaste físico e apresentava dificuldades para exercer a marcação no campo de ataque. Os espaços que Renato Augusto, Fábio Santos (que foi muito bem jogando como zagueiro pela esquerda), Du Queiroz e Fagner encontravam no meio-campo provam essa tese. Não foi por acaso que o Corinthians cresceu no segundo tempo. A entrada de adson ajudou a manter a posse da bola e a pressionar ainda mais a última linha de defesa rubro-negra. Além disso, as lesões de Vidal e Thiago Maia e a visível queda de rendimento de Arrascaeta foram problemas que Dorival Júnior não conseguiu resolver.
Se Adson somou muito, as entradas de Giuliano, Maycon e Mateus Vital elevaram ainda mais o nível do futebol apresentado pelo escrete comandado por Vítor Pereira. E ninguém tira da cabeça deste que escreve que Dorival Júnior não queria colocar Diego Ribas em campo, justamente aquele que vinha jogando como “5” no time que disputa o Brasileirão. No entanto, as mexidas promovidas pelo comandante rubro-negro acabaram enfraquecendo ainda mais a marcação alta da equipe e trazendo os jogadores para trás. Tudo o que o Corinthians queria na partida.
O gol marcado por Giuliano aos 37 minutos da segunda etapa foi resultado da “blitz” imposta pelo Timão. O Flamengo se via acuado no seu campo e tentado a duras penas segurar um resultado que foi construído no início da partida e que não refletia o que se via no Maracanã. É possível dizer também que as coisas só não foram piores para o Mais Querido do Brasil porque Everton Ribeiro assumiu de vez o protagonismo e se transformou num verdadeiro maestro dentro de campo. Todas as bolas passavam pelos seus pés. O camisa 7 foi impecável do começo ao fim do jogo.
Este que escreve entende que Thiago Maia e Vidal sentiram lesões e que Arrascaeta está com um problema no púbis. As circunstâncias do jogo exigem determinadas decisões que não são fáceis de serem tomadas. Por outro lado, a entrada de Matheuzinho no meio-campo e o posicionamento de David Luiz na frente da zaga também mostraram que Dorival Júnior não parecia ter um “plano B” para o Flamengo. A demora na entrada de Everton Cebolinha e a variação para um 4-2-3-1 só aconteceram depois que Giuliano empatou a partida aos 37 minutos do segundo tempo. E o mais interessante é que o gol “acordou” o time do Flamengo, que passou a controlar mais o jogo nos minutos finais.

A grande verdade, meus amigos, é que essa decisão da Copa do Brasil esteve recheada de momentos de tensão, ranger de dentes, quedas e redenções. Quem poderia prever que Róger Guedes perderia um gol incrível no segundo tempo? Ou que Fagner, justo um dos jogadores mais experientes do Corinthians acertaria a trave e recolocaria o Flamengo no páreo? Ou que Rodinei fosse converter a penalidade do título? Os roteiristas do velho e rude esporte bretão sempre nos pregam peças com as suas reviravoltas na história. E quiseram eles que o campeão da Copa do Brasil fosse o time que mostrou mais frieza e mais eficiência na marca de cal nessa noite quente de quarta-feira (19).
Em tempo: o Corinthians foi gigante e mostrou que o trabalho de Vítor Pereira vem sim dando muito resultado dentro de campo. Já o Flamengo ficou com o título que essa geração ainda não havia conquistado e a certeza de que muita coisa precisa ser corrigida até a final da Libertadores diante do Athletico Paranaense no dia 29 de outubro. O aprendizado da finalíssima da Copa do Brasil precisa ser assimilado por jogadores e (principalmente) comissão técnica. Não dá pra ficar contando com a sorte para sempre. É preciso jogar bola.

