Home Futebol Argentina amassa a Croácia, se garante na final da Copa do Mundo e mostra o que faltou ao Brasil de Tite

Argentina amassa a Croácia, se garante na final da Copa do Mundo e mostra o que faltou ao Brasil de Tite

Luiz Ferreira analisa a classificação da Albiceleste, as ideias de Lionel Scaloni e o show de Messi na coluna PAPO TÁTICO

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

A frustração do torcedor brasileiro é bastante compreensível. A Argentina se garantiu na final da Copa do Mundo ao vencer a mesma Croácia que eliminou a Seleção Brasileira nas quartas de final com uma atuação coletiva de encher os olhos nesta terça-feira (13). E mais: o time comandado por Lionel Scaloni mostrou o que faltou no Brasil de Tite, Neymar, Casemiro e Thiago Silva diante do “Time Xadrez” na partida da última sexta-feira (13). A Albiceleste foi eficaz nas finalizações, executou o plano de jogo do seu treinador com perfeição e teve na lenda Lionel Messi o grande diferencial para superar o atual vice-campeão mundial. A Argentina foi brilhante. Mais uma vez.

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Antes de mais nada, não esperem deste que escreve pedidos para que a cabeça de Tite seja cortada e exposta em praça pública como a grande maioria defende. As críticas ao treinador brasileiro já foram feitas em outras oportunidades. Ao mesmo tempo, é preciso deixar claro que não existe plano ou estratégia de jogo perfeita. Existe aquela que funciona. E a de Lionel Scaloni se mostrou muito mais eficiente do que a usada por Tite na partida das quartas de final. O futebol é um jogo caótico. E entender isso é meio caminho andado para se chegar ao topo.

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Fato é que a Argentina entrou em campo no Estádio Lusail com mais mudanças no seu onze inicial. Lisandro Martínez saiu do time e deu lugar a Paredes. O esquema com três zagueiros utilizado na partida contra a Holanda deu lugar a um 4-4-2/4-1-3-2 de muita força e coordenação na marcação. O jovem Enzo Fernández tinha a tarefa de colar em Modric e tirar seu espaço de atuação. Ao mesmo tempo, De Paul, Mac Allister e Paredes isolavam o meio-campo do time de Zlatko Dalic do setor ofensivo. Lionel Scaloni montava sua Argentina de modo a não deixar a Croácia jogar.

Formação inicial das duas equipes. Lionel Scaloni apostou num 4-4-2 de forte marcação no meio-campo e colou Enzo Fernández em Modric no 4-3-3 costumeiro da Croácia.

Mesmo o adversário iniciando a partida no campo de ataque e tentando explorar as costas da última linha com lançamentos para Perisic, Pasalic e Kramaric, o treinador portenho se manteve fiel ao seu plano. A entrada de Paredes no meio tinha como objetivo era tirar o raio de ação do talentoso meio-campo croata e acelerar nos contra-ataques. sem a bola, a Argentina encaixava a marcação e fechava as linhas de passe. Enzo Fernández virou a sombra de Modric. Paredes colou em Kovacic. E Julián Álvarez vigiava Brozovic. Mais à frente, Mac Allister e o próprio Messi faziam a pressão em cima de quem estivesse com a posse da bola. Tudo era feito de maneira extremamente coordenada e organizada.

A Argentina encaiuxou a marcação na saída de bola da Croácia e tirou o espaço de Modric, Brozovic e Kovacic. Organização e intensidade nos movimentos. Foto: Reprodução / YouTube / Cazé TV

Comparar a atuação da Argentina com a da Seleção Brasileira é inevitável. E também é possível enumerar uma série de problemas que não foram solucionados pela equipe comandada por Tite na sexta-feira (9). Se o o time de Zlatko Dalic controlou bem a posse no primeiro tempo do jogo contra o Brasil, a Argentina tirou o espaço de circulação de Modric e companhia. Nesse ponto específico, Lionel Scaloni acabou sendo muito mais feliz do que o treinador brasileiro. A escolha da estratégia e (principalmente) na execução do plano foram fundamentais na Albiceleste.

Ao mesmo tempo, vale destacar também a efetividade da Argentina nas chances criadas. A aposta na velocidade do jovem Julián Álvarez (que buscava as costas de Lovren, o zagueiro mais lento da Croácia), acabou se mostrando a mais correta. A Albiceleste atraía seu adversário para depois explorar o espaço. Tática simples, mas que mostra o conhecimento de quem estaria do outro lado do campo. Mas o grande diferencial da “Scaloneta” foi realmente o aproveitamento das chances de gol criadas. De sete finalizações no alvo, a Argentina colocou três dentro da casinha.

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Julián Álvarez atacava as costas de Lovren (o zagueiro mais lento da Croácia). Sempre que a Argentina recuperava a posse, ele se projetava no espaço. Foto: Reprodução / YouTube / Cazé TV

Notem que os dois gols da Argentina no primeiro tempo surgiram de jogadas semelhantes. No primeiro, o goleiro Livakovic derrubou Julián Álvarez em penalidade que Messi converteu. Logo na sequência (e com a Croácia atordoada com o primeiro gol), o atacante do Manchester City aproveitou contra-ataque puxado desde o campo de defesa, se livrou da marcação e marcou o segundo. Essa eficiência do time de Lionel Scaloni no ataque foi um dos pontos fundamentais da equipe nesta terça-feira (13). E isso tudo com todo o time jogando para que Lionel Messi pudesse decidir as coisas lá na frente com mais liberdade de circulação por todo o campo e sem tantas obrigações defensivas.

O grande mérito da Argentina foi entender que o sistema defensivo começa lá na frente, com os atacantes tirando o espaço na saída de bola. Isso também ajuda a explicar a escalação de “quatro volantes” no meio-campo da Albiceleste e o papel fundamental de Julián Álvarez nesse processo. Percebendo que Zlatko Dalic abriu a Croácia com a entrada de Bruno Petkovic no lugar de Brozovic, Lionel Scaloni respondeu sacando Paredes e mandando Lisandro Martínez para o jogo. Ao invés do 4-4-2, um 5-3-2 de muita marcação e que foi ainda mais eficiente em isolar o ataque croata do meio-campo. Enzo Fernández guardou mais sua posição e Messi teve ainda mais liberdade para armar as jogadas.

Bruno Petkovic no lugar de Brozovic no segundo tempo, mas a Argentina se fechou com Lisandro Martínez formando uma linha de cinco jogadores na defesa. Foto: Reprodução / YouTube / Cazé TV

Ainda haveria tempo para Lionel Messi fazer jogada de gênio pela direita e rolar para Julián Álvarez fechar o placar no Estádio Lusail. A Argentina se garantia na final da Copa do Mundo com méritos e mostrando o que faltou no Brasil de Tite na última sexta-feira (9). Maior aproveitamento das chances criadas, melhor leitura do que o jogo mostrava, mais cuidado com o trabalho sem a bola e PRINCIPALMENTE mais força mental para enfrentar cada situação de jogo. Esse último ponto, na humilde opinião deste que escreve, se tornou o grande erro da Seleção Brasileira. A impressão que ficava era a de que o time não parecia pronto para enfrentar e encarar cenários adversos. Muito menos a derrota.

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Mas vale fazer um questionamento. Qual seria a nossa reação se Tite escalasse um meio de mais força e deixasse Vinícius Júnior ou Richarlison no banco para enfrentar a Croácia? Será que estamos realmente prontos para entender o trabalho de um treinador ou só ficaríamos nas reclamações sobre o “desrespeito ao futebol brasileiro”? Ficam as lições e o aprendizado para o próximo ciclo com o show de jogo coletivo e comprometimento concedido pela Argentina de Lionel Messi.

https://twitter.com/Argentina/status/1602790793529511937