Home Futebol Encaixe de Marta e busca pela dupla de volantes “quase perfeita” são as grandes missões de Pia Sundhage

Encaixe de Marta e busca pela dupla de volantes “quase perfeita” são as grandes missões de Pia Sundhage

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a convocação da Seleção Feminina para a disputa da She Believes Cup

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Ao contrário de outras ocasiões, a primeria convocação da Seleção Feminina em 2023 trouxe mais respostas do que perguntas. A lista de 23 atletas convocadas para a disputa da She Believes Cup (entre os dias 13 e 22 de fevereiro) aponta para a manutenção da linha de trabalho e para a base que conquistou a Copa América Feminina no ano passado e disputou a grande maioria dos amistosos. Por outro lado, está claro que Pia sundhage tem duas grandes missões nesse início de ano. Encontrar a “dupla de volantes perfeita” na ausência de Duda Sampaio e Angelina e encaixar Marta sem que a Seleção Feminina perca o equilíbrio. Não é algo simples de ser feito. As convocadas são as seguintes:

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GOLEIRAS => Lelê (Corinthians), Lorena (Grêmio) e Luciana (Ferroviária)
LATERAIS => Bruninha (NJ/NY Gotham/EUA), Yasmim e Tamires (Corinthians)
ZAGUEIRAS => Tainara (Bayern de Munique/ALE), Rafaelle (Arsenal/ING), Kathellen (Real Madrid/ESP), Lauren (Madrid CFF/ESP) e Tarciane (Corinthians)
MEIO-CAMPISTAS => Adriana (Orlando Pride/EUA), Ary Borges (Racing Louisville/EUA), Ana Vitória (Benfica/POR), Júlia Bianchi (Chicago Red Stars/EUA) e Kerolin (North Carolina Courage/EUA)
ATACANTES => Bia Zaneratto (Palmeiras), Geyse (Barcelona/ESP), Gabi Nunes (Madrid CFF/ESP), Debinha (Kansas FC/EUA), Nycole Raysla (Benfica/POR), Ludmila (Atlético de Madrid/ESP) e Marta (Orlando Pride/EUA)

O retorno de Marta depois de um longo período se recuperando de grave lesão no joelho talvez seja a grande notícia dessa convocação da Seleção Feminina. Mesmo com mais idade e já sem a explosão dos anos áureos, nossa Rainha ainda impõe respeito e pode contribuir muito como liderança técnica dentro de campo, como se fosse uma representante de Pia Sundhage entre as jogadoras. Aliás, é muito difícil que Marta esteja fora do time titular quando recuperar a forma física. Diante disso, o encaixe da camisa 10 dentro do esquema tático da treinadora sueca passa a ser o grande X da questão. Muito por conta das características que a Seleção Feminina foi desenvolvendo ao longo dos últimos meses.

De fato, o grande X da questão nem está na escolha do desenho tático, mas na sua execução. Lembrem-se de que o melhor momento desse 4-4-2/4-2-4 com Marta em campo foi a goleada sobre a Argentina em amistoso realizado em setembro de 2021. Na ocasião, Pia Sundhage apostou numa atacante de referência (Nycole Raysla) jogando ao lado de Marta e manteve Debinha jogando pelo lado do campo. Apesar das semelhanças, a execução dos movimentos era um pouco diferente nessa formação. Houve quem visse um esboço de um 4-2-3-1 nesse jogo, mas este que escreve sempre enxergou no trabalho de Pia Sundhage a necessidade de se encaixar uma dupla de ataque por conta das características das nossas jogadoras.

O último jogo de Marta pelo Brasil foi o empate sem gols contra a Finlândia (válido pela última rodada do Torneio da França), no dia 22 de fevereiro de 2022. Pia Sundhage repetiu seu 4-4-2/4-2-4 costumeiro com Ana Vitória (substituta de Duda Francelino) e Angelina protegendo a zaga, Kerolin e Ary Borges pelas pontas e Marta e Debinha se revezando no comando de ataque. A Seleção Feminina tinha organização, mas sofria com a afobação e os erros nas tomadas de decisão. A falta de uma referência no setor ofensivo bagunçou um pouco a Seleção Feminina, mas não tirou o ímpeto ofensivo. Conforme Pia bateu na tecla várias e várias vezes, faltava mais calma na hora das tomadas de decisão.

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Marta jogou ao lado de Debinha no 4-4-2/4-1-3-2 de Pia Sundhage no empate contra a Finlândia. O Brasil pecou muito nas tomadas de decisão. Foto: Reprodução / SPORTV / GE

Pia Sundhage ainda fez testes em outros amistosos. Na goleada sobre a Noruega, por exemplo, a treinadora sueca apostou num 4-1-3-2 com Duda Sampaio mais fixa e Ary Borges pisando na área. Já nas duas vitória sobre a África do Sul, Pia apostou em Antônia como zagueira pela direita, Jaqueline e Tamires nas alas e Adriana, Debinha e Bia Zaneratto formando o trio ofensivo de um 3-4-1-2 bem interessante e que poderia ter sido mais testado. Notem que todas as escolhas táticas da Seleção Feminina partem das volantes à disposição. Para sustentar a dupla de ataque, é preciso jogar com uma dupla de volantes “quase perfeita”, isto é, que cubra grandes espaços sem desproteger a última linha.

Pia Sundhage testou um 3-4-1-2 nas partidas contra a África do Sul com Antônia mais fixa, Jaqueline e Tamires nas alas e um trio ofensivo bastante móvel. Foto: Reprodução / SPORTV

Não é difícil concluir que o encaixe perfeito de Marta na Seleção Feminina passa diretamente pela escolha certeira da dupla de volantes. Enquanto Duda Sampaio e Angelina não se recuperam das suas lesões, a tendência é que Pia Sundhage aposte em Ana Vitória ou Júlia Bianchi jogando ao lado de Ary Borges nesse setor. A dúvida ficaria sobre a jogadora que deixaria o time titular para a entrada de Marta. Este que escreve não acredita que Pia vá abrir mão de Debinha (talvez a atleta que mais tenha se destacado sob seu comando) ou até mesmo Bia Zaneratto (a melhor jogadora em atividade na América do Sul na temporada passada). E ainda há Geyse, nome que vem se destacando muito no Barcelona.

Está mais do que claro que Pia precisa fazer escolhas difíceis. Mas é possível imaginar a Seleção Feminina entrando em campo no 4-4-2/4-2-4 costumeiro da treinadora sueca, mas que se organize no 3-4-1-2 mencionado anteriormente. Ainda que Geyse fique de fora num primeiro momento, Bia Zaneratto pode jogar mais avançada com Debinha voltando pela esquerda e Kerolin cobrindo o lado direito. Mais atrás, Ana Vitória e Ary Borges dariam a sustentação e a qualidade na saída de bola tão desejada por Pia Sundhage na sua equipe. Com Marta livre de obrigações defensivas, o time não perderia o equilíbrio defensivo e nem a contundência no ataque com um trio ofensivo de muita mobilidade.

É possível pensar na Seleção Feminina jogando num 4-4-2/3-4-1-2 usando movimentos simples e muita intensidade nas transições. Tudo para liberar Marta de obrigações defensivas.

É lógico que Pia Sundhage já deve ter um plano em mente para a disputa da She Believes Cup. As opções por Kerolin e Ary Borges na “volância” nos jogos contra o Canadá no final do ano passado surpreenderam muita gente de maneira positiva. E nada impede que ela tire outras cartas da manga nessas próximas três partidas nos Estados Unidos. Mesmo sem ter Marta na plenitude da forma e sem ter suas volantes preferidas à disposição. Mesmo assim, os próximos compromissos da Seleção Feminina devem elevar ainda mais o sarrafo e sanar aas últimas dúvidas da treinadora sueca na montagem do grupo que irá para a Copa do Mundo no meio do ano. Na prática, Pia vai separar o joio do trigo nessa data-FIFA. Podem acreditar.

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