Home Futebol Real Madrid confirma favoritismo diante do Al Ahly, mas jogo foi muito menos tranquilo que parece

Real Madrid confirma favoritismo diante do Al Ahly, mas jogo foi muito menos tranquilo que parece

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a partida desta quarta-feira (8) e projeta a grande final do Mundial de Clubes

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Aqueles que viram apenas o placar final do confronto desta quarta-feira (8) podem pensar que o Real Madrid não teve lá muitos problemas para superar o Al Ahly e se garantir na final do Mundial de Clubes. Só que as coisas não funcionaram desse jeito lá no Estádio Príncipe Moulay Abdellah. O maior campeão africano da história mostrou organização, alto nível de competitividade e poderia até ter complicado de vez a vida do time de Carlo Ancelotti se não fossem as defesas do goleiro Lunin e as falhas nas conclusões a gol. Acabou que o Real Madrid confirmou seu favoritismo através do peso da camisa e do talento individual de Modric, Vinícius Júnior e Rodrygo.

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A atuação coletiva do Al Ahly é digna de aplausos. Quem pensava que o escrete comandado pelo suíço Marcel Koller fosse apenas se fechar na defesa e esperar seu forte adversário se deparou com um time que marcava forte e alternava o bloco mais baixo com muita ousadia nas trocas de passe. O 4-4-2 tinha nos pontas Abdelkader e El Shahat a válvula de escape para chegar na área do Real Madrid sempre em alta velocidade. Sherif abria espaços para a circulação de Afsha, o grande articulador de jogadas no time egípcio. Desfalcado e com improvisações nas laterais, o Real Madrid tentava se virar com Rodrygo atuando como “falso nove” na frente de Modric, Vinícius Júnior e Valverde.

Formação inicial das duas equipes em Rabat. O Al Ahly se fechava na marcação e saía para o ataque sempre com velocidade. O Real Madrid demorou para impor seu jogo.

É óbvio que o contexto do jogo deixava o time de Carlo Ancelotti mais dependente do talento dos seus jogadores, ponto que ajuda a explicar a insistência nas bolas longas para Vinícius Júnior e a busca por espaço entrelinhas feita por Rodrygo e Modric. Isso porque o Al Ahly se fechava muito bem na frente da área do goleiro El-Shenawy e ainda exercia uma forte pressão no portador da bola para retomar a posse e acelerar com o quarteto ofensivo. Destaque também para a dupla de volantes formada por Dieng e El Solia, precisos nos saltos e na cobertura dos laterais Hany e Maaloul. Tudo para fechar as saídas do Real Madrid e impedir que a bola chegasse no setor ofensivo.

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O Al Ahly se fechava com duas linhas na frente da área e muita pressão no portador da bola. Isso dificultou demais a vida do Real Madrid. Foto: Reprodução / YouTube / Cazé TV

É óbvio que escrete madrilenho foram controlando o jogo aos poucos, mas sem ameaçar muito a meta de El-Shenawy. As chances só começaram a aparecer de verdade na segunda metade da primeira etapa com Vinícius Júnior, Valverde e Rodrygo. Mesmo assim, o Al Ahly não se limitava a ficar na defesa. O time de Marcel Koller saía para o jogo e levava perigo quando acelerava pra cima de Kamavinga no lado direito de ataque. Na prática, o Real Madrid só se tranquilizou mesmo quando Vinícius Júnior aproveitou vacilo de Metwaly na saída de bola e abriu o placar no Estádio Príncipe Moulay Abdellah. E logo no começo da segunda etapa, Valverde fez o segundo em jogada iniciada por Modric.

Só que o Al Ahly não se intimidou com a vantagem do adversário no marcador e manteve o plano de jogo. Muita pressão na saída de bola e alta intensidade nas transições para vencer Tchouaméni na proteção da zaga e tirar o espaço de Kroos na saída de bola. Marcel Koller deu fôlego novo ao seu time com as entradas de Percy Tau e Fathi nos lugares de Dieng e Sherif e viu as esperanças da sua equipe renascerem com o pênalti tolo de Camavinga em El Shahat. O lateral Maaloul cobrou com categoria e incendiou o jogo em Rabat. Taher Mohamed e Afsha desperdiçaram chances incríveis de empatar quando o Al Ahly já encaixava a marcação na saída de bola do Real Madrid. Bom jogo do time egípcio.

Depois de diminuir o placar com Maaloul aos 19 minutos, o Al ahly subiu as linhas e encaixou a marcação na saída de bola do Real Madrid. Foto: Reprodução / YouTube / Cazé TV

Sabendo que sua equipe precisava de fôlego novo, Carlo Ancelotti sacou Toni Kroos e mandou Ceballos para o jogo. A entrada do camisa 19 fez com que Modric (que perdeu um pênalti aos 41 minutos do segundo tempo) recuasse mais para armar o jogo (ao lado de Tchouaméni) e deu ainda mais liberdade para Valverde, Vinícius Júnior e Rodrygo. Aliás, o camisa 21 foi o grande nome da partida (na humilde opinião deste que escreve) não somente pelo golaço marcado aos 48 minutos, mas pelo papel importantíssimo que desempenhou como um “nove” que joga como um “dez” no ataque do Real Madrid. Acabou que o time comandado por Ancelotti descomplicou as coisas quando acelerou e acertou os passes.

A entrada de Ceballos deu mais fôlego para o Real Madrid e deu mais liberdade para Modric (fora do frame) e Rodrygo desequilibrarem no ataque. Foto: Reprodução / YouTube / Cazé TV

Ainda houve tempo para o jovem Arribas marcar o quarto gol do Real Madrid no seu primeiro toque na bola. Apesar da goleada no Estádio Príncipe Moulay Abdellah e da clara superioridade técnica do time espanhol, precisamos reconhecer que o Al Ahly teve uma ótima atuação e chegou até a competir no mesmo nível do seu adversário em alguns momentos do jogo desta quarta-feira (8). Sobre a decisão do Mundial de Clubes, é bem possível que o escrete comandado por Carlo Ancelotti leve certa vantagem sobre um Al-Hilal organizado e empolgado após a vitória sobre o Flamengo. Difícil imaginar que o escrete saudita possa pregar mais uma peça. Mas este que escreve não duvida mais de nada.

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E a grande verdade é que esse Mundial deixa bem claro que os clubes europeus ainda levam ampla vantagem sobre o resto do mundo por conta de uma série de fatores econômicos, sociais e políticos. Por outro lado, ver equipes como Al Ahly, Al-Hilal, Tigres, Wydad Casablanca e outras diminuindo essas distâncias e jogando em altíssimo nível deixa sim uma certa esperança de que as coisas podem melhorar num futuro nem tão distante assim. Ainda mais com um mundo tão conectado e com tanto acesso a conhecimento como nunca vimos.