Home Futebol Conheça as ideias, os conceitos e o estilo de jogo de Pepa, novo técnico do Cruzeiro

Conheça as ideias, os conceitos e o estilo de jogo de Pepa, novo técnico do Cruzeiro

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca a flisofia de jogo do treinador português e explica como ele monta suas equipes

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Anunciado na última segunda-feira (20), o português Pedro Miguel Marques da Costa Filipe (o Pepa) chega ao Cruzeiro com a missão de recolocar a equipe nos trilhos num cenário não muito favorável. Além da saída de Paulo Pezzolano, a Raposa convive com a saída de jogadores que foram importantíssimos na conquista da Série B no ano passado e com as conhecidas dificuldades financeiras. Pepa tem 42 anos e boas passagens por times como Paços de Ferreira e Vitória de Guimarães. Não é o tipo de treinador que tem ideias fixas e inegociáveis. Muito pelo contrário. Alguns conceitos se repetem nas suas equipes, mas ele é conhecido pela flexibilidade e por se adaptar às características dos jogadores.

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Essa característica não deixa de ser um ponto a seu favor nessa chegada ao Cruzeiro (seu maior desafio profissional até o momento). Ainda mais diante da mudança no comando técnico da Raposa e da necessidade de se dar uma resposta para a eliminação no Campeonato Mineiro. Pepa é maleável e mostrou que sabe extrair o melhor de cada jogador. Só o tempo irá dizer se o português foi a melhor escolha para assumir o comando do escrete celeste. Mas é preciso deixar bem claro que a aposta da diretoria cruzeirense parece ter lógica e um mínimo de critério diante de todo o cenário descrito anteriormente.

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Pepa usa basicamente duas formações nas suas equipes. O 4-2-3-1 (desenho mais utilizado no Al-Tai da Arábia Saudita) e o 4-3-3/4-1-4-1 (bastante usado no Paços de Ferreira e no Vitória de Guimarães). Marcação em bloco baixo com um volante de muita movimentação e um centroavante muito ativo no campo ofensivo (seja nos lançamentos para fazer o pivô ou receber na área para a finalização a gol). Num contexto geral, suas equipes apresentam bom desempenho. Na edição de 2020/21 do Campeonato Português, Pepa levou o modesto Paços de Ferreira a um honroso quinto lugar na classificação geral.

Pepa gosta de montar suas equipes no 4-2-3-1 ou no 4-3-3. O “5” e o “9” possuem funções específicas dentro do modelo de jogo do português. Foto: Reprodução / VSPORTS – Liga Portugal

Independente do desenho tático inicial, Pepa gosta que seus volantes (geralmente o “5”) desça para fazer a saída de bola entre os zagueiros. Naturalmente, esses jogadores precisam ter muito bom passe e ótima visão de jogo para encontrar os espaços na defesa adversária e ainda se livrar da pressão adversária. Com isso, os laterais sobem e também adotam funções distintas dependendo das suas características. Um pode se transformar em ponta e outro em mais um jogador na criação. Tudo depende do material humano à disposição. Essa “saída de três” desde a defesa é um dos pontos mais batidos e mais cobrados por Pepa nas suas equipes. Mas as ligações diretas não estão proibidas.

O “5” desce entre os zagueiros para iniciar a saída de bola. Os laterais sobem e podem virar atacantes ou ajudar na criação das jogadas. Foto: Reprodução / VSPORTS – Liga Portugal

Seja no Paços de Ferreira, no Vitória de Guimarães ou até mesmo no Al-Tai, Pepa gostava de deixar sua marca em determinados pontos. A organização com a bola é uma dessas marcas. E conforme mencionado anteriormente, a formação inicial é o menos importante. O treinador português gosta de equipes verticais, de muita intensidade e que sempre procurem o espaço na defesa adversária. Por conta da “saída de três” com o volante descendo entre os zagueiros, é mais do que natural que o jogo pelos lados seja reforçado com essa variação na disposição dos jogadores em transição ofensiva.

Notem que não existe um padrão rígido, mas as equipes de Pepa se organizavam num 3-2-5 com a posse da bola. A ideia da linha ofensiva é empurrar a defesa adversária para trás e abrir espaços para a circulação dos jogadores. Nesse ponto, o centroavante tem um papel fundamental, seja na preparação das jogadas no pivô ou no ataque da área para receber o cruzamento. Nada impede uma ligação direta ou um jogo mais pelo chão com tabelas e passes curtos. Como falado anteriormente, Pepa é o tipo de jogador que se adapta ao elenco que tem. Mas esse padrão é uma de suas marcas nas equipes por onde passou.

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As equipes de Pepa se organizam num 3-2-5 quando tinham a bola. A linha ofensiva tem a missão de empurrar a defesa adversária para trás. Foto: Reprodução / VSPORTS – Liga Portugal

Mas talvez uma das grandes características do estilo de jogo de Pepa seja a pressão pós-perda que pode ser resumida na frase: “Perdeu? Reage! Reage que a magia vem depois!” num vídeo que ficou famoso na internet. Como o próprio já comentou em ótima entrevista concedida ao Footure (podem seguir os caras sem medo que eles são sinistros!), essa agressividade na pressão é uma das marcas registradas do seu estilo de jogo e um dos pouquíssimos pontos inegociáveis na sua filosofia. Todos os seus times sempre reagiam rápido sempre que perdiam a posse da bola. Até com faltas se fosse necessário. Mas o objetivo era claro: retomar a posse o mais cedo possível e reiniciar as jogadas ofensivas.

A pressão pós-perda agressiva é um dos pontos inegociáveis na filosofia de Pepa. Reagir rápido, retomar a posse da bola e seguir atacando. Foto: Reprodução / VSPORTS – Liga Portugal

Este que escreve ainda prefere esperar um pouco para saber se Pepa foi uma “bola dentro” da diretoria celeste. Isso porque ainda existem muitos fatores que influenciam no trabalho do português e de qualquer outro treinador que chegue aqui por estas bandas. Temos um calendário inchado, viagens longas e uma cobrança insana por resultados imediatos. Eu e você sabemos que o futebol não é mágica e que as todo o processo de entendimento entre comissão técnica e jogadores precisa de tempo para acontecer de fato. Por outro lado, a escolha por um treinador mais maleável e disposto a se adaptar ao elenco que vai encontrar pode sim ser um acerto. Ainda mais depois da saída de Paulo Pezzolano.

Antes de ser anunciado oficialmente como técnico do Cruzeiro, Pepa concedeu uma entrevista ao Footure, a adaptação às características dos jogadores é fundamental. Deixo abaixo um trecho que resume bem a filosofia do novo treinador da Raposa. Talvez esse seja o indício mais forte de que a diretoria procurava alguém com essa capacidade de adaptação rápida a todo tipo de cenário. Resta saber somente se Pepa terá tempo e paciência para implementar seus conceitos. No entanto, diante do que temos visto aqui no Brasil, torcedores, dirigentes e imprensa não andam muito pacientes não…