Home Futebol Entenda quais são as diferenças entre o Botafogo que joga o Brasileirão e o que joga a Copa Sul-Americana

Entenda quais são as diferenças entre o Botafogo que joga o Brasileirão e o que joga a Copa Sul-Americana

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa o trabalho de Bruno Lage até o momento e a atuação contra o Defensa Y Justicia

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

É possivel dizer sim que a saída conturbada de Luís Castro e a chegada de Bruno Lage ainda reverbera no Botafogo. Nem tanto pelos resultados, mas pelas diferença entre os dois treinadores o que é natural. Por outro lado, essa mudança no comando técnico do Glorioso e as escolhas do novo comandante já começam a deixar algumas dúvidas no torcedor alvinegro. A principal delas está na diferença das atuações do time no Brasileirão (onde o Botafogo lidera com folga) e na Copa Sul-Americana. O empate contra o Defensa Y Justicia dentro de casa levantou esse questionamento na coletiva após o jogo desta quarta-feira (23). Afinal de contas, o que acontece com o Glorioso?

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É bom lembrar que o Botafogo disputou nove partidas sob o comando de Bruno Lage, com três vitórias e seis empates. É um recorte ainda muito pequeno para se avaliar com mais profundidade o trabalho do treinador alvinegro apesar das claras diferenças no estilo de jogo. Ao invés do time de transição rápida e muita força pelos lados do campo, um time mais lento e que privilegia mais a posse da bola. Não deixa de ser um momento de adaptação dos jogadores aos conceitos de Bruno Lage e também do português para com o elenco. É mais do que natural que os atletas sintam a diferença e também o cansaço da temporada desgastante e as oscilações normais que sempre acontecem.

Bruno Lage mandou o Botafogo a campo contra o Defensa Y Justicia jogando num 4-2-3-1 com Tchê Tchê, Gabriel Pires e Danilo Barbosa no meio-campo, Lucas Fernandes próximo de Matheus Nascimento e Victor Sá jogando na sua pelo lado esquerdo. Pelo menos para este que escreve, o treinador português queria que o camisa 6 fizesse o papel de um meio-campista pela direita e buscasse as associações com o improvisado JP Galvão no setor. No entanto, o time como um todo sentiu um pouco a falta de um jogador que abrisse o campo e desse mais profundidade pelo lado direito de ataque. As coisas melhoravam quando o escrete alvinegro buscava o jogo pela esquerda com Hugo e Victor Sá.

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Formação inicial das duas equipes. Bruno Lage apostou num 4-2-3-1 com Tchê Tchê, Gabriel Pires e Danilo Barbosa no meio-campo e Matheus Nascimento no comando de ataque.

As diferenças entre o Botafogo do Brasileirão e o da Copa Sul-Americana começam na escalação. Bruno Lage mandou apenas três titulares para o jogo desta quarta-feira (23) e apostou num desenho tático que já se mostrou ineficiente com Luís Castro. É mais do que natural os atletas sintam a diferença e demorem para se achar em campo. Por mais que o time tentasse manter a posse da bola e encontrasse espaços, o que se via era um Tchê Tchê que centralizava demais as jogadas e transformava o 4-2-3-1 em algo próximo de um 4-3-1-2 (meio em losango). Com isso, o time acabava sempre embolando as jogadas por dentro e perdendo a chance de aproveitar os espaços que apareciam.

Com Tchê Tchê buscando mais o centro e Lucas Fernandes logo atrás de Matheus Nascimento, o Botafogo jogou com um losango no meio. Foto: Reprodução / YouTube / Paramount+ Brasil

Notem que o Botafogo melhorou na partida quando Bruno Lage mandou Luis Henrique e Diego Costa para o jogo. O time ganhou um pouco mais de agressividade e recuperou um pouco do estilo que tinha com o camisa 19 saindo mais da área e abrindo espaço para a chegada de Lucas Fernandes e Tchê Tchê nas costas da linha defensiva adversária. A entrada de Júnior Santos na metade da segunda etapa deixou o Glorioso mais parecido com o time de Luís Castro. Faltou, no entanto, o capricho que Gabriel Pires teve no lance do único gol do Glorioso na partida para construir uma boa vantagem dentro do Estádio Nilton Santos. E isso acabaria sendo fatal já quando o jogo se encaminhava para o final.

Luis Henrique e Diego Costa deixaram o Botafogo mais agressivo na segunda etapa. O estilo de jogo se assemelhou ao de Luís Castro. Foto: Reprodução / YouTube / Paramount+ Brasil

Conforme o tempo foi passando, no entanto, o time foi sentindo a diferença e o peso da partida. Tanto que o sistema defensivo começou a ceder espaços demais para quem tem números tão bons no Brasileirão (apenas onze gols sofridos em vinte partidas). Pode ser por conta dos reservas que não conseguiam manter o ritmo mais forte ou até mesmo por um relaxamento natural do time alvinegro, o Defensa Y Justicia construiu a jogada do seu único gol na partida aproveitando o espaço entre a última linha e o meio-campo. Some isso ao rebote que Gatito Fernández soltou e na sequência de lambanças que resultou no gol de Tripichio. Lance inusitado para quem vinha fazendo boa partida.

Danilo Barbosa, Tchê Tchê e Lucas Fernandes não fecham o espaço na frente da área. A falta de compactação seria fatal para o Botafogo. Foto: Reprodução / YouTube / Paramount+ Brasil

Depois do empate desta quarta-feira (23), o torcedor alvinegro e boa parte da imprensa esportiva se perguntam por que o Botafogo que disputa a Sul-Americana não apresenta a mesma consistência daquele que lidera o Brasileirão. Isso pode ser explicado por alguns fatores. O mais óbvio é a utilização dos reservas na competição internacional. A queda de rendimento e os problemas na execução das ideias de Bruno Lage são até esperados. E o segundo é a necessidade de adaptação dos jogadores às ideias do treinador. Há diferenças no Botafogo que joga hoje para aquele que foi comandado por Luís Castro. E é preciso tempo para assimilar tudo. Tempo e paciência.

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E ainda há outra questão importante. É óbvio que o torcedor deseja ver em campo o Botafogo avassalador do Brasileirão em todas as partidas. No entanto, além de tudo que foi colocado anteriormente, ainda existe o preço a ser pago pela temporada insana e pela sequência de jogos. Fora a oscilação natural que cada equipe tem durante todo um ano. Este que escreve não vê muitos motivos para preocupação apesar da queda de rendimento vista nas últimas partidas. Mesmo assim, é bom não facilitar a vida de quem está na “caça” ao Glorioso.