Home Futebol Copa Sul-Americana: Fortaleza se impõe sobre o Corinthians e encontra na sintonia com a torcida a sua maior aliada

Copa Sul-Americana: Fortaleza se impõe sobre o Corinthians e encontra na sintonia com a torcida a sua maior aliada

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a partida desta terça-feira (3) e as escolhas de Mano Menezes e Juan Pablo Vojvoda

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Não é exagero nenhum afirmar que o Fortaleza escreveu talvez a mais bela página de sua centenária história nesta terça-feira (3). Não somente por conta da vitória sobre o Corinthians e a consequente classificação para a grande final da Copa Sul-Americana, mas por tudo que eu e você vimos na capital cearense. A equipe comandada por Juan Pablo Vojvoda se impôs pra cima de um adversário frágil e sem brilho e encontrou o seu maior aliado na incrível sintonia com os mais de sessenta mil torcedores presentes na Arena Castelão. Os dois a zero (com gols de Yago Pikachu e Tinga) deixaram o Leão do Pici muito mais próximo de um feito ainda inédito para o pulsante futebol nordestino.

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Pelos lados da equipe comandada por Mano Menezes (que fazia seu primeiro jogo à frente da equipe na beira do gramado), o que se via era o retrato da temporada desastrosa do clube. Por mais que se falasse em história e “peso de camisa”, o que mais se fazia presente nessa semifinal de Copa Sul-Americana era o bom futebol do Fortaleza e a inércia de um Corinthians que visivelmente se apoiava na estrela do goleiro Cássio numa possível disputa de penalidades. Difícil esperar outro resultado que não fosse a vitória do Leão do Pici. Pela atmosfera na Arena Castelão e pelo futebol apresentado pelos dois times.

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Vale lembrar que o Fortaleza vive um momento muito melhor e que o Corinthians já havia sofrido bastante na partida de ida, realizada na Neo Química Arena. Ao contrário do que alguns pensavam, não deixava de ser um prenúncio do que estaria por vir nesta terça-feira (3) por conta da maneira como a equipe de Juan Pablo Vojvoda se comportou numa atmosfera completamente adversa. E o que se viu na capital cearense foi uma atuação segura (com alguns pequenos sustos durante os noventa e poucos minutos de partida) e a imposição física e técnica da equipe que jogou o melhor futebol da noite. Simples assim.

Na sua primeira partida no comando da equipe corintiana, Mano Menezes apostou no seu 4-2-3-1 costumeiro com Matías Rojas e Romero pelos lados do campo, Renato Augusto jogando logo atrás de Yuri Alberto e Gabriel Moscardo e Maycon protegendo a última linha. Nem é preciso ser expert no velho e rude esporte bretão para concluir de início que o 4-4-2/4-2-3-1 do Fortaleza encontrou espaços generosos às costas de Fagner e Fábio Santos. Principalmente pelo lado do camisa seis, onde Pochettino, Yago Pikachu e Tinga encontravam espaço demais. Do outro lado, Guilherme abria o corredor para Bruno Pacheco e também explorava a lentidão de Fagner e Gil na cobertura defensiva.

Formação das duas equipes na Arena Castelão. O Fortaleza encontrou muito espaço para jogar pelos lados e na frente da área e explorou a falta de combatividade da última linha de defesa do Corinthians.
Formação das duas equipes na Arena Castelão. O Fortaleza encontrou espaço para jogar pelos lados e na frente da área e explorou a falta de combatividade da defesa do Corinthians.

Tirando uma boa chance desperdiçada por Yuri Alberto aos dezenove minutos do primeiro tempo, o Fortaleza dominou completamente as ações do jogo com boa movimentação e muita intensidade na marcação desde o campo de ataque. Tomás Pochettino se aproximava de Lucero por dentro e abria espaços para as chegadas dos volantes José Welison e Caio Alexandre (os dois simplesmente impecáveis em todos os quesitos e em todos os lances). Um pouco mais à frente, Guilherme abria o corredor para as descidas de Bruno Pacheco às costas de Fagner e Yago Pikachu participava da criação no meio-campo e deixava Tinga um pouco mais recuado pelo lado direito (mas sem se prender na defesa).

O Fortaleza foi empurrando o Corinthians para trás e se impondo no campo de ataque. Yago Pikachu, Guilherme e Bruno Pacheco exploravam bem os lados do campo. Foto: Reprodução / YouTube / SBT Sports
O Fortaleza empurrou o Corinthians para trás e se impôs no ataque. Yago Pikachu, Guilherme e Bruno Pacheco exploravam os lados do campo. Foto: Reprodução / YouTube / SBT Sports

A grande sacada do Fortaleza na partida desta terça-feira (3) foi identificar e explorar bem as deficiências do Corinthians, seja numa marcação mais alta ou num bloco mais baixo. E nesse ponto, Juan Pablo Vojvoda começou a vencer o “duelo tático” com Mano Menezes quando entendeu que precisava tirar o espaço de circulação do meio-campo adversário. Yago Pikachu, José Welison (este saltando mais para a pressão), Caio Alexandre e Guilherme fechavam as linhas de passe e obrigavam a defesa corintiana a apelar par as ligações diretas. Além disso, Lucero e Pochettino estavam bem atentos aos erros na saída de bola. Renato Augusto e Yuri Alberto acabaram encaixotados no campo ofensivo.

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Lucero e Tomás Pochettino saltam e José Welison avança para tirar o espaço de circulação de Gabriel Moscardo e Maycon. O Fortaleza esteve muito bem na defesa. Foto: Reprodução / YouTube / SBT Sports
Lucero e Tomás Pochettino saltam e José Welison avança para tirar o espaço de Gabriel Moscardo e Maycon. O Fortaleza esteve muito bem na defesa. Foto: Reprodução / YouTube / SBT Sports

A ansiedade da primeira etapa deu lugar ao alívio com os gols marcados por Yago Pikachu e Tinga logo no início do segundo. Com a vantagem no placar, o Fortaleza foi apenas administrando o resultado e expondo ainda mais a falta de ideias de um Corinthians que ainda precisa de tempo para se acertar com os conceitos de Mano Menezes. A entrada de Pedro Augusto e Machuca nos lugares de Guilherme e Pochettino deram mais consistência defensiva ao Leão do Pici que passou a jogar num 4-1-4-1. Já o Corinthians (mesmo com Wesley e Giuliano em campo), acabou se bagunçando ainda mais e sofrendo com a falta de movimentação no terço final. Faltou fôlego, criatividade e intensidade no Timão.

Pedro Henrique entrou no lugar de Guilherme e ajudou a reforçar o sistema defensivo. O Corinthians tentou algo diferente com Giuliano e Wesley, mas sem sucesso. Foto: Reprodução / YouTube / SBT Sports
Pedro Henrique entrou no jogo e ajudou a reforçar o sistema defensivo. O Corinthians tentou algo diferente com Giuliano e Wesley, mas sem sucesso. Foto: Reprodução / YouTube / SBT Sports

Além da superioridade tática e técnica nas duas partidas das semifinais da Copa Sul-Americana, o Fortaleza reencontrou aquela que é sua maior aliada desde os anos difíceis na Série C e caminhada até a primeira final internacional da sua história: a sintonia com a sua torcida. Difícil não ver na atmosfera criada na Arena Castelão uma espécie de décimo-segundo jogador que incomodou bastante o já combalido time do Corinthians. Yago Pikachu, Tite, João Ricardo, Guilherme, Caio Alexandre, José Welison, Brítez, todo o elenco do Leão do Pici se agigantou por conta da força do torcedor tricolor. Lembrem que estamos falando da época mais vitoriosa da história do clube. Sem exagero nenhum.

A torcida deste que escreve fica pela conquista do título. Não somente pelo Fortaleza, mas por todo o futebol nordestino, sempre subestimado, diminuído colocado em segundo plano nos principais programas esportivos das nossas emissoras de rádio e televisão. A caminhada do Leão do Pici até a final do dia 28 de outubro é digna de filme. Assim como o trabalho de Juan Pablo Vojvoda merece virar tema de estudo em várias escolas de treinadores. Mas é a conexão com a fanática torcida tricolor que mais chama a atenção deste que escreve pela sintonia e pelo desejo de colocar o clube no mesmo patamar dos grandes do país.