Home Futebol As virtudes e fraquezas do Aurora, adversário do Botafogo na Pré-Libertadores

As virtudes e fraquezas do Aurora, adversário do Botafogo na Pré-Libertadores

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a equipe comandada por Mauricio Soria e aponta possíveis caminhos para o Glorioso

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.
Aurora, adversário do Botafogo na Pré-Libertadores

Aurora é o adversário do Botafogo na Pré-Libertadores - Reprodução / Twitter / CONMEBOL Libertadores

O Botafogo inicia sua caminhada na Libertadores nesta quarta-feira (21) diante do Club Aurora. Além da altitude de Cochabamba (2.570 metros), na Bolívia, e da má fase que vem desde o final do ano passado, o Glorioso terá pela frente um adversário que merece atenção e cuidado por conta de todo o contexto.

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Não que os “Guerreros Celestes” joguem um futebol vistoso e sejam favoritos no confronto. Esse não foi o caso nem mesmo nas duas partidas contra o Melgar, pela primeira fase eliminatória da Libertadores. Só que a equipe comandada pelo técnico Mauricio Soria mostrou qualidade em determinados momentos e adota um estilo que incomoda bastante o escrete comandado pelo treinador Tiago Nunes. Principalmente nas transições feitas em alta velocidade para o ataque.

É óbvio que alguns nomes do Aurora merecem muita atenção como veremos a seguir. No entanto, o que mais preocupa é o estado dos nervos do elenco do Botafogo diante do maior desafio do clube nesse ano até o momento. Será preciso ter um nível de força mental que ainda não foi alcançado nesses últimos meses.

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Formação preferida, estilo de jogo e dificuldades no ataque

Muito do futebol do Aurora nesse início de Libertadores passa pela formação escolhida por Soria. Ele adota um estilo mais vertical e optou por um 3-5-2 mais vertical com variações para um 3-1-4-2 ou um 3-4-1-2 nos jogos contra o Melgar. O objetivo é fazer a bola girar com meio-campistas que marquem e criem, além de ganhar superioridade numérica com a subida dos alas junto da dupla de ataque mais móvel.

Equipe que venceu o Melgar no Estádio Félix Capriles. A aposta do técnico Mauricio Soria é num 3-1-4-2 vertical e com pequenas variações na formação inicial.
Equipe que venceu o Melgar no Estádio Félix Capriles. A aposta do técnico Mauricio Soria é num 3-1-4-2 vertical e com pequenas variações na formação inicial.

O Aurora é uma equipe que joga quase sempre em transição. E esse é um ponto que pode incomodar um pouco o Botafogo. Os atacantes Blanco e Jair Reinoso buscam a todo instante o espaço às costas da última linha. Ao mesmo tempo, dois dos meio-campistas se lançam entre as linhas adversárias para receber o passe e seguir na direção do gol. Nesse ponto, Amílcar Sánches, Martín Alaníz e Dario Torrico são fundamentais para abrir espaços.

A dupla de ataque ataca a profundidade e a trinca de meio-campistas se movimentam nas entrelinhas adversárias. Foto: Reprodução / YouTube / CONMEBOL Libertadores
A dupla de ataque ataca a profundidade e a trinca de meio-campistas se movimentam nas entrelinhas adversárias. Foto: Reprodução / YouTube / CONMEBOL Libertadores

Por jogar em transição, o Aurora depende muito do encaixe dos seus contra-ataques. Seja com Jair Reinoso, Blanco ou com o brasileiro Serginho atuando como uma espécie de “enganche” em determinadas situações, os “Guerreros Celestes” costumam pecar muito nas finalizações a gol e no último passe. Foi assim nas duas partidas contra o Melgar e também no Campeonato Boliviano, onde marcaram apenas 45 gols em 32 jogos.

Por jogar em transição e com bloco baixo, o Aurora depende muito das jogadas de contra-ataque para fazer gols. Foto: Reprodução / YouTube / CONMEBOL Libertadores
Por jogar em transição e com bloco baixo, o Aurora depende muito das jogadas de contra-ataque para fazer gols. Foto: Reprodução / YouTube / CONMEBOL Libertadores

Nas tramas ofensivas, vale destacar também o grandalhão Blanco nas jogadas de pivô e a movimentação colocada por Jair Reinoso a partir do lado direito (onde formou boa dupla com os alas Mauricio Cabral e Ramiro Ballivián nas partidas diante do Melgar). E seja com Dario Torrico, o promissor Carlos Sejas ou com o experiente Amílcar Sánchez, o meio-campo do Aurora se movimenta muito e sempre cria problemas diante de adversários mais distraídos.

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Linha de cinco na defesa, encaixes e perseguições curtas na marcação

Já o ponto forte do Aurora está no seu sistema defensivo. No “Bolivianão” do ano passado, a equipe de Mauricio Soria sofreu somente 31 gols nas 32 rodadas. Muito disso passa pela marcação por encaixes e perseguições curtas sempre que os “Guerreros Celestes” adiantam as suas linhas. A ideia é cortar as linhas de passe e forçar a ligação direta apesar dos problemas na compactação que aparecem sempre que os volantes saltam para a pressão.

O Aurora adianta a marcação e pressiona a saída de bola adversária, mas a falta de compactação abre espaços. Foto: Reprodução / YouTube / CONMEBOL Libertadores
O Aurora adianta a marcação e pressiona a saída de bola adversária, mas a falta de compactação abre espaços. Foto: Reprodução / YouTube / CONMEBOL Libertadores

Soria não tem vergonha nenhuma de “estacionar o ônibus” na frente da área quando necessário. No jogo de volta contra o Melgar (disputado em Arequipa), a equipe se fechou com uma linha de cinco jogadores à frente do goleiro David Akologo e contou com o auxílio dos três meio-campistas na contenção. Ainda que o Aurora tenha sofrido com o “abafa” da equipe peruana, a defesa se comportou bem enquanto teve onze em campo.

Linha de cinco defensores na frente da área e chegada dos três meio-campistas: o Aurora se defende num 5-3-2. Foto: Reprodução / YouTube / CONMEBOL Libertadores
Linha de cinco defensores na frente da área e chegada dos três meio-campistas: o Aurora se defende num 5-3-2. Foto: Reprodução / YouTube / CONMEBOL Libertadores

É bem verdade que o Aurora sofreu com as bolas esticadas às costas da defesa e também abriu buracos no meio-campo por conta de alguns problemas na recomposição. Mesmo assim, estamos falando de uma equipe que sabe usar os mais de 2,500 metros de altitude de Cochabamba e que sabe se defender bem quando necessário. Mesmo sendo considerada uma “zebra”, é preciso deixar claro que não estamos falando de um adversário fácil de ser batido.

Os caminhos para o Botafogo superar o Aurora (e a altitude de Cochabamba)

Fato é que o Botafogo tem muito mais time e qualidade. Resta saber se os jogadores vão estar concentrados o suficiente para superar a forte marcação adversária, controlar o fôlego na altitude e superar as adversidades que a partida de hoje vai trazer. É jogo para ter mais controle por dentro com Tiquinho Soares e Eduardo, além de apelar para a velocidade apenas “na boa” com Savarino e Victor Sá (que voltou a jogar bem quando posicionado mais à esquerda).

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Mas o grande adversário do Glorioso será ele mesmo. As últimas partidas nos mostraram uma equipe ainda sem confiança e sem a força mental necessária para colocar 2023 no passado de uma vez por todas. Se quiser mesmo a redenção, a Estrela Solitária terá que passar pelo Aurora sem sofrer muitos sustos. Há qualidade para isso. Resta saber se há nervos para tal.