Home Opinião Postura reativa da La Liga em evento não combina com conjunto de medidas de combate ao racismo

Postura reativa da La Liga em evento não combina com conjunto de medidas de combate ao racismo

Ausência de discussão específica sobre o assunto cria ruído em comunicação da liga espanhola no mercado brasileiro

Lucas Ayres
Jornalista no Torcedores.com desde 2021, sou editor responsável pela coordenação de toda a produção audiovisual do site desde 2022, além de produzir matérias especiais, entre entrevistas, coberturas de eventos e artigos analíticos. Completamente apaixonado por esportes, mas em especial por futebol, seja pela sua parte técnica e tática, seja pela sua parte humana, social e sociológica, trabalho na área do jornalismo de esportes desde que me formei, pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Passei pela Revista PLACAR, pela Premier League Brasil, pela Esportelândia e pela produção do programa "Esporte Record News", da Record News. No futebol, me especializo na cobertura dos seguintes campeonatos: Brasileirão Série A; Copa do Brasil; Copa Libertadores; Champions League; Premier League; La Liga; Campeonato Paulista. Também cubro basquete, em especial a NBA. Você pode conferir alguns dos meus melhores trabalhos aqui [https://lucasrayres.contently.com] e também um pouco do meu trabalho no audiovisual aqui [tiktok.com/@torcedorescom] e aqui [youtube.com/c/TVTorcedoresOficial/videos].
Representante da La Liga no Brasil, Daniel Alonso

Daniel Alonso, representante da LaLiga no Brasil, comentou o impacto dos casos de racismo na marca. (Créditos: Lucas Ayres / Torcedores.com)

É inegável o conjunto de medidas que a La Liga vem tomando desde a eclosão dos casos de racismo contra Vinícius Júnior na Espanha, que teve uma escalada em 2023, mas que são documentados ao menos desde 2021.

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O aplicativo e site LaLiga vs Racismo, um misto de hub de conteúdo institucional, divulgação de ações de conscientização e plataforma de denúncia de casos de racismo — além de um sistema de monitoramento de discurso de ódio nas redes —, é uma das iniciativas mais completas; a disponibilização de advogados para denunciantes e a promessa de acompanhamento dos processos nas justiças comum e desportiva, a de maior potencial para ganhos concretos.

Até por isso, causou surpresa a ausência de uma discussão específica sobre o tema no evento da última segunda-feira (11), o LaLiga Extratime, fórum de debates entre a liga, marcas, imprensa e influenciadores digitais na Câmara do Comércio Espanhol no Brasil, na cidade de São Paulo.

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Entre cafés e networkings, aconteceram três painéis com profissionais que orbitam a empresa que gere a liga dos clubes espanhóis. A ideia era apresentar diferentes facetas que envolvem a marca La Liga. Um painel foi sobre ações de sustentabilidade; outro sobre o programa de investimento nos clubes; e mais um sobre o trabalho com os patrocinadores.

Ao final, o espaço aberto para perguntas, sobre qualquer tópico, foi dominado, naturalmente, pela resposta da instituição aos casos de racismo. Até porque, apesar das medidas educativas e preventivas, eles seguem acontecendo.

Questionados sobre a ausência de um painel sobre a luta antirrascista, os representantes da LaLiga no Brasil, Daniel Alonso e Leonardo Ferreira, reiteraram a disponibilidade para apresentar números, documentos e falar sobre o assunto — o que de fato se comprova, com todas as perguntas respondidas diligentemente —, mas justificaram a ausência de um debate, além de uma conversa prévia sobre o tema em evento semelhante, em agosto de 2023, com um suposto deslocamento do tema dentro do evento, “mais comercial”, segundo Leonardo Ferreira, e também com um certo clichê de “o racismo não tem espaço aqui, não tem em nenhum lugar”, disparado por Daniel.

Ao mesmo tempo, o primeiríssimo painel falou de ações de sustentabilidade, um tema que, ainda que caro ao mercado e que avança em regulamentações pelo governo espanhol, não dita ações comerciais como investimentos em estádios, caso do segundo painel, ou ações de ativação de marcas, assunto do painel que fechou o evento.

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O início, inclusive, teve a frase “queremos que LaLiga seja um motor para mudança”, dita por Daniel, o que também não soa muito condizente com um discurso estritamente mercadológico.

Ao final, o próprio transcorrer do evento mostrou o resultado da estratégia adotada. Mesmo com as medidas em curso, o tema perguntado, tanto pela imprensa como pelos influenciadores, foi o racismo. A maior parte das matérias produzidas ao final do evento, como pode ser comprovado com uma rápida pesquisa em qualquer buscador, foram sobre as respostas do representante da instituição ao assunto.

A marca La Liga, apesar de tudo, segue atrelada aos casos de racismo, especialmente no Brasil, país do principal jogador da competição e também do que mais sofre com os abusos raciais.

Isso mostra que o caminho aqui talvez não seja mais de reação, mesmo que uma diligente e atenciosa reação. Como mostram os próprios monitoramentos da liga, o discurso de ódio segue acontecendo. Eis, inclusive, um marcador mais relevante do que a continuidade das parcerias comerciais, como Daniel Alonso chegou a utilizar para justificar um bom trabalho da LaLiga no tema.

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É necessário proatividade, encarar o problema de frente e regularmente, especialmente se há o que se mostrar, se há o que se falar. Falamos em políticas contínuas e abertamente discutidas de luta antirracista, simples assim.

*Erramos: o texto previamente associava as falas de Leonardo Ferreira, delegado da LaLiga no Brasil, ao assessor Luiz Paulo. O erro foi corrigido às 17h do dia 12/03.