Home Futebol Zico de trunfo e convite de CR7: bastidores da chegada de Carlo Ancelotti à Seleção Brasileira

Zico de trunfo e convite de CR7: bastidores da chegada de Carlo Ancelotti à Seleção Brasileira

Diego Fernandes, empresário que negociou o contrato, conta detalhes inéditos da contratação do italiano

Emerson Silva
Jornalista com trajetória iniciada em 2007 e com passagens por instituições de destaque como o jornal Lance!, Fla TV e o Jockey Club Brasileiro. Apaixonado por contar histórias, acompanho o esporte de perto e valorizo cada detalhe para que a mensagem chegue de forma clara e interessante para quem lê.
Zico de trunfo e convite de CR7: bastidores da chegada de Carlo Ancelotti à Seleção Brasileira

Diego Fernandes contou detalhes da chegada de Ancelotti ao Brasil (Foto: divulgação)

A Seleção Brasileira se prepara para mais uma Copa do Mundo sustentando ainda as suas cinco estrelas, que representam os títulos da competição. Embora vivendo um momento de jejum, o Brasil ainda é o único pentacampeão do mundo e a única seleção a estar em todas as Copas do Mundo. Um feito e tanto, uma vez que são tabus e recordes que insistem em não cair.

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No entanto, um desses tabus, que duravam mais de um século, demorou, mas caiu. Tudo por conta da chegada de um dos técnicos mais vencedores da história do futebol: Carlo Ancelotti, italiano, é o primeiro estrangeiro a dirigir a Seleção Brasileira em 100 anos. Uma grande manobra, que precisou de trunfos e argumentos igualmente grandes, do tamanho de Zico, por exemplo. Além de obstáculos, como Cristiano Ronaldo.

Quem intermediou essa contratação histórica da Seleção Brasileira foi Diego Fernandes, empresário, que viu em um jogo do Brasil pelas Eliminatórias da Copa do Mundo a grande chance de talvez mudar os rumos do time em busca da sexta estrela.

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“Tive a ideia depois do empate do Brasil com a Venezuela, em novembro passado. O Brasil foi muito mal! Havia confusão e nenhum estilo. Eles precisavam de mais controle. Vinicius Jr. pode jogar muito bem no Madrid, mas não na Seleção”, disse em entrevista ao “Daily Mail Sport”, da Inglaterra.

“Pensei: ‘Se trouxermos o Carlo, essa é a solução; os jogadores vão confiar nele’. Ele é o número 1, o melhor. Mas foi difícil. Os brasileiros dizem: ‘Ganhamos cinco Copas do Mundo com técnicos brasileiros, não precisamos de um treinador estrangeiro!’”, completou.

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Zico foi o trunfo para trazer Ancelotti

O primeiro a ser chamado para esta missão foi Davide Ancelotti, filho do treinador e auxiliar dele no Real Madrid. Logo depois, Diego Fernandes pensou em um grande personagem capaz de unir os brasileiros em torno do nome para assumir o posto de técnico do Brasil na Copa do Mundo: nada mais, nada menos do que Zico, ídolo do Flamengo e unanimidade no futebol brasileiro.

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“As pessoas adoram o Zico no Brasil. Ele jogou contra o Carlo na Série A. Jogou naquela partida linda contra a Itália em 1982. Eu sabia que as palavras dele poderiam proteger o Carlo e ajudar no meu plano de torná-lo nosso próximo técnico”, revelou o empresário.

Fernandes afirmou que, com os dois em um jatinho, foram direto ao encontro do treinador, que ainda tinha mais um ano de contrato com o Real Madrid. Contudo, os rumores sobre a sua saída dos Blancos aumentavam a cada dia. Foi aí que as tratativas se intensificaram. Em contrapartida, a concorrência aumentou na mesma proporção. Se eles tinham o Zico, o “outro lado” tinha Cristiano Ronaldo.

“Carlo estava recebendo muitas ofertas, inclusive da Arábia Saudita. Isso me causou muito estresse, porque a Arábia Saudita tem muito dinheiro! Um famoso jogador de futebol (Cristiano Ronaldo), que jogou sob o comando de Carlo, o convidou para ir à Arábia Saudita”, disse.

Vídeo com crianças na favela para seduzir

A questão em torno da contratação de Carlo Ancelotti não envolvia apenas dinheiro e estrutura de trabalho. Diego Fernandes contou que queria fazer uma espécie de imersão do italiano no futebol brasileiro. Ou seja, era muito mais do que apenas uma negociação profissional: era o momento de tornar Ancelotti mais “brasileiro”.

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“O desafio era conectar Carlo ao futebol brasileiro. Eu queria que ele soubesse que o futebol no Brasil é uma religião. Enviei os caras para a favela, onde crianças jogavam futebol no vídeo. Incluí a final de 1998, quando perdemos para a França, a derrota por 7 a 1 na semifinal contra a Alemanha em 2014, os torcedores chorando. A emoção. A intensidade. Na cena final do vídeo, as crianças da favela dizem: ‘Carlo Ancelotti, estamos te esperando. Você é o melhor técnico para a nossa seleção!’”, contou.

Na casa do treinador, logo depois do vídeo, Fernandes constatou que tinha feito o certo e a manobra estava prestes a levar Carletto aos braços do povo brasileiro.

“Quando ele assistiu ao vídeo, começou a contar a história do futebol brasileiro para sua esposa, Mariann. Naquele momento, quando vi seus olhos, eu soube: ‘Carlo está chegando!’”, revelou.

Embora as lembranças não tenham sido boas, Zico teve a sua participação neste momento. Ancelotti contou detalhes de como e quando conheceu o Galinho em terras italianas:

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“Quando Carlo era um jovem jogador da Roma, seu treinador lhe disse: ‘Carlo, amanhã você jogará contra a Udinese e o Zico’. Carlo me disse que não dormiu a noite toda. Ele disse: ‘Mas durante 85 minutos, fiquei marcando-o individualmente. Fui o melhor em campo. Então, em um segundo, o perdi de vista. Ele dominou a bola no peito e fez o gol da vitória’. Era isso que Zico conseguia fazer, em apenas um segundo.”

Falta de internet impediu assinatura de contrato

Passadas as tratativas, a fase da assinatura do contrato também não foi exatamente como todos achavam. Ou seja, o início da relação entre a maior seleção do mundo e um dos maiores técnicos da história teve momentos de tensão. O empresário contou que Portugal e Espanha passaram por problemas na internet, o que causou atraso no acordo.

“No dia em que conversei com Carlo sobre os detalhes do contrato, houve uma falha na internet em Portugal e na Espanha. Houve um apagão. Os advogados de Carlo estavam em Madri e Carlo e eu estávamos em Londres. Passamos o dia todo sem conseguir a assinatura. Não foi um bom dia! Em uma hora, tudo mudou. O telefone dele não parava de tocar!”, contou.

Foi então que, no dia 12 de maio, CBF e Ancelotti firmaram o acordo até o fim da Copa do Mundo de 2026. Com o dever cumprido e satisfeito com a sua contribuição, Fernandes lembra com carinho a recepção do italiano em solo brasileiro.

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“Muita gente estava checando o computador (FlightRadar) para saber quando o avião chegaria. Quando chegamos ao aeroporto, havia muita gente. Eles não acreditavam que estava acontecendo. Foi uma grande festa. Se você tem chance de ganhar a Copa do Mundo, tem mais chances com o Carlo. Eles sabem disso agora”, finalizou.

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