Home Futebol Único técnico negro na Série A, Roger fala sobre racismo e relação com o Bahia: “Me empoderou”

Único técnico negro na Série A, Roger fala sobre racismo e relação com o Bahia: “Me empoderou”

Expoente de uma triste estatística, o único treinador negro na 1ª divisão do Campeonato Brasileiro contou como a relação com seu atual clube o encorajou a falar sobre o preconceito racial

Por Paulo Henrique Araújo em 17/01/2020 13:11 - Atualizado há 4 anos

Felipe Oliveira / EC Bahia / Divulgação

O técnico do Esporte Clube Bahia, Roger Machado, que chamou a atenção do Brasil ao falar sobre racismo após a partida contra o Fluminense, pelo Campeonato Brasileiro, no último dia 12 de outubro, voltou a falar sobre o tema que assola não só o futebol brasileiro, bem como o esporte em nível mundial. 

“Eu digo que estar na Bahia, morando em Salvador e como treinador do Bahia, um time que aborda e acolhe muito essas questões sociais, de uma certa forma, me empoderou. Talvez, em outro time, eu não me sentisse autorizado para tomar aquela atitude [de falar sobre racismo]”, disse Roger em entrevista ao Uol. 

À época do confronto contra o Fluminense, Roger Machado enfrentou o também ex-jogador, Marcão. O duelo marcou o encontro dos únicos treinadores negros da elite do futebol nacional. Entretanto, com a contratação de Odair Hellmann pelo tricolor das Laranjeiras, Roger ficou isolado como o representante negro entre os técnicos da Série A. 

Roger deixa claro, contudo, que o racismo não se restringe às quatro linhas, mas estende-se por toda a sociedade. Casado com uma mulher branca, o técnico mostra que é uma rotina ter que enfrentar o preconceito.

“Talvez eu tenha conseguido, naquele momento [coletiva], organizar bem as minhas ideias para que pudesse tentar passar a melhor mensagem possível, sem parecer piegas ou vitimismo, como agora costumam dizer sobre esse assunto. Mas abordar um tema que sempre esteve em pauta na minha família, porque eu tenho um casamento inter-racial. Eu tenho uma filha mais clara, uma outra mais escura. Quando eu e minha esposa saíamos… Eu saía com a Gabriela, que é mais clara, e ela saía com a mais escura, que é a Júlia, a gente sentia isso dos dois lados. Os olhares, os comentários…”, afirmou Roger.

“Se eu não andasse com a Gabriela de mão, sempre, alguém passava do lado e perguntava pro segurança: ‘Você sabe quem é o pai dessa menina? Porque parece que ela está sozinha’. ‘Não, minha senhora, sou eu’. Tem aquele contato visual. Ou minha esposa, mais de uma vez, chegar chateada, até mesmo chorando em casa, porque abordaram, no shopping ou na rua, perguntando se era filha do coração. ‘Não, não. Meu marido é negão mesmo'”, lembrou. 

O Observatório da Discriminação Racial no Futebol relatou 42 casos de racismo no futebol brasileiro, em levantamento divulgado no último mês de novembro. Os casos mais recentes foram registrados no clássico entre Cruzeiro e Atlético-MG, quando um segurança foi ofendido por dois irmãos e em uma partida da Copa RS Sub-20, quando o zagueiro do Vasco da Gama, Miranda, afirmou ter sido chamado de “macaco” e “negro imundo” por dois atletas do Independiente, da Argentina. 

Para Roger Machado, a repercussão da sua entrevista após a partida contra o Fluminense revela que ainda se fala pouco sobre o assunto: “Se algo que foi falado em três minutos, talvez, correu o mundo e gerou essa visibilidade e essa repercussão toda, é porque a gente está falando pouco. Se a gente se surpreendeu, é porque se está falando pouco […] Há quem diga que o futebol não pode sair das quatro linhas. Não só pode como deve, porque é uma manifestação cultural, um patrimônio histórico para o brasileiro e mundial”, lamentou o treinador.

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