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Iberê Riveras: Um saco de bolas para o Andradina

É tudo o que a Federação Paulista oferece a este e aos outros 41 clubes da 4ª divisão; edição de 2020 seria iniciada no dia 18

Iberê Riveras
Colaborador e colunista do Torcedores.com.

Diferentemente da maioria das matérias jornalísticas dos últimos dias, que tratam da dificuldade dos clubes em tempos de coronavírus, essa se limita a contar um pouco mais sobre a ‘normalidade’ dos clubes que disputam o último nível do futebol paulista, competição organizada pela rica e ‘sempre alerta’ Federação Paulista de Futebol. O Campeonato Paulista é dividido em quatro divisões: as três primeiras (A1, A2 e A3) com 16 clubes cada e a 4ª (‘Bezinha’) com 42 – 31 do interior.

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Andradina está localizada no extremo noroeste do estado (região de Araçatuba), a 630 km de São Paulo. O clube da cidade era o Andradina Futebol Clube, fundado em 1963 e licenciado em 2000 – foi campeão da 4ª divisão em 1965. Após um longo período sem futebol profissional, a cidade ‘recebeu’ em 2018 o Atlético Esportivo Araçatuba e produziu o Andradina Esporte Clube, que herdou do velho Andradina as cores, azul e branca, e o apelido: Foguete da Noroeste.

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Na ‘Bezinha’ de 2018, o Foguete não passou da 1ª fase – chegou à semifinal do Sub-20. Já em 2019, todo o sacrifício deu algum resultado. Sediou a Copa São Paulo de Futebol Júnior e ficou em 1º lugar no grupo, à frente de Ponte Preta, Ceará e Ceilândia-DF – caiu para o Rio Preto no primeiro mata-mata. Pelo Paulista, o clube terminou a 1ª fase no 2º lugar do Grupo 1, atrás do Fernandópolis, mas à frente de Tupã, José Bonifácio, Osvaldo Cruz, Bandeirante de Birigui e do outrora famoso América de Rio Preto. A ‘aventura’ acabou na 2ª fase, quando foi superado por Independente de Limeira, Francana e Assisense.

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A TV TEM, afiliada da Rede Globo naquela região, brincou com a ideia de o Andradina ser ‘o time mais zicado’ da competição. Houve desfalque de jogador por caxumba, por dengue… ônibus quebrado na pista e jogadores pedindo carona para chegar a Birigui – parte da comissão técnica ficou no meio do caminho –… atraso do início de jogo porque os atletas estavam trancados no vestiário em José Bonifácio… médico cubano do ‘Programa Mais Médicos’ denunciado pelo rival Tupã… toda uma comédia, se não fosse trágico do ponto de vista profissional.

Gustavo Brasil, 37 anos, é andradinense. Formado em Administração de Empresas, tornou-se especialista em sistema da qualidade. Percorreu boa parte do Brasil atuando por grandes empresas como Camargo Corrêa, Unimed e Voith Hydro. Com a crise econômica, retornou para Andradina. Atualmente, ministra treinamentos na área da qualidade em Campo Grande, capital sul-mato-grossense que fica a 4h30 de Andradina. Há dois anos, Gustavo aceitou o convite do presidente do Andradina, Sidinei Giron, e assumiu a diretoria de marketing. Na prática, por sua competência, tornou-se uma espécie de gerente de futebol do Foguete.

Antes da paralisação em virtude do coronavírus, como estava a preparação do clube para a ‘Bezinha’? A gestão é do clube ou terceirizada?

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“Já estávamos na fase de afinar o time. Montamos uma comissão técnica muito boa, com o técnico China [ex-XV de Jaú], o auxiliar-técnico Mateus, o treinador de goleiros Ditinho. Estávamos trazendo jogadores que atuaram na 1ª divisão de vários estados e até em clubes de menor expressão do futebol europeu. Era a hora de ‘peneirar’ o grupo, reduzir de 40 para 26, 28 jogadores, ver se tinha mais alguma necessidade pontual de contratação. A gestão é do clube mesmo, não queremos entregar o clube nas mãos de ‘estranhos’. Passamos nossos apertos, mas sabemos onde estamos pisando.”

Como estava a questão dos contratos com os atletas? Eles estavam alojados?

“A gente ia começar a assinar os contratos. Estávamos com um mês, um mês e meio de treinamento, os jogadores ainda estavam sendo avaliados. Mesmo sem contrato, todos estavam alojados, com alimentação, tudo certinho. Nosso problema de estrutura é grande, esse ano preferimos aproveitar uma estrutura que já existia em Valparaíso, uma cidade vizinha, de um parceiro nosso. Com o coronavírus, tudo foi interrompido, os atletas foram dispensados, voltaram para suas casas. Por sorte, diferentemente de outros clubes, não tínhamos assinado nada ainda. Agora estamos aguardando a Federação Paulista se pronunciar. Nada foi dito até agora, apenas a suspensão do campeonato.”

Como o clube capta recursos?

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“Temos alguns patrocinadores. A maioria não é patrocínio financeiro, é permuta. Então tem mercados que ajudam com a alimentação, empresas que doam móveis para o alojamento, combustível para as viagens, refrigerantes para vender nos jogos. O espaço do alojamento e centro de treinamento que falei é de um importante parceiro, dono de um mercado grande da cidade. Os salários de atletas e funcionários vêm da nossa principal fonte de receita, que é a bilheteria dos jogos [a média do Andradina é de 600 torcedores, que rende cerca de R$ 5 mil por jogo]. Quando falta, promovemos algum evento, um almoço, ou recorremos a empresários da cidade: ‘Esse mês apertou, você não consegue ajudar a gente?’. A gente sempre dá um jeito ou outro para honrar a folha de pagamento.”

A bola do Paulistão é feita de PET reciclada. Se liga na S11

Há algum tipo de suporte da Federação? A cota [cerca de R$ 45 mil] ajuda nas despesas?

“No ano passado, a Federação Paulista deu as bolas que usamos na competição. Com relação à cota, esse valor acaba sendo diluído nas despesas com os jogos: é taxa de arbitragem, de exame antidoping, de sindicato… Então é como se fosse um caução: a Federação dá a cota e, durante o campeonato, esse valor é descontado, descontado, descontado… chega no final do molho, não sobra nada.”

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Com o problema da pandemia, a ‘Bezinha’ ainda volta esse ano?

“Acredito que muitos times não terão condições de voltar para a disputa, ainda mais sem um suporte da Federação. Muitos clubes estão com dívidas, com jogadores com contrato assinado, tendo que pagar salário para jogador parado. Alguns alugaram estruturas e estão pagando por elas. A situação é bem preocupante, não dá para saber o que vai acontecer.”

Falta união entre os clubes?

“Na verdade, não é nem falta de união, é que não tem união nenhuma, a verdade é essa. A gente vê algumas situações que acontecem, simplesmente inacreditáveis. Os clubes da ‘Bezinha’ que tem algum nome nunca vão querer peitar a Federação Paulista. Eles só estão esperando qualquer brechinha que tiver para ter uma virada de mesa e eles subirem de divisão, ou terem algum benefício, isso é que é muito complicado. E os outros times, de menor expressão, não têm força, não se unem. Agora teve um movimento dos clubes das séries C e D do Brasileiro, os capitães dos times, os presidentes mandando ofício para a CBF, dizendo: ‘olha, ajuda a gente aí, senão a gente tá lascado’. Acho que um movimento desse, dentro da Federação Paulista, dos times da ‘Bezinha’, tinha que acontecer. A Federação Paulista disse ‘não vai ter campeonato, não vou te dar previsão’ e saiu de férias, não responde ninguém. Acho que os times da ‘Bezinha’ têm que entender que, tirando um ou outro clube que vai subir, os outros vão continuar do mesmo jeito. Algo precisa ser feito.”

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Veja aqui aquela que seria a tabela do Campeonato Paulista da 4ª divisão
Veja aqui aquele que seria o regulamento da competição
Veja aqui a “missão” da Federação Paulista de Futebol, segundo o próprio site

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