Home Extracampo Atleta do bobsled brasileiro fala sobre racismo: “você pisa nas pessoas, mas não sabe se vai precisar delas depois”

Atleta do bobsled brasileiro fala sobre racismo: “você pisa nas pessoas, mas não sabe se vai precisar delas depois”

Edson Bindilatti, um dos principais nomes do bobsled no Brasil, fala sobre situações de racismo que já passou em sua vida

Flavio Souza
Formado em Gestão de TI e cursando Jornalismo. Desde 2006 escrevo sobre esportes em geral, ingressando em dezembro de 2018 no site Torcedores.com, onde atualmente exerço função de Colaborador Sênior. Atualmente meu foco é no futebol brasileiro e internacional, mas procuro falar sobre outras modalidades, como esportes olímpicos, por exemplo. Meu foco é trazer informações relevantes sobre os clubes fora de campo, como entrevistas, análises financeiras, desempenho das equipes em redes sociais e análises táticas.

Em meio a pandemia do coronavírus, o assunto de racismo voltou a ser destaque nas redes sociais. A morte de George Floyd nos EUA foi o estopim para protestos em todo mundo. No Brasil isso também é uma realidade. No esporte infelizmente presenciamos muitos casos de racismo. Para falar sobre isso, nós do Torcedores procuramos falar com esportistas brasileiros para escutar seus depoimentos. Nesta matéria entrevistamos Edson Bindilatti, atleta do bobsled brasileiro.

PUBLICIDADE

Siga o Torcedores no Facebook para acompanhar as melhores notícias de futebol, games e outros esportes

[DUGOUT dugout_id=eyJrZXkiOiJKUGplQVhOUCIsInAiOiJ0b3JjZWRvcmVzIiwicGwiOiIifQ==]

Torcedores – Qual o caso mais marcante que você precisou enfrentar por conta do racismo?

Edson Bindilatti – Eu morava no Paraíso (bairro de SP), perto do Ibirapuera onde eu treinava em um condomínio de classe média. Usava o elevador para chegar ao 12ª andar e às vezes encontrava com um senhor que não respondia quando eu desejava bom dia. Ele sempre de gravata, bolsa e maleta, devia ser algum advogado. Eu percebi um certo preconceito com a gente. Mas é engraçado que um tempo depois essa pessoa adoeceu e que ajudei a tirar do carro e colocar na cadeira de rodas. E depois de algumas semanas ele acabou falecendo. Em relação a tudo isso, a percepção é que vamos todos para o mesmo lugar. Se você pisa nas pessoas, você não sabe se vai precisar dela depois. Foi um dos casos mais marcante que eu senti em relação ao preconceito que eu senti. Não por ele não me responder, mas sim por evitar o contato. As outras percepções são em roleta de banco que trava só com você, blitz onde você é parado para “levar geral”. Uma das vezes eu estava no meio do trânsito e a viatura parou do lado perguntando o número da placa para ver se eu sabia.

PUBLICIDADE

T – Fora do país você passou por alguma situação de racismo?

EB -Ficamos treinando dois meses na Inglaterra, na casa das nossas treinadoras da época. Nós fomos para a Romênia para participar de um campeonato mundial. Voltamos para a Inglaterra, mas não queriam autorizar nossa entrada. Os branquinhos passaram, mas os pretinhos ficaram para trás (risos). Mas depois de um tempo eles acabaram liberando nossa entrada.

T – O que você acha dessa situação dos protestos contra o racismo nos EUA e a repercussão no Brasil?

EB – Eu acho que é pertinente sim, tem que acontecer. As pessoas precisam entender que o racismo é a coisa mais ultrapassada que existe. Está na hora das pessoas se conscientizarem, parar com essa palhaçada toda de discriminação. Se amar mais, se gostar mais. Entender que vai todo mundo para o mesmo buraco. Isso que as pessoas não entendem. Não é só sobre o racismo, é discriminação por gênero, crença etc. Acho que as pessoas estão vendo que essas coisas não ficam mais impunes. Vendo que isso não tem mais espaço. Essas manifestações só vêm a ajudar que as coisas melhorem.

LEIA MAIS:

Campeã olímpica, Garay detona Bolsonaro e se manifesta contra o racismo: “estrutura assassina”

Ana Paula Henkel faz matemática polêmica e é acusada de racismo pelos internautas

PUBLICIDADE