Home Futebol Explicações de Tite sobre convocação de Danilo e Gabriel Menino indicam retorno ao esquema de 2016

Explicações de Tite sobre convocação de Danilo e Gabriel Menino indicam retorno ao esquema de 2016

Luiz Ferreira analisa a entrevista de Tite no “Bem, Amigos!” e as suas explicações sobre as suas escolhas para a lateral-direita da Seleção Brasileira

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

A presença de Tite no programa “Bem, Amigos!” do SporTV já era por si só uma grande oportunidade de conferir aquilo que o treinador da Seleção Brasileira pensa sobre futebol e sobre as suas equipes. Não somente pelo conhecimento e pela experiência que o técnico do escrete canarinho adquiriu nos últimos anos, mas por sabermos o que poderemos ter de novidade sobre a equipe nas Eliminatórias da Copa do Mundo. E essa “novidade” veio quando Tite falou sobre a convocação de Danilo e Gabriel Menino para a lateral-direita visando as partidas contra Bolívia e Peru. As explicações do treinador sobre as suas escolhas para a posição e as imagens mostradas durante a entrevista mostraram que existe o desejo de se recuperar a dinâmica da Seleção Brasileira em 2016 e 2017, quando conquistou a classificação para a Copa do Mundo da Rússia de maneira antecipada.

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Antes de mais nada, é preciso contextualizar tudo. Você leu aqui mesmo neste espaço que a convocação de Gabriel Menino escancarava a ausência de nomes confiáveis para a lateral-direita da Seleção Brasileira. Por outro lado, Tite tem um jeito único de escalar e pensar sua equipe. Não somente pela dinâmica ofensiva do seu 4-1-4-1, mas pela maneira como ele quer que seus laterais se comportem dentro de campo. O treinador do escrete canarinho utilizou imagens de lances com Daniel Alves e Danilo para justificar a sua preferência por laterais que saibam pensar o jogo na direita (quase como mais um armador se juntando aos volantes na armação das jogadas e na saída de bola) e laterais que abram o campo e dêem profundidade ao time no lado esquerdo. Não por acaso, Tite também citou o nome de Renan Lodi durante as suas explicações no SporTV. Confira no vídeo abaixo:

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É verdade que Gabriel Menino é um dos jogadores mais promissores atualmente. Não somente pela visão de jogo como volante, mas pela versatilidade e polivalência adquirida jogando como lateral nas categorias de base. A questão aqui, no entanto, deixa de ser o jogador do Palmeiras. O foco é a dinâmica que Tite quer que a Seleção Brasileira tenha quando estiver com a posse de bola. O treinador do escrete canarinho utilizou o mesmo princípio na Copa América do ano passado (quando armou sua equipe no 4-2-3-1). Daniel Alves até chegava no campo de ataque, mas era muito mais um “armador” do que propriamente um lateral pela direita. Do outro lado, Alex Sandro se lançava no setor ofensivo de modo a abrir mais o campo e não embolar o jogo pelo meio-campo. Pelo que se viu e ouviu, é isso que Tite quer de Gabriel Menino e dos seus laterais pela direita.

Daniel Alves foi mais um armador do que propriamente um lateral na conquista da Copa América de 2019. As jogadas da Seleção Brasileira (que jogou num 4-2-3-1 na maioria das partidas) quase sempre começavam pela direita com o hoje jogador do São Paulo dando o primeiro passe. Foto: Reprodução / TV Globo

As explicações de Tite também revelam outro desejo. Pelo menos nas entrelinhas. O treinador da Seleção Brasileira quer é repetir a dinâmica da equipe que conquistou o primeiro lugar geral nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2018. Naquela época, Tite chegou ao escrete canarinho com a missão de recuperar o moral dos jogadores e dar uma “cara” ao time titular. Conseguiu isso através de um 4-1-4-1 que tinha Daniel Alves aparecendo mais por dentro do que Marcelo (que puxava os contra-ataques pelo seu lado e também entrava em diagonal para concluir a gol). Além disso, Renato Augusto era o “ritmista” que o treinador tanto procurou nesses últimos anos e Philippe Coutinho desequilibrava armando o jogo a partir do lado direito e abrindo espaços para as subidas de Paulinho. O terceiro gol sobre a Argentina (em jogo realizado no dia 10 de novembro de 2016) nasceu assim.

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Daniel Alves centraliza, Marcelo abre o jogo pela esquerda, Philippe Coutinho abre o espaço e Paulinho se lança como terceiro atacante na área junto de Neymar e Gabriel Jesus. Essa é a dinâmica que Tite deseja colocar na Seleção Brasileira a partir das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2022. Foto: Reprodução / TV Globo

O próprio Tite já havia falado mais de uma vez naqueles tempos sobre o temor que tinha das equipes que jogavam com uma linha de cinco na defesa. Talvez esse tenha sido o principal motivo que tenha feito com que o comandante da Seleção Brasileira tenha optado por um ataque mais posicional (nos moldes do Manchester City de Guardiola). Fora isso, ainda havia a necessidade de se deixar Neymar mais solto no ataque para respeitar a dinâmica que tanto defendeu na sua equipe. A jogada começava pelo lado direito e terminava na esquerda (com o camisa 10 aparecendo para a tabela com Gabriel Jesus ou entrando em diagonal). E na visão do treinador, Danilo e Gabriel Menino podem sim exercer a função de “lateral-armador” que Daniel Alves exerceu com bastante eficiência nas Eliminatórias para a Copa da Rússia. A formação de 2016 seria a base para o time que Tite quer construir em 2020.

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Philippe Coutinho armando o jogo pela direita, Neymar se juntando a Gabriel Jesus no ataque, Paulinho se lançando ao ataque, Marcelo abrindo o jogo e Daniel Alves se juntando a Renato Augusto na armação das jogadas. O time que venceu a Argentina por 3 a 0 em 2016 pode ser o modelo para Tite pensar a Seleção Brasileira em 2020.

Tite sabe que muita coisa mudou em quatro anos. Não somente por conta do cenário forçado pela pandemia de COVID-19, mas pela mudança do futebol como um todo. Se o “modelo” era o jogo posicional utilizado por Guardiola, hoje é praticamente impossível pensar em jogar o velho e rude esporte bretão sem intensidade e velocidade. Os espaços são cada vez menores e não há mais tanto tempo para se pensar as jogadas como antes. Talvez esse seja um dos motivos pelos quais Tite deseja ter em seu elenco jogadores polivalentes e com ampla visão de jogo. Como Danilo e (principalmente) Gabriel Menino. A escolha do lateral do Palmeiras se dá justamente pelas características que ele encontrava em Daniel Alves e que tenta encontrar em atletas mais jovens. Não é por acaso que o treinador fez questão de afirmar que anda de olho em jovens valores como Patrick de Paula e Gabriel Verón.

Há quem pense que Tite apenas jogou palavras no ar. Este que escreve, no entanto, sempre valoriza os técnicos que explicam suas escolhas e fazem questão de deixá-las claras para o torcedor. E as palavras de Tite no “Bem, Amigos!” deixaram bem claro que existe o desejo de se recuperar o futebol vistoso de 2016 e 2017. Pelo menos a médio prazo.

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