Home Futebol Como foi o primeiro grande encontro entre Marcelo Bielsa e Pep Guardiola na Premier League

Como foi o primeiro grande encontro entre Marcelo Bielsa e Pep Guardiola na Premier League

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa o empate entre Leeds United e Manchester City

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Nada mais justo do que dar uma pequena pausa na nossa série sobre a “Loucura de Marcelo Bielsa” para falar do primeiro grande encontro entre ídolo e admirador desde o longínquo ano de 2012. O empate em 1 a 1 entre o Leeds United de “El Loco” e o Manchester City de Pep Guardiola (admirador confesso do treinador argentino) esteve repleto de alternativas táticas e recheado pelos conceitos jpa bem conhecidos de dois dos treinadores mais influentes do mundo nessas últimas três décadas. Foram 35 finalizações em toda a partida disputada no Elland Road (números do SofaScore) e uma infinidade de coisas para serem abordadas por muito tempo entre os amantes da tática no futebol. E olha que esse foi apenas o primeiro encontro entre os Citzens e os Peacocks. Ainda teremos outras oportunidades de vermos Bielsa e Guardiola duelando no banco de reservas.

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É interessante notar que a ausência de um camisa 9 de ofício fez com que Pep Guardiola montasse seu Manchester City num 4-3-3 com Mahrez no comando de ataque se movimentando muito e abrindo espaços para as descidas de Ferrán Torres e Sterling em diagonal. Mais atrás, Kevin De Bruyne e Foden armavam o jogo por dentro com o suporte defensivo de Rodri (posicionado na frente da zaga). A estratégia deu certo logo aos 18 minutos, quando Sterling recebeu na esquerda, se livrou dos zagueiros e bateu colocado no canto direito de Illan Meslier. Até a metade do primeiro tempo, o Manchester City já havia encaixado onze finalizações a gol. Era a senha para Marcelo Bielsa mostrar por que é tão admirado por Pep Guardiola. O Leeds United começou a se soltar e a empurrar os Citzens para seu campo explorando as subidas do Luke Ayling pelo lado direito de ataque.

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Pep Guardiola armou o Manchester City num 4-3-3/4-1-4-1 com Mahrez jogando como referência móvel no ataque e conseguiu abrir o placar logo aos 18 minutos com Sterling. Bielsa respondeu mandando o Leeds United para o ataque e abusando da intensidade nas transições e na marcação. Foto: Reprodução / ESPN Brasil.

Marcelo Bielsa também armou sua equipe num 4-1-4-1, mas acabou encontrando uma certa dificuldade para jogar diante do ritmo alucinante imposto pelo Manchetser City de Pep Guardiola. Só que o panorama mudou radicalmente quando os Peacocks passou a avançar mais as suas linhas e a acelerar o jogo no meio-campo (chegando até a utilizar as ligações diretas para Bamford, Hélder Costa e Ayling às costas da defesa dos Citzens. O Leeds United era intenso ao extremo, abusava das trocas de posição e não se preopcupava nem um pouco em se expor defensivamenyte e não permitir que seu forte adversário tivesse tempo e espaço para tomar a decisão mais correta. Tudo por conta da forte marcação no portador da bola e na resolução rápida das jogadas. Ainda que Ederson tenha encaixado boas defesas, o Leeds começava a crescer na partida graças às estratégias de “El Loco” Bielsa.

Leeds United vs Manchester City - Football tactics and formations

Embora o Manchester City tenha começado melhor a partida, o Leeds United cresceu a partir do momento em que começou a avançar as suas linhas e exercer uma forte pressão no portador da bola ainda no campo de ataque. Os Peacocks não demonstrou nem um resquício de medo de se expor diante de um forte oponente.

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A pressão imposta pelo Leeds fez com que víssemos a já conhecida “inversão da pirâmide” (a variação do 4-1-4-1 para um 2-3-5 com os meias interiores se juntando ao trio ofensivo) e até mesmo a chegada de um sexto jogador no último terço do campo. E tal como seu lendário Newell’s Old Boys fazia, os Peacocks também buscavam a movimentação constante para furar as linhas defensivas do City para abrir espaços. Nesse ponto, vale destacar a atuação dos meias Klich e Roberts, sempre atentos à segunda bola e prontos para pisar na área e espremer ainda mais o adversário na frente da área. Ao mesmo tempo, Ayling ajudava a abrir o campo e explorava bem os espaços deixados por Mendy (que demorava muito para fazer a recomposição pelo lado esquerdo da defesa do City). Era exatamente o que Marcelo Bielsa queria. E as coisas iam melhorar ainda mais na segunda etapa.

Klich e Roberts avançavam, o trio ofensivo dava profundidade e Ayling abria o campo pelo lado direito. O Leeds United começou a se impor a partir das orientações de Marcelo Bielsa e passou a espremer o Manchester City no seu campo. A equipe ficava mais exposta, mas não deixava seu adversário pensar. Foto: Reprodução / ESPN Brasil.

A entrada de Rodrigo (brasileiro naturalizado espanhol e filho de Adalberto, ex-lateral do Flamengo) deu mais consistência ao ataque do Leeds United e ainda mais trabalho para Walker e Rúben Dias pelo lado esquerdo de ataque). O gol de empate, no entanto, nasceria aos 13 minutos da segunda etapa, a partir de cobrança de escanteio da esquerda e em falha de Ederson (um dos destaques da partida até aquele momento), que cortou mal o cruzamento e deixaria a bola limpa para o camisa 20 apenas empurrar para as redes. E o Leeds seguiu empilhando chances de virar a partida e jogando com muita personalidade diante de um Manchester City que também tentou responder com De Bruyne e Sterling, mas acabaria parando na volúpia da equipe comandada por Marcelo Bielsa. Ótimo jogo em Elland Road com ótima execução dos conceitos de grandes conhecedores de futebol.

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Manchester City vs Leeds United - Football tactics and formations

Rodrigo entrou no segundo tempo e deu ainda mais intensidade ao time do Leeds United com boas arrancadas a partir do lado esquerdo de ataque. O Manchester City tentou atacar, mas encontrou muitas dificuldades para superar a forte pressão do seu adversário na saída de bola. Ótimo jogo no Elland Road.

O mais interessante da campanha do Leeds United nessas quatro primeiras rodadas da Premier League é que Marcelo Bielsa parece entender até onde sua equipe pode chegar e tenta adaptar seus conceitos ao elenco que tem em mãos. Mesmo assim, a chegada de Rodrigo pode levar os Peacocks a sonhar mais com campanhas bem melhores do que o esperado nesse Campeonato Inglês. Ainda mais quando os jogadores compraram a ideia de “El Loco” e buscam executar o plano de jogo com o máximo de perfeição possível. E é até interessante que o Manchester City tenha encontrado dificuldades para criar na partida deste sábado (3). Os desfalques de Gabriel Jesus e Agüero seguem muito sentidos no escrete comandado por Pep Guardiola. E “El Loco” sabia muito bem que o plano tático do seu pupilo é melhor executado quando um deles está em campo. O mentor superou o pupilo. Pelo menos em alguns momentos.

Marcelo Bielsa e Pep Guardiola são dois treinadores que surgem apenas de tempos em tempos no velho e rude esporte bretão. E não existe nada mais agradável do que ver os dois aplicando seus conceitos em equipes competitivas e bem organizadas. Por mais que os dois já não estejam no seu auge. É preciso respeitar quem fez e faz tanto pelo futebol há pelo menos três décadas. Seja em campo ou no banco de reservas.

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