Home Futebol Mentalidade ofensiva e muito volume de jogo: conheça os conceitos táticos de Ariel Holan

Mentalidade ofensiva e muito volume de jogo: conheça os conceitos táticos de Ariel Holan

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica como o novo treinador do Santos gosta de montar suas equipes e o que torcedor do Peixe pode esperar dele

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

A lembrança mais forte que o torcedor brasileiro tem de Ariel Holan vem da decisão da Copa Sul-Americana de 2017, quando o seu Independiente superou o Flamengo jogando um futebol ofensivo e baseado nos movimentos de um 4-3-3 móvel e bem organizado. O profissional de 60 anos iniciou a carreira no hóquei sobre a grama (onde conquistou a medalha de bronze nos Jogos Pan-Americanos de 2003 com a Seleção Feminina do Uruguai). No futebol, foi auxiliar de diversas equipes na Argentina antes de assumiu o Defensa y Justicia em 2015. Após seu trabalho no Independiente e na Universidad Católica (onde conquistou o Campeonato Chileno de 2020), Ariel Holan assinou com o Santos com a missão de resgatar o “DNA ofensivo” da equipe. Mas como o argentino monta suas equipes? O que o torcedor do Peixe pode esperar do seu novo treinador? Quais são seus conceitos? É o que vamos descobrir aqui.

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Ariel Holan já mostrou ter predileção pelo 4-3-3 e todas as suas variações em suas equipes. Tomando a Universidad Católica campeã chilena de 2020 como base (e a vitória por 3 a 0 sobre o Huachipato), podemos ver claramente a formação preferida do argentino e alguns dos seus conceitos: pontas Gonzalo Tapia e Alexander Aravena abrindo o campo, os volantes/meias Diego Buonanotte e Luciano Aued aparecendo constantemente no ataque e o ótimo Ignacio Saavedra mais próximo dos zagueiros para fazer a famosa “saída lavolpiana”. Embora Ariel Holan gostasse de equipes mais ofensivas, as lesões na Universidad Católica obrigaram o treinador a rever alguns dos seus conceitos e a adotar uma formação um pouco mais equilibrada do que o costume. Mesmo assim, o argentino foi muito bem no comando dos Cruzados. Foram 18 vitórias, onze empates e apenas cinco derrotas na campanha do tricampeonato chileno.

Ariel Holan gosta de armar suas equipes no 4-3-3 e o faz isso adotando uma mentalidade ofensiva. Volantes que pisam na área, laterais que apoiam constantemente o ataque e a popular “saída lavolpiana” são alguns dos pontos que tenta implementar nas suas equipes. Foto: Reprodução / YouTube / CDF & TNT Sports Chile

É preciso dizer que o treinador argentino quase viu o título escapar por conta de uma certa irregularidade da sua equipe e de uma série de lesões no elenco. Por outro lado, no empate sem gols contra o Union La Calera (jogo que confirmou o tricampeonato chileno para a Universidad Católica), Holan buscou uma formação mais equilibrada e uma variação para o 5-3-2 com o recuo do “ponta” Gastón Lezcano para a linha defensiva. O objetivo aqui era fechar o lado direito, compactar mais o setor e permitir que o atacante Fernando Zampedri pudesse ter espaço para acelerar nos contra-ataques. É possível dizer que Ariel Holan se manteve praticamente irredutível com relação seu modelo de jogo (o já conhecido e amplamente estudado 4-3-3), mas conseguiu adaptar sua equipe a diversas situações de jogo a partir da sua formação preferida. Os conceitos táticos do treinador argentino são bem claros.

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O recuo de um dos “pontas” para a linha defensiva (e a variação para o 5-3-2) foi uma das adaptações que Ariel Holan fez para dar mais equilíbrio defensivo para a sua Universidad Católica. Mesmo assim, tudo é feito a partir do seu 4-3-3 preferido e dos seus conceitos bem claros de jogo. Foto: Reprodução / YouTube / TNT Sports Chile

Todas essas ideias já eram facilmente percebidas no seu Independiente campeão da Copa Sul-Americana de 2017. Ariel Holan apostava num elenco de bastate qualidade e que comprou as suas ideias num primeiro momento (até os problemas de relacionamento com jogadores e diretoria) numa campanha que surpreendeu muita gente. Principalmente por conta da grave crise financeira enfretada pelo Rey de Copas já naquela época. A equipe contava com ótimos nomes e mesclava a vitalidade dos então jovens Fabricio Bustos, Gastón Silva, Ezequiel Barco e Martín Benítez (o mesmo que defendeu o Vasco no Brasileirão de 2020) com a experiência de Walter Erviti, Juan Sánchez Miño, do venezuelano Fernando Amorebieta e de Emmanuel Gigliotti. Aquele Independiente também jogava no 4-3-3 e aplicava vários dos conceitos já mencionados anteriormente e que marcaram o trabalho de Ariel Holan naquela Copa Sul-Americana.

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O Independiente campeão da Copa Sul-Americana em cima do Flamengo em 2017 já executava várias ideias de Ariel Holan com e sem a bola. E o 4-3-3 do treinador argentino seguia praticamente imutável, com a “saída lavolpiana”, os volantes que pisavam na área e muito volume de jogo. Foto: Reprodução / YouTube / CONMEBOL

Vale lembrar que aquele Independiente era uma equipe mais fluida e mais móvel do que a Universidad Católica. É verdade que o contexto era completamente diferente do que enfrentamos atualmente (com estádios vazios e tudo mais) e as possibilidades eram maiores. No segundo jogo da decisão da Recopa Sul-Americana de 2018 (contra o Grêmio), Ariel Holan adotou uma postura mais cautelosa, com as linhas um pouco mais baixas do que o usual. O Independiente (muito por conta da necessidade de se fazer caixa) já havia perdido Nicolás Tagliafico para o Ajax e Ezequiel Barco para o Atlanta United. Diante disso, o treinador argentino se viu obrigado a fazer uma série de adaptações. Mas a formação com o recuo dos “pontas” Jonathan Menéndez e Maximiliano Meza para a linha defensiva e com os volantes saindo no encalço dos adversários. Mas tudo partia do 4-3-3 praticamente imutável de Ariel Holan.

Ariel Holan usava seu 4-3-3 prarticamente imutável como base para variações táticas no seu Independiente. Os “pontas” recuavam até a última linha para fechar o espaço dos laterais adversários e o time fazia pequenas perseguições na frente da área com os volantes saindo mais para o combate. Foto: Reprodução / YouTube / CONMEBOL

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Nem é preciso dizer que Ariel Holan vai precisar de tempo para implementar seu modelo de jogo num Santos que ainda tenta colocar as contas em dia para reforçar seu plantel. Por outro lado, Marinho, Soteldo, Kaio Jorge e Lucas Braga não devem encontrar muitos problemas para se adaptar ao 4-3-3 do novo treinador, visto que essa formação foi utilizada por Jorge Sampaoli, Jesualdo Ferreira e até mesmo por Cuca nos últimos meses. Ariel Holan, inclusive, utiliza vários conceitos que foram implementados pelos antigos treinadores no escrete santista. Isso facilita o entendimento entre elenco e comissão técnica numa temporada que promete ser completamente desgastante para todos (dentro e fora de campo). Fora a confiança que o treinador argentino tem nos atletas da base. As saídas de Lucas Veríssimo e Diego Pituca devem ser repostas sem muitas dificuldades por Ariel Holan.

O Santos é mais um clube brasileiro que aposta num treinador estrangeiro sabendo que ele precisa de tempo para se adaptar ao novo país, ao futebol jogado aqui e ao elenco que irá comandar pelos próximos dois anos (pelo menos em tese). Será preciso paciência e compreensão de todos para que o projeto Ariel Holan dê resultados numa equipe que sofre com os problemas financeiros e que sofre para reforçar seu elenco. Mesmo que os resultados não apareçam num primeiro momento.

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