Você pode até achar que este colunista está exagerando ao falar de problemas coletivos numa equipe depois que ela vence um jogo por 4 a 1. Acredite: não é exagero. A Seleção Brasileira Feminina venceu a frágil Argentina de Carlos Borrello pelo placar citado na estreia da equipe na She Believe Cup nesta quinta-feira (18) em Orlando, nos Estados Unidos. Por mais que a equipe comandada por Pia Sundhage esteja utilizando a competição amistosa para realizar testes, é preciso dizer (mais uma vez) que algumas das escolhas da treinadora sueca são sim bem questionáveis. Mesmo com a goleada sobre o rival sul-americano, ainda existe muita coisa a ser resolvida na Seleção Feminina em todos os setores. A impressão que fica é a de que o escrete canarinho mais venceu o jogo por conta do talento individual do que pelo jogo coletivo e pela estratégia. E isso é preocupante demais.
Sem Luana e Formiga (que não foram liberadas pelo Paris Saint-Germain), muita gente pensou que Pia Sundhage fosse escalar Andressinha ao lado de Júlia Bianchi na frente da zaga brasileira. No entanto, não foram apenas vocês que se espantaram quando a escalação foi divulgada. Adriana (que já jogou mais recuada com Arthur Elias no Corinthians) entrou como titular, Camilinha entrou na lateral-direita e Marta foi jogar mais pelo lado esquerdo no 4-4-2 básico da treinadora sueca. Com pouca gente pensando o jogo no meio-campo (até pela característica das titulares), a primeira etapa acabou marcada pelas bolas longas para Bia Zaneratto e Debinha no ataque e pela pouca criatividade da equipe. A única coisa que deu certo foi as jogadas de ultrapassagem. Foi assim que Adriana (talvez uma das mais lúcidas em campo) recebeu no meio e só foi parada com falta de Aldana Cometti dentro da área.
As jogadas de ultrapassagem e as subidas de Adriana ao ataque foram o único ponto positivo da Seleção Feminina no primeiro tempo da partida contra a Argentina. O meio-campo criou pouco e a equipe de Pia Sundhage abusou das ligações diretas procurando Bia Zaneratto e Debinha no ataque. Foto: Reprodução / SPORTV
A penalidade convertida por Marta deu um pouco mais de tranquilidade pata a Seleção Feminina. Mesmo assim, o time só melhorou no segundo tempo, quando Pia Sundhage mandou Andressinha para o jogo. E ainda assim não foi nada de muito extraordinário. Ao mesmo tempo, a movimentação ofensiva do escrete canarinho também ganhou mais mobilidade, com Bia Zaneratto mais participativa e Debinha atacando os espaços que surgiam na defesa da Argetnina. Os gols brasileiros da segunda etapa (marcados pela camisa 9, por Adriana e Geyse) surgiram exatamente dessa movimentação. A atacante de referência recebe a bola, atrai a marcação e abre espaços que foram muito bem aproveitados com passes em profundidade. E isso tudo com a marcação alta e o apoio das volantes para aproveitar a sobra e/ou fazer a pressão na portadora da bola. Foram poucos momentos de bom futebol, mas que merecem a nossa atenção.
Zagueiras adiantando a marcação, volantes apoiando e atacantes dando profundidade às jogadas. Os melhores momentos da Seleção Feminina no jogo desta quinta-feira (18) aconteceram quando Bia Zaneratto (ou Cristiane) abriam espaços e esperavam a movimentação de Debinha ou Geyse no terço final Foto: Reprodução / SPORTV
Embora a Argentina tenha ameaçado pouco a meta brasileira, este que escreve precisa colocar que o setor defensivo é um dos que mais precisa de ajustes. Não pela dupla de zaga, mas por duas decisões de Pia Sundhage. A primeira é a insistência na escalação de uma zagueira na lateral-direita. Difícil entender essa escolha quando o Brasileirão Feminino revelou tantas atletas da posição que poderiam estar sendo melhor aproveitadas. E a segunda é a escalação de Camilinha na posição. A camisa 18 vem jogando como meio-campo há algum tempo e já não tem mais o “cacoete” para jogar na linha defensiva. Tanto que o posicionamento corporal da jogadora no lance do gol marcado por Mariana Larroquette é completamente equivocado. E ainda existe um outro detalhe: Marta nem aparece no frame abaixo para ajudar na marcação ou pelo menos fechar seu setor. Uma verdadeira sucessão de erros num lance despretensioso.
Tainara (zagueira improvisada na lateral-direita) permite que Yamila Rodríguez tenha tempo e espaço para fazer o cruzamento no segundo pau. A experiente Mariana Larroquette aproveita o vacilo de Camilinha (outra jogadora que não é da posição) para marcar o gol de honra da Argentina. Foto: Reprodução / SPORTV
Sim, a Seleção Feminina sobrou na partida e venceu com toda a justiça. Mas a impressão que ficou foi a de que o escrete comandado por Pia Sundhage sofreu mais do que o necessário. Ainda mais diante das dificuldades apresentadas no primeiro tempo na criação das jogadas e nos já mencionados problemas defensivos. Este colunista entende muito bem que a presença de Marta no grupo é importante pela história da nossa Rainha e por tudo que ela representa. Mas Pia Sundhage precisa fazer uma escolha: ou utiliza a camisa 10 numa formação que tire qualquer obrigação defensiva de suas costas ou segue insistindo no seu posicionamento pelo lado do campo. E aqui não existe certo ou errado. A decisão da treinadora sueca vai gerar consequências dentro de campo. Futebol é isso. Mas vale mesmo insistir em Marta jogando como “ponta” sabendo que ela já não entrega o mesmo desempenho de outros anos?
O próximo compromisso da Seleção Feminina é o jogo contra os Estados Unidos, marcado para o próximo domingo (21). A partida pode ser um verdadeiro divisor de águas para Pia Sundhage na Seleção Feminina. Principalmente pela qualidade do seu adversário. Mas é preciso ter em mente que o resultado não pode esconder os pontos positivos e negativos da equipe. E nesses tempos de preparação, é preciso olhar muito além do placar final.
ESTREIA COM VITÓRIA! A Seleção Brasileira Feminina começou voando no Torneio She Believes. Goleada por 4 a 1 contra a Argentina! Domingo tem mais, hein?
⚽ – Marta
⚽ – Debinha
⚽ – Adriana
⚽ – GeyseFotos: Sam Robles / CBF pic.twitter.com/hQith33pR9
— CBF Futebol (@CBF_Futebol) February 18, 2021
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