Home Futebol Desorganização, apatia e mais desespero: atropelamento em cima do Vasco foi justíssimo

Desorganização, apatia e mais desespero: atropelamento em cima do Vasco foi justíssimo

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a derrota dos comandados de Vanderlei Luxemburgo para o Fortaleza de Enderson Moreira

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.
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Não é muito difícil entender a mecânica do futebol. Tudo se resume ao controle dos espaços, à imposição de um estilo de jogo (como bem dizia Sepp Herberger) e ao bom aproveitamento das chances criadas a partir de uma estratégia pré-estabelecida pelo treinador. Sempre que uma dessas engrenagens não funciona, a chance de derrota aumenta consideravelmente. Foi mais ou menos isso que vimos nesta quarta-feira (10) na Arena Castelão. Um Fortaleza minimamente organizado aproveitou as (muitas) fragilidades do Vasco em todos os setores e construiu uma vitória (justíssima) por 3 a 0 sem muitos sustos. Vanderlei Luxemburgo, por sua vez, não conseguiu corrigir o posicionamento defensivo da sua equipe (que cansou de conceder espaços generosos na frente da área defendida por Fernando Miguel) e viu o Leão do Pici passear na capital cearense e se afastar da zona do rebaixamento.

Este que escreve entende perfeitamente a preocupação de Vanderlei Luxemburgo com as condições físicas de Germán Cano, o jogador mais decisivo do Vasco. O grande problema nem estava na escolha da equipe que iniciou a partida contra o Fortaleza, mas na maneira como o treinador do Trem Bala da Colina organizou sua equipe. Benítez (o único lúcido do meio-campo vascaíno) ficou “encaixotado” no lado esquerdo enquanto que Ygor Catatau parecia perdido jogando no comando de ataque. Mas o grande problema estava na frente da defesa. A zaga formada por Marcelo Alves e Leandro Castán não se achou no jogo, os volantes Bruno Gomes e Caio Lopes ficaram sobrecarregados e o ataque pouco ajudava na marcação. O resultado disso era um Vasco espaçado contra um Fortaleza que se fechou em duas linhas e explorou bem o nervosismo do seu adversário com o gol de Igor Torres logo aos seis minutos de partida.

Fortaleza vs Vasco - Football tactics and formations

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Vanderlei Luxemburgo apostou em Benítez jogando a partir do lado esquerdo e na escalação de Ygor Catatau no comando de ataque, mas viu o Vasco conceder espaços demais no meio-campo e sofrer para se defender. Já o Fortaleza apenas fez o simples: se fechou em duas linhas e apenas esperou o melhor momento para atacar.

É evidente que o gol marcado no início do jogo disputado na Arena Castelão permitiu que o Fortaleza de Enderson Moreira impusesse seu estilo de jogo e explorasse as deficiências de um Vasco que tropeçava nas próprias pernas mais uma vez. David e Igor Torres ajudavam a compactar o time no meio-campo e a “encaixotar” Carlinhos e Benítez. Na prática, Enderson Moreira apenas orientou que sua equipe se fechasse num 4-4-2 e que colocasse bastante intensidade nas transições a partir do momento em que a bola fosse recuperada. Nada além disso. O futebol é simples, lembram? E com um Leão do Pici ligado em cada lance (e um Trem Bala da Colina desconcentrado e completamente apático), o resultado não poderia ser outro senão um passeio da equipe cearense. Sem exageros de nenhuma parte. Aliás, o Vasco de Vanderlei Luxemburgo se livrou de sofrer uma goleada história nesta quarta-feira (10).

Enderson Moreira fechou o Fortaleza em duas linhas na frente da área defendida por Felipe Alves e apenas esperou o melhor momento para avançar e encaixar os contra-ataques. Nada muito rebuscado diante de um Vasco que ficou completamente “encaixotado” e pouco fez para se livrar da marcação no meio-campo. Foto: Reprodução / Premiere

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O lance do segundo gol do Fortaleza (marcado por David aos 43 minutos do primeiro tempo) é o mais completo resumo da atuação dos comandados de Vanderlei Luxemburgo na noite desta quarta-feira (10). Laterais avançando sem cobertura, meio-campo espaçado e zagueiros perdidos. O Fortaleza só precisou manter a formação básica do 4-2-3-1 costumeiro de Enderson Moreira e esperou seu adversário se abrir para impor seu estilo de jogo. Simples como dois e dois são quatro. O Vasco, por sua vez, seguia errando demais em todos os setores e concedendo espaços demais na frete da sua área. Romarinho (aos 17 minutos do segundo tempo) fecharia o placar na Arena Castelão aproveitando belo passe de Osvaldo (depois de bobeira de Marcelo Alves na saída de bola). Foi o retrato perfeito de um Trem Bala da Colina desgovernado e sem um mínimo de consistência tática. Ficou muito barato para o Vasco.

Equipe espaçada, desorganização tática e uma apatia do tamanho da Arena Castelão. O Vasco comandado por Vanderlei Luxemburgo errou demais e foi derrotado de maneira justíssima por um Fortaleza que procurou fazer o simples e executou bem o plano de jogo do técnico Enderson Moreira. Foto: Reprodução / Premiere

Alguns podem dizer que também falta sorte ao Vasco. Mas o que é a sorte senão a soma entre o trabalho e a competência de quem executa as ações dentro de campo? Se a bola de Carlinhos (logo no primeiro minuto) tivesse entrado, o jogo teria sido outro, com toda a certeza. Se o gol de Cano não fosse anulado por conta de falta de Henrique em cima de Romarinho, a história poderia ter sido um pouco diferente. O que não muda é o fato dos comandados de Vanderlei Luxemburgo terem feito a sua pior partida nesse ano de 2021. Não somente pelos problemas levantados anteriormente, mas pela apatia imensa com que a equipe aceitou o resultado diante de um Fortaleza esforçado e minimamente organizado. Talvez com a exceção do argentino Benítez (um dos poucos que lutou o tempo todo), o escrete de São Januário parece ter aceitado a derrota com uma passividade enorme. Preocupante.

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O resultado fora de casa apenas comprova que o Vasco precisa se encontrar o mais rápido possível. Os comandados de Vanderlei Luxemburgo já não dependem de si para sair da zona do rebaixamento e vão vendo seus adversários se afastarem da “confusão” na parte de baixo da tabela do Brasileirão. Há como o Trem Bala da colina jogar mais e melhor. Mas será preciso mais do que organização. Falta ânimo e confiança. Isso é nítido.

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