Home Futebol Respeita meu cabelo! O “racismo velado” é assunto no futebol

Respeita meu cabelo! O “racismo velado” é assunto no futebol

A história mostra casos em que jogadores sofreram por conta dos seus cortes de cabelo. E a realidade atual ainda mostra casos de racismo nesse sentido

Flavio Souza
Formado em Gestão de TI e cursando Jornalismo. Desde 2006 escrevo sobre esportes em geral, ingressando em dezembro de 2018 no site Torcedores.com, onde atualmente exerço função de Colaborador Sênior. Atualmente meu foco é no futebol brasileiro e internacional, mas procuro falar sobre outras modalidades, como esportes olímpicos, por exemplo. Meu foco é trazer informações relevantes sobre os clubes fora de campo, como entrevistas, análises financeiras, desempenho das equipes em redes sociais e análises táticas.

Recentemente a internet se mobilizou para discutir a polêmica criada no programa Big Brother Brasil. Isso porque o cantor sertanejo Rodolffo fez um comentário sobre o cabelo do professor João, que se sentiu ofendido ao ter seu penteado “Black Power” comparando há uma peruca de homem das cavernas. A discussão cresceu tanto de proporção que o apresentador Tiago Leifert quebrou o protocolo e teve um “papo” com Rodolffo. Nessa conversa ele explicou as origens do penteado, a simbologia dele na cultura moderna e conceitos sobre racismo estrutural no nosso país.

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Mas essas polêmicas sobre tipos de cabelo não são um privilégio de programas de entretenimento. Esse tema já foi dor de cabeça dentro das quatro linhas também. Na década de 60, o lendário técnico João Saldanha criticava o uso do estilo Black Power dentro de campo. Segundo ele, o cabelo atrapalhava na hora do jogador cabecear pois “amortecia a bola” e consequentemente, prejudicava o desempenho.

Já por motivos mais conservadores, o Mestre Telê Santana também restringia penteados entre os seus atletas. No início dos anos 90, ele comandava o vitorioso elenco do São Paulo. Logo após a conquista da Libertadores da América de 1992, o atacante Macedo, que estava com moral alta pela boa atuação na final, chegou para treinar com um corte de cabelo diferente, imitando seu ídolo holandês Ruud Gullit. Telê Santana ficou nada satisfeito e mandou o jogador desfazer o corte de cabelo – que demorou cerca de 10 horas para ficar pronto – ou não jogaria mais pelo clube. Macedo demorou mais 3 horas para desfazer de seus dreads.

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Casos no futebol internacional

Os casos de jogadores tendo problemas por conta do seu corte de cabelo também são assunto fora do Brasil. Um caso que ganhou repercussão mundial foi o do volante argentino Fernando Redondo. Conhecido pelo seu cabelo longo durante toda a carreira futebolística, o volante, que atuou por grandes clubes como Real Madrid e Milan, recebeu a ordem de cortá-lo do técnico da seleção argentina da época, Daniel Passarela. Se não acatasse a decisão do treinador, não seria convocado para a Copa do 1998. Redondo não aceitou e Passarella cortou um dos melhores jogadores da posição de todos os tempos para a Copa. A Argentina foi eliminada nas quartas de final pela Holanda por 2 a 1.

Cortes de cabelo no cenário atual do futebol

Hoje a realidade é bastante diferente. É comum encontrar jogadores com cabelos coloridos e cortes de cabelos dos mais variados. Hoje o raro é encontrar algum atleta com o cabelo curto sem nenhuma extravagância.

De acordo com Marcelo Segurado, diretor executivo de futebol, com passagens por Goiás e Ceará, os clubes não ligam mais para os cortes de cabelo de seus jogadores. “Antigamente havia um aspecto conversador por parte de muitos dirigentes e treinadores, mas é algo do passado. No futebol moderno não existe esse tipo de preconceito em relação sobre o que o jogador veste, se gosta de se tatuar, se gosta de fazer um penteado diferente. As características individuais são respeitadas. O corte de cabelo não define o caráter, que é o que realmente conta. ”No futebol atual, com toda certeza encontramos os mais diferentes tipos de corte de cabelo”, afirmou Marcelo.

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Racismo ainda persiste

Apesar de hoje ser mais bem aceito, ainda existem casos onde os atletas sofrem preconceito por conta do seu estilo. Por um lado, temos Neymar como grande nome. O brasileiro costuma inovar, seja com um estilo moicano ou até tingindo seu cabelo de rosa.  Outro destaque é Paul Pogba. O jogador não só apresenta novos estilos para dentro de campo como também traz alguns significados aos cortes, como uma vez em que fez um corte em referência à luta contra o racismo.

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Por outro lado, é importante ressaltar casos que mostram como esse problema ainda persiste.  Durante a Copa do Mundo de Futebol feminino de 2019, após a eliminação para a seleção francesa, brasileiros foram atacar a jogadora Wendie Renard, criticando seu corte de cabelo como “ruim” e “duro”.  Outro exemplo é o do atual técnico do Manchester United, Ole Gunnar Solskjaer. Quando treinava a equipe do Molde, da Noruega, foi chamado para observar um jogador, porém desistiu após observar o corte de cabelo do atleta, que era um moicano..

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