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Tradição e futebol: o País Basco na final da Copa do Rei

Athletic Bilbao e Real Sociedad fazem final histórica pro País Basco logo mais na Espanha.

Lucas Silva
Jornalista | Fundador e editor-chefe do Saida Falsa | ADM no Athletic Club Brasil. Apaixonado pelo futebol americano desde 2008, sofro semanalmente com Corinthians, New Orleans Saints, Miami Heat e Edmonton Oilers.

Pela primeira vez na história, o dérbi do País Basco entre Athletic Bilbao e Real Sociedad pode decidir um título nacional. Os rivais de longa data se enfrentam no próximo dia 3 pela final da Copa do Rei da temporada 2019/2020.

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A decisão histórica foi adiada em comum acordo para que haja público no Estádio de La Cartuja, em Sevilla. Contudo, por conta do agravamento da pandemia de COVID-19, não haverá torcidas no estádio.

Esta final histórica vai além do futebol, uma vez que existe muita coisa por trás do aspecto esportivo que envolve os clubes bascos, em especial o Athletic.

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Um pouco de história

O País Basco (ou País Vasco, em castelhano) é uma das 17 comunidades autônomas da Espanha, localizada no norte espanhol. Seu território histórico constitui na junção das regiões do País Basco e de Navarra, além do País Basco francês, parte do departamento dos Pirenéus Atlânticos. Este conglomerado equivale a 20 mil km², com cerca de três milhões de habitantes.

A princípio, a região histórica do País Basco foi ocupada pelos vascões no século I a.C. Durante o período, a região é conquistada pelo Império Romano, chefiada por Pompeu. Lá, ele fundou a cidade de Pamplona, capital histórica do País Basco.

Posteriormente, o Reino de Navarra foi fundado no século IX. Por conta de conflitos internos, a região foi conquistada por Castela no século XVI, tornando-se parte da Espanha. A parte francesa foi absorvida por Henrique V, rei de Navarra e herdeiro do trono francês. Portanto, parte do território histórico basco é de posse francesa.

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A Ikurriña, bandeira do País Basco, criada em 1895. É frequentemente usada como braçadeira de capitão dos clubes bascos.

O Sul foi assimilado por Castela dentro de uma identidade castelhana: o reconhecimento dos costumes bascos eram cedidos em troca de lealdade à Coroa. A partir do século XIX, a coroa acabou com a autonomia basca. Contudo, surgia os primeiros movimentos e figuras nacionalistas.

A tradição ligada ao futebol

Criado em 1898, o Athletic Club é um retrato de muita luta e resistência. Por conta da opressão sofrida na ditadura franquista, aflorou-se um sentimento nacionalista basco, que é perpetuado no clube até os dias de hoje.

No início, a regra de contratações surgiu em 1912, mas desde 1919, o clube só aceita jogadores que são desenvolvidos em terras bascas ou nascidos/possuem descendentes bascos. Para Henrique Toscano, torcedor do Atheltic que morou em Bilbao em 2019, o sentimento basco é muito forte:

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Eles têm muito orgulho de serem bascos, todos os torcedores que eu conheci são favoráveis a essa regra do clube. E mesmo com a restrição de jogadores, o Athletic trabalha muito as suas categorias de base, desde jovem eles [o clube] mostram o quão importante é a identificação basca.”

Formado em Relações Internacionais pela PUC-MG, Henrique conta que sempre quis morar na Espanha: “É um país que eu gosto muito da cultura e a faculdade tinha a opção de eu ir para Barcelona ou pra Bilbao e eu queria ir para Barcelona porque era mais famosa, isso foi em 2017, 2018. Porém houve aquele atentado terrorista na Catalunha e para ser mais seguro eu fui para Bilbao”.

Na história do Athletic houve raros registros de atletas nascidos no exterior com vínculos bascos. Por exemplo, o primeiro deles foi o brasileiro Vicente Biurrun (1986-1990). Assim como os franceses Bixente Lizarazu (1996-1997), campeão mundial em 1998 e Aymeric Laporte (2012-2018).

Entretanto, a recepção aos jogadores negros fora determinante para a diversificação do clube que representa o amor basco. O zagueiro Jonás Ramalho foi o primeiro a atuar no clube em 2011. Em 2014 foi a vez de Iñaki Williams, primeiro negro a marcar um gol com a camisa rojiblanca, em 2015.

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Sendo um rebelde em meio ao futebol globalizado, o Athletic Bilbao é o quarto maior campeão de La Liga com oito títulos e o segundo maior campeão da Copa do Rei, com 23 taças. Além disso, é um dos três times (junto de Real Madrid e Barcelona) que nunca foram rebaixados.

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A rivalidade e a final

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Em mais de 110 anos de rivalidade, o Euskal Derbia acumula histórias e jogos marcantes. A princípio, a disputa dos dois times está ligada na rivalidade das cidades: Enquanto Bilbao é um centro industrial de forte economia, a Real Sociedad vem de San Sebástian, cidade de belas praias e referência no turismo. Ao todo, são 167 confrontos, 68 vitórias pro Athletic e 57 para a Real.

O diretor do estádio do Athletic Bilbao, o San Mamés, Borja González Bilbao declarou, em entrevista a Veja:

“Se decidíssemos contratar estrangeiros perderíamos nossa essência sem ter garantia nenhuma de sucesso. Basta ver a Real Sociedad, que passou a comprar atletas de fora e foi rebaixada.”

Sobretudo, a fala remonta sobre a regra de contratações: a Real permitiu a entrada de estrangeiros a partir de 1989 e na temporada 2006/2007 foi rebaixada.

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Sobre o estádio San Mamés, Henrique conta que a torcida é o 12º jogador: “O clima é muito legal, a torcida é muito apaixonada, canta o tempo todo, a única coisa mais chata é que todos assistem o jogo sentados, diferente daqui do Brasil.”

Quanto a rivalidade com a Real Sociedad, entretanto, o orgulho basco une as duas torcidas e os clubes se unem para defender as tradições regionais. Por esse motivo, os derbies são marcados por manifestações a favor da valorização da cultura basca.

É bem tranquila, a torcida do Athletic é muito receptiva e maior que a da Real, fora que o time é mais sucedido e tem retrospecto favorável.”, comenta Henrique.

Por fim, a final será às 16:30 da tarde, horário de Brasília, com transmissão da Fox Sports. O Athletic de Marcelino Toral tem desfalque do meia Oier Zarraga, que deve ficar fora pelo próximo mês. Enquanto a Sociedad de Imanol Alguacil não deverá contar com o meia Asier Illarramendi.

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