Home Futebol Dificuldades para propor o jogo e falta de criatividade marcam o empate entre Cruzeiro e Botafogo

Dificuldades para propor o jogo e falta de criatividade marcam o empate entre Cruzeiro e Botafogo

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a atuação equipes comandadas por Marcelo Frigério e Gláucio Carvalho no jogo deste domingo (9)

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Ainda há quem pense que todos aqueles que se propõem a analisar as partidas do Brasileirão Feminino devem agir com uma certa condescendência com relação à qualidade do futebol apresentado por duas equipes. Este que escreve entende bem as dificuldades da modalidade e todo o caminho realizado por cada jogadora para realizar aquele que é um sonho de vida. Por outro lado, a evolução do velho e rude esporte bretão também deve passar pelas críticas (sempre construtivas) daquilo que vemos dentro de campo. É mais ou menos esse o caso do empate entre Cruzeiro e Botafogo, em partida realizada neste domingo (9). As Cabulosas e as Gloriosas possuem jogadoras de muita qualidade e que podem somar muito com e sem a bola, mas a partida entre as equipes comandadas por Marcelo Frigério e Gláucio Carvalho ficou marcada pela falta de criatividade e pelas claras dificuldades na imposição de cada estilo de jogo no Sesc Venda Nova.

PUBLICIDADE

https://www.youtube.com/watch?v=mZaXwKGBNzc

O Cruzeiro começou a partida tentando ocupar o campo de ataque a partir do seu 4-1-4-1 inicial com Vanessinha, Mayara Vaz, Mariana Santos, Duda e Joelma se movimentando bastante no terço final. O problema é que faltava às Cabulosas calma nas tomadas de decisão e mais coordenação nas trocas de posição. A equipe celeste levava a bola ao campo adversário, não conseguia furar a linha de cinco das comandadas de Gláucio Carvalho e a bola voltava para o meio-campo. A consequência disso era um jogo sem graça. A equipe de Marcelo Frigério só conseguiu chegar ao seu gol quando resolveu acelerar nos passes, colocar um pouco mais de intensidade e apostar na virada de jogo de Mayara Vaz para Duda. A camisa 10 viu a chegada da boa lateral Lucero na entrada da área (onde nenhuma jogadora alvinegra fechava a linha de passe). Golaço que já entra no “hall” dos mais bonitos dessa edição do Brasileirão Feminino com toda a certeza.

PUBLICIDADE

O ataque das Cabulosas fez a movimentação correta para abrir o espaço na frete da área botafoguense. Por mais que as Gloriosas estivessem organizadas na frente da área, a equipe de Gláucio Carvalho vacilou na marcação de Lucero (fora da imagem) no lance do gol do Cruzeiro. Foto: Reprodução / MyCujoo

A vantagem no placar permitiria que a equipe de Marcelo Frigério jogasse de maneira mais reativa, fechando os espaços na defesa e aproveitando os contra-ataques. Só que outro problema apareceu: a recomposição defensiva. Já é sabido que o escrete celeste costuma fazer perseguições mais curtas a partir da última linha com as zagueiras Capelinha e Thamirys e que o Cruzeiro costuma deixar espaços às costas das laterais. Principalmente à esquerda, onde Rebeca Prado sofreu com as investidas de Juliana pelo seu lado. A camisa 9 das Gloriosas já havia desperdiçado uma chance incrível de empatar a partida pouco antes de partir pela direita com liberdade e encontrar Brenda dentro da área no lance do gol de empate do Botafogo. Contra-ataque rápido e vertical de duas jogadoras que poderiam entregar muito mais numa equipe mais ajustada. Vivian é outra que poderia render muito mais em outra situação de jogo.

PUBLICIDADE

O Botafogo de Gláucio Carvalho aproveitou bem os espaços que surgiam na última linha do Cruzeiro sempre com muita intensidade nos contra-ataques. Juliana foi a principal arma ofensiva das Gloriosas e participou diretamente do gol de Brenda no finalzinho do primeiro tempo. Foto: Reprodução / MyCujoo

Se a primeira etapa foi marcada pelo futebol pobre em ideias, os 45 minutos finais não foram muito diferentes. O Cruzeiro tentava levar perigo ao gol de Rubi na base das bolas levantadas na área e nos erros do seu adversário. Marcelo Frigério tentou dar mais consistência ao meio-campo mudando a formação para o 4-2-3-1 com mais velocidade pelos lados, mas sem muita intensidade nas transições ofensivas. Do outro lado, o Botafogo seguia a mesma cartilha embora mostrasse um pouco mais de organização nos movimentos do que o seu adversário desse domingo (9). O 4-4-1-1 de Gláucio Carvalho fechava bem os espaços no meio-campo, mas não tinha o ímpeto e a agressividade necessárias para aproveitar os buracos que apareciam na defesa celeste. Na prática, o que se viu foi um jogo amarrado no meio-campo com duas equipes que aparentavam ter mais receio de levar o gol do que partir para o ataque. O empate acabou sendo o resultado mais justo.

Com o meio-campo muito congestionado e com posturas mais pragmáticas do que o necessário, Cruzeiro e Botafogo acabaram fincando no empate no Sesc Venda Nova. Marcelo Frigério e Gláucio Carvalho não conseguiram dar mais criatividade às suas equipes no segundo tempo. Foto: Reprodução / MyCujoo

PUBLICIDADE

Embora o Brasileirão Feminino esteja apenas na sua sexta rodada, é preciso lembrar que a competição mais importante da modalidade no país costuma punir equipes que não conseguem ter um desempenho consistente nas primeiras rodadas. Muito por conta do altísismo nível de exigência nos âmbitos técnicos e táticos de cada um dos dezesseis clubes que disputam a Série A1. É por isso que este colunista não teve receio de criticar as atuações de Cruzeiro e Botafogo na partida deste domingo (9). Os dois times possuem jogadoras muito talentosas e que sabem se comportar muito bem nas mais diferentes situações. Pode ser que as dificuldades bem conhecidas do futebol feminino (salários menores, estrutura precária de treinos e a já conhecida má vontade por parte de dirigentes e imprensa) ainda sejam obstáculos difíceis de serem vencidos. O problema é que nem Botafogo e nem Cruzeiro podem usar isso como desculpa.

É fácil entender os motivos pelos quais as Cabulosas e as Gloriosas estão na parte de baixo da tabela do Brasileirão Feminino. O empate deste domingo (9) ficou marcado pela falta de criatividade e pelo excesso de pragmatismo. O futebol apresentado está muito abaixo da capacidade de cada uma das jogadoras de cada clube. Há como se jogar mais e melhor. Mesmo com todos os problemas já mencionados anteriormente. Fica o alerta para o futuro.

CONFIRA OUTRAS ANÁLISES DA COLUNA PAPO TÁTICO:

Entenda por que o cuidado com as pessoas é tão importante no futebol (e na vida também)

Manchester City adota o estilo “Muhammad Ali” e conquista virada importantíssima em cima de um aplicado PSG

PUBLICIDADE

SIGA LUIZ FERREIRA NO TWITTER