Home Futebol O duro choque de realidade de Sylvinho à frente de um Corinthians perdido e sem identidade

O duro choque de realidade de Sylvinho à frente de um Corinthians perdido e sem identidade

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a derrota do Timão para o Atlético-GO de Eduardo Barroca em jogo válido pela terceira fase da Copa do Brasil

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Antes de mais nada, é preciso deixar bem claro que ainda é muito cedo para se fazer qualquer julgamento sobre o trabalho de Sylvinho no comando do Corinthians. Além disso, é praticamente impossível realizar um recorte dos conceitos do treinador em apenas duas partidas. Por outro lado, é inegável que o ex-lateral do Timão já teve o seu choque de realidade. A derrota para o Atlético-GO nesta quarta-feira (2), no jogo de ida da terceira fase da Copa do Brasil, já escancarou a necessidade de se rever conceitos, formação tática e as escolhas de Sylvinho para o time titular. Do outro lado, o Dragão executava a estratégia de Eduardo Barroca com bastante eficiência e conquistava a sua segunda vitória seguida sobre o Corinthians jogando na Neo Química Arena em menos de uma semana. O lado bom dessa história toda é que o tal choque de realidade veio logo no segundo jogo do treinador à frente do Timão.

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É plenamente compreensível que cada treinador queira “deixar a sua marca” em cada equipe que treina. E com Sylvinho não é diferente. Já se sabe que o ex-lateral do Corinthians adota um estilo mais propositivo de jogo, com linhas mais adiantadas e valorização da posse de bola. Só que a opção do treinador por um 4-2-3-1 com Luan jogando como referência móvel na frente de Mateus Vital, Araos e Gustavo Mosquito simplesmente não funcionou. Tudo por conta da falta de mobilidade e intensidade do ataque corintiano. Ao mesmo tempo, a defesa falhava clamorosamente em lances simples. Ronald abriu o placar aos nove minutos da primeira etapa e João Paulo aproveitou bola roubada pelo camisa 7 do Atlético-GO aos 19 minutos para fazer o segundo. O escrete comandado por Sylvinho pouco se movimentava na frente e também abria espaços generosos entre as suas linhas. Definitivamente, nada deu certo para o Corinthians.

Corinthians vs Atletico-GO - Football tactics and formations

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Sylvinho apostou num 4-2-3-1 com Luan jogando como referência móvel no ataque e com Camacho e Ramiro formando dupla de volantes. Já Eduardo Barroca apostou em linhas mais baixas de marcação para aproveitar a velocidade de Ronald, João Paulo e Zé Roberto nos contra-ataques.

O que se via na prática era uma equipe que não sabia direito o que fazer com a bola. Mesmo com Mateus Vital e Gustavo Mosquito posicionados mais espetados pelos lados do campo e com os volantes Camacho e Ramiro aparecendo por dentro. Nesse ponto, o lance do segundo gol do Atlético-GO é emblemático. Raul Gustavo avança para tentar o chute a gol e é bloqueado por Ronald ainda na intermediária. Com toda a linha defensiva adiantada e mal posicionada, o Corinthians acabou se transformando em presa fácil para um adversário que procurou jogar de maneira organizada e muito intensa nas suas transições. Além disso, estava mais do que claro que o problema do Timão estava na falta de entendimento mútuo entre jogadores e Sylvinho. É preciso lembrar que a característica dos jogadores escolhidos pelo treinador do Timão não se encaixam com o estilo mais propositivo adotado por ele nos dois últimos jogos.

O Corinthians jogou com as suas linhas mais adiantadas, mas pecou demais pela falta de movimentação no ataque e pela lentidão nas transições. As características dos nomes escolhidos por Sylvinho não se encaixavam com seu estilo de jogo mais propositivo. Foto: Reprodução / GE / TV Globo

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A tola expulsão de Fagner no segundo tempo piorou ainda mais a situação de um Corinthians completamente entregue e que só conseguia levar perigo ao gol de Fernando Miguel na base das bolas levantadas para a área. Com dez em campo, Sylvinho arrumou sua equipe num 4-4-1, mas os problemas na compactação continuaram bem visíveis em todos os setores da equipe corintiana com botes errados e erros individuais crônicos. Se não fosse o goleiro Cássio e a trave, o Atlético-GO poderia ter aplicado uma goleada histórica na Neo Química Arena. Aliás, é preciso observar que o escrete comandado por Eduardo Barroca também fez por merecer a vitória em São Paulo. Os jogadores executavam muito bem os movimentos do 4-2-3-1 utilizado pelo treinador do Dragão e exploravam muito bem todas as deficiências do seu adversário, gerando bastante profundidade e amplitude com a movimentação no terço final. Ótima atuação coletiva.

O Atlético-GO executou muito bem a estratégia de Eduardo Barroca e explorou muito bem os problemas coletivos do Corinthians de Sylvinho. O setor ofensivo empurrava a defesa para trás e gerava profundidade e amplitude com movimentos simples e inteligentes. Foto: Reprodução / GE / TV Globo

O “lado bom” dessa atuação desastrosa do Corinthians nessa quarta-feira (2) é o fato de que o choque de realidade de Sylvinho veio “apenas” no segundo jogo no comando da equipe. O próprio treinador já admitiu rever conceitos, escalação, formação tática e se adaptar às características dos jogadores que tem à disposição. Difícil não cogitar o retorno ao esquema com três zagueiros utilizado por Vagner Mancini para dar mais consistência ao meio-campo e resolver o problema da cobertura dos laterais Fagner e Lucas Piton. Ao mesmo tempo, este que escreve ainda não conseguiu entender os motivos que levaram Sylvinho a voltar com Gil na zaga do Corinthians quando o jovem João Victor vinha fazendo boas apresentações. Adson, Vitinho e Cantillo, por exemplo, são atletas que têm características mais próximas daquilo que o treinador quer da sua equipe, mas não foram utilizados na partida contra o Atlético-GO.

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É compreensível que Sylvinho esteja conhecendo o elenco e dando chance aos mais experientes. O problema é que o Corinthians tem entregado muito pouco em jogo coletivo e consistência. O choque de realidade acabou vindo no momento certo para que o treinador do Timão consiga resolver os problemas crônicos de uma equipe que perdeu sua identidade ao longo dos últimos anos. Ainda há tempo, mas é preciso agir com mais rapidez e firmeza para que o Corinthians não fique à margem da luta por títulos em mais uma temporada.

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