Home Extracampo Messi, a chegada no Paris Saint-Germain e o “novo normal”

Messi, a chegada no Paris Saint-Germain e o “novo normal”

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa o potencial do clube francês e a reedição da dupla com Neymar nos tempos de Barcelona

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Este que escreve admite que terá certa dificuldade para se acostumar com esse “novo normal” imposto pelo contexto do futebol mundial. A saída de Lionel Messi do Barcelona pegou todos nós de surpresa pela maneira como ela aconteceu e pela forma como escancarou a crise financeira do clube catalão e as brigas com a La Liga por conta da criação da Superliga Europeia. O acerto com o Paris Saint-Germain de Neymar, Mbappé, Di María e Mauricio Pochettino era até certo ponto esperado pela maneira como as coisas se desenrolavam na Europa e não deixa de empolgar os amantes do velho e rude esporte bretão pela possibilidade de vermos tantas estrelas juntas num único time. Ainda que tudo isso seja muito estranho para quem se acostumou a ver Messi brilhando com a camisa do Barcelona (clube para o qual fez juras de amor mais de uma vez) nesses últimos anos, é possível sim se animar com o (enorme) potencial desse PSG.

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Em quase duas décadas no clube catalão, Messi se transformou várias e várias vezes. E talvez esse seja um dos motivos pelos quais é tão estranho vê-lo longe do Barcelona e vestindo a camisa do Paris Saint-Germain. Começou entrando aos poucos no time ainda comandado por Frank Rijkaard (na campanha vitoriosa da Liga dos Campeões de 2005/06) como ponta pela direita no 4-3-3 costumeiro do holandês e foi consolidando seu futebol aos poucos. Olhando para o passado, é muito difícil não ficar com um certo brilho nos olhos revendo os lances do argentino sob o comando de Pep Guardiola a partir de 2008. O trio de ataque formado com o camaronês Eto’o e o francês Henry se movimentava constantemente no conhecido “jogo de posição” do treinador espanhol. Já na conquista da Champions League de 2008/19, víamos um Messi muito mais “falso nove” do que ponta. Mas a grande revolução viria mais tarde.

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Messi já jogava muito mais como um “falso nove” do que como ponta pela direita no Barcelona campeão europeu em 2008/09. Pep Guardiola já percebia o potencial do argentino e tratou de adaptar seu esquema tático para encaixar o futebol do seu camisa 10. Foto: Reprodução / YouTube / TNT Sports & Esporte Interativo

Diante disso, é muito difícil não ver sua chegada ao Paris Saint-Germain como uma tentativa de resgate desse período vitorioso do Barcelona e do grande time montado e pensado por Pep Guardiola. Ainda que o contexto atual seja bem diferente daquele de dez, quinze anos atrás. Não deixa de ser também o desejo da diretoria do clube parisiense de montar uma equipe tão genial como aquela que levou duas Champions League em menos de três anos e finalmente se consolidar como um dos gigantes do continente. Mais velho e mais experiente, Messi deve ser a grande referência técnica de um PSG recheado de “velhos conhecidos” do agora camisa 30. Além de Neymar (o grande nome do time até então), temos Sergio Ramos (adversário e marcador implacável de tantos duelos contra o Real Madrid), o italiano Verratti e os companheiros de Seleção Argentina Paredes e Di María. É como se Paris já o estivesse esperando.

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Mas vale lembrar que Messi contava com o auxílio dos também geniais Xavi e Iniesta abrindo espaços e distribuindo passes no meio-campo naquele histórico Barcelona e que o contexto foi muito favorável para que ele fosse evoluindo seu jogo com e sem a bola e se transformando no grande símbolo de um time que encantou o mundo no final da década de 2000 e início de 2010. Ao invés de ser simplesmente um “falso nove”, Messi quis mais. Aparecia em todos os lugares do campo tal como o grande Johan Cruyff fazia na histórica Laranja Mecânica e também no Barcelona comandado por Rinus Michels na década de 1970. Era muito comum vê-lo carregando a bola desde a linha do meio-campo enquanto os companheiros de equipe atacavam o espaço aberto por ele. A atuação na conquista da Liga dos Campeões de 2010/11 e nos clássicos contra o Real Madrid são ótimas amostras do que Messe era capaz de fazer naquele Barcelona.

As atuações na Liga dos Campeões de 2010/11 e nos jogos contra o Real Madrid colocaram Messi no patamar dos maiores jogadores de todos os tempos. E o 4-3-3 de Pep Guardiola potencializava o talento do argentino ao dar liberdade de movimentação para seu principal jogador. Foto: Reprodução / YouTube / La Liga Santander

Só que a grande expectativa gira em torno da reedição da dupla com Neymar no Paris Saint-Germain a partir dessa temporada. E cabe aí analisar o contexto da conquista da Liga dos Campeões de 2014/15 de maneira mais profunda. Comandado por Luís Enrique, aquele Barcelona jogava num 4-3-3 que variava para um 4-4-2 conforme a movimentação do brasileiro para fechar o lado esquerdo no meio-campo. O então camisa 11 era muito mais flecha do que arco, isto é, se posicionava de modo a receber passes em profundidade e ainda contava com Luis Suárez arrastando a defesa para trás e Rakitic fazendo o contraponto defensivo pela direita. Vale lembrar que Neymar hoje exerce função muito parecida com a que Messe se sente mais confortável em campo e que Mauricio Pochettino vai precisar de tempo para encontrar a melhor maneira de encaixar tantos talentos. Luís Enrique conseguiu, mas em contexto bem diferente do atual.

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Neymar era muito mais flecha do que arco e fechava o lado esquerdo do meio-campo no Barcelona campeão da Champions League em 2014/15. Messi tinha liberdade para ocupar todo o campo no 4-3-3 de Luís Enrique e dava o tom criativo da equipe junto com Iniesta e Rakitic. Foto: Reprodução / YouTube / TNT Sports & Esporte Interativo

O tal “novo normal” não deixa de ter uma cara de resgate desse Barcelona multicampeão da década passada. Ainda mais sabendo que Messi quer mais uma Champions League para seu vastíssimo currículo. Só que, como já falado anteriormente, existe a necessidade de adaptação do argentino aos novos companheiros de equipe e com os conceitos de Mauricio Pochettino. Há como se imaginar o Paris Saint-Germain jogando num 4-3-3/4-4-2 com Mbappé e Di María voltando pelos lados e fechando o meio-campo junto com Paredes e Verratti. Ou num 3-5-2 com Kimpembe, Marquinhos e Sergio Ramos formando a defesa e Wijnaldum entrando no lugar de Di Maria num time mais encorpado. As possibilidades são as mais variadas possíveis nesse estrelado PSG. Mas o grande X da questão é saber como Pochettino vai adaptar Neymar e Messi, dois jogadores de raríssimo talento, mas que gostam de exercer a mesma função em campo.

É bem possível que adaptações (e sacrifícios) devam ser realizados para se adaptar tantos jogadores de alto nível. Mesmo assim, é muito difícil não se empolgar com a chegada do argentino ao Paris Saint-Germain e com a possibilidade de reeditar uma das últimas grandes duplas de ataque dos últimos tempos. Por outro lado, ver Messi jogando com a camisa do Paris Saint-Germain não deixa de ser um “novo normal” que pouquíssimos esperavam no início desse ano. O futebol é dinâmico, meus amigos.

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