“Queremos mudar o mundo”, diz brasileiro presidente do Comitê Paralímpico Internacional
Brasileiro Andrew Parsons preside o Comitê Paralímpico Internacional e avalia os Jogos de Tóquio 2020
Matt Hazlett/Getty Images
Presidente do IPC (Comitê Paralímpico Internacional), o brasileiro Andrew Parsons falou sobre os desafios de planejar e organizar o maior evento esportivo do paradesporto em meio a uma pandemia.
Em entrevista coletiva realizada na capital japonesa, Parsons detalhou expectativas para Jogos Paralímpicos de Tóquio, que terão a cerimônia de abertura na próxima terça (24), destacou por que considera esta edição a mais importante da história ee ressaltou o salto de qualidade do esporte brasileiro com o legado dos Jogos Rio 2016.
“O Brasil vai ter um resultado incrível aqui. Com o novo centro de treinamento construído e entregue antes dos Jogos Rio 2016, eles têm uma infraestrutura de ponta para se preparar. Eles estão almejando ficar entre os dez primeiros. Podem ter seu melhor resultado de todos os tempos aqui. Estou orgulhoso do que o Brasil está fazendo”, disse.
Confira os principais trechos da entrevista:
A chegada da hora dos Jogos Paralímpicos
“A sensação é de certo alívio e emoção ao mesmo tempo. É fantástico estar a poucos dias da abertura. Foi muito, muito difícil para todos e para o movimento esportivo. Logo após o adiamento no ano passado, havia muita incerteza: ‘Poderemos ter os Jogos? Poderemos torná-lo seguros’?”
“Trabalhando junto com o Comitê Tóquio 2020, com o governo do Japão e com o Comitê Olímpico Internacional (COI), foi incrível ver o progresso. Ao mesmo tempo, estávamos aprendendo com o comportamento do vírus. Foi realmente difícil porque ninguém sabia realmente o que estava acontecendo, como o mundo seria em um ano”.
Os desafios
“O desafio é garantir que todas as nações, todos os atletas e todos os stakeholders sigam as cartilhas estabelecidas pela organização. Já dissemos a eles que não seremos complacentes. Precisamos, de alguma forma, retribuir à população japonesa a confiança que eles depositaram em nós por termos vindo a sua nação com esses grandes eventos”.
“Precisamos garantir que o evento não será um grande propagador do vírus, que seremos disciplinados para separar nossa própria bolha da população japonesa. Esse é o maior desafio agora, em um contexto que já é naturalmente complicado pela complexidade dos Jogos”.
Impacto na sociedade
“Aqui no Japão existe um sentimento de superproteção às pessoas com deficiência. É um país acessível, mas você não vê muitas pessoas com deficiência nas ruas, por exemplo, e são uma em cada sete seres humanos. Onde estão? Estão sendo mantidos em casa, superprotegidos, e não precisam ser superprotegidos. Eles precisam ter oportunidades”.
“Acho que essa é a mensagem das Paralimpíadas. Eles podem ser atletas incríveis porque tiveram oportunidades, podem ter sucesso em todos os campos que desejem. Podem ser grandes cidadãos, pais, mães, amigos, chefes, empregados, empresários, qualquer coisa”.
“Normalmente é um processo de sete anos, e podemos nos preparar para os Jogos e ter esse grande catalisador, esse grande momento. Isso também acontece pela interação entre espectadores e atletas, mas como não temos espectadores aqui, estamos investindo muito em transmissão, em digital, para que possamos realmente conectar o que está acontecendo no campo de jogo com a sociedade japonesa e com o público global. Queremos que a mudança seja global, não apenas no Japão”.
Campanha “WeThe15”
“Queremos mudar o mundo e não podemos mudar o mundo apenas por meio do esporte. Acreditamos que a mudança começa com o esporte, mas precisamos nos conectar com os demais setores da sociedade. Os Jogos Paralímpicos são o único evento no mundo com pessoas com deficiência no centro das atenções em qualquer área, mesmo se você falar de arte, cultura, política, educação, economia”.
“Então temos a oportunidade de lançar uma campanha desse calibre, reunindo organizações que não são da área esportiva, para realmente mudar o mundo não só a cada quatro anos.”
“O que podemos fazer entre os Jogos Paralímpicos? Podemos fazer avançar a legislação nas nações? Tributação antecipada de tecnologia assistiva? Podemos colocar pessoas com deficiência na frente da câmera? Queremos mudar Hollywood, queremos ver mais pessoas com deficiência nos filmes. Os paralímpicos são uma pequena porcentagem das pessoas com deficiência. São exemplos incríveis, mas queremos mudar o mundo para 1,2 bilhão de pessoas”.
Deficiência x Pandemia
“É exatamente por isso que dizemos que esta é a edição dos Jogos Paralímpicos mais importante de todos os tempos. É a hora que eles precisam que suas vozes sejam mais ouvidas. Estamos dando a eles a plataforma. E não apenas por meio do esporte, é por isso que WeThe15 é tão importante”.
“O movimento paralímpico está pronto para isso. Há anos lutamos ou buscamos ser reconhecidos como um evento esportivo de elite, como uma organização esportiva forte e relevante. E agora queremos e iremos desempenhar um papel importante no que diz respeito aos direitos humanos”.
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