Home Esportes Olímpicos De Stoke-Mandeville a Tóquio: conheça a história das Paralimpíadas

De Stoke-Mandeville a Tóquio: conheça a história das Paralimpíadas

Evento na Inglaterra abriu caminho para a primeira edição dos Jogos Paralímpicos, em Roma-1960

Fernando Cesarotti
Jornalista, professor universitário e fã ardoroso de qualquer esporte. Autor do OlimpCast, podcast sobre esportes olímpicos.
PUBLICIDADE

Os Jogos Paralímpicos começam nesta terça-feira, em Tóquio. Será a 16ª edição do evento e a segunda na capital japonesa. Mas como começou a ideia de reunir pessoas com deficiência para a prática competitiva de esporte em alto rendimento, e não apenas como reabilitação?

Essa ideia remonta a 1944, quando um médico alemão chamado Ludwig Guttman foi chamado para gerenciar um hospital na cidade de Stoke-Mandeville, nos arredores de Londres. Esse hospital era conhecido por ser um centro de recuperação de pessoas com lesões na medula espinhal.

Guttman era de origem judia e havia fugido da Alemanha por causa da ascensão do nazismo antes da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Ele levou ao hospital ideias avançadas, na época, para o tratamento de pessoas sem movimento nas pernas. Por exemplo, virá-las na cama a cada duas horas, para evitar o surgimento de feridas.

PUBLICIDADE

Outra ideia era colocar as pessoas em cadeiras de rodas para fazer exercícios físicos. Não somente como fisioterapia, mas também como meio de melhoria na saúde mental e inclusão social.

O dia da primeira competição paralímpica

Em 29 de julho de 1948, o estádio de Wembley recebeu a abertura das Olimpíadas de Londres. Era a primeira edição do evento após a interrupção provocada pela guerra. No mesmo dia, na área aberta do Hospital de Stoke-Mandeville, acontecia uma disputa de tiro com arco. Só que os praticantes estavam todos sobre cadeiras de rodas.

O nome foi óbvio: Jogos de Stoke-Mandeville. A notícia correu, e a competição passou a ser disputada todos os anos, por cada vez mais gente. Em 1952, uma delegação saiu da Holanda para participar. Os esportes também cresciam: vieram o basquete, a esgrima, o tênis de mesa, a bocha e até a sinuca.

PUBLICIDADE

O apelido de “Olimpíada dos Paraplégicos” abriu espaço para a organização do evento pela primeira vez fora do Reino Unido. E isso aconteceria em 1960.

A primeira paralimpíada, de fato

Atletas e cadeira de rodas desfilam numa pista de atletismo durante a cerimônia de abertura das primeiras Paralimpíadas, realizads em roma, em 1960. Eles seguem um homem que anda com a bandeira da Itália. A imagem é em preto e branco. Eles ocupam ua curva de uma pista de atletismo entrando por uma passagem externa.

Em 18 de setembro de 1960, apenas uma semana após o encerramento dos Jogos Olímpicos, o Estádio Olímpico de Roma recebeu o desfile de abertura da 9ª edição internacional dos Jogos de Stoke-Mandeville. Anos depois, eles seriam reconhecidos retroativamente como a primeira edição das Paralimpíadas.

A disputa reuniu 400 atletas de 23 países, todos eles cadeirantes, com competições de oito esportes: arremesso de dardos, atletismo, basquete, esgrima, natação, sinuca, tênis de mesa e tiro com arco.

PUBLICIDADE

Criou-se a convenção de que a competição, a cada quatro anos, o hospital para se tornar um evento de alcance mundial, relacionado aos Jogos Olímpicos de pessoas sem deficiência. Tóquio, em 1964, foi a segunda cidade a receber o evento.

Relação conturbada

Até então, apenas cadeirantes disputavam as Paralimpíadas. Mas, em 1968, não houve acordo com os organizadores na Cidade do México, e o evento acabou sendo disputado em Tel Aviv, Israel. Em 1972, as Paralimpíadas foram na Alemanha Ocidental, mas não em Munique, e sim em Heibelberg. Foi a primeira vez que o Brasil participou.

Em 1976, houve algumas mudanças simbólicas. A competição finalmente ganhou o nome de Jogos Paralímpicos, com a adoção do prefixo “para”, que em grego quer dizer “além”. Atletas com deficiência visual e amputados que não precisavam de cadeira de rodas começaram a participar. A competição aconteceu no Canadá, mas em Toronto, e não em Montreal. E o Brasil ganhou sua primeira medalha.

Uma negativa ofensiva

Em 1980, a União Soviética se recusou a receber os Jogos Paralímpicos em Moscou. O regime comunista alegou que “não existem inválidos em nosso país” como motivo. Vale lembrar que essa palavra hoje está totalmente fora de uso como sinônimo de pessoa com deficiência.

PUBLICIDADE

Os Jogos daquele ano acabaram sendo disputados em Arnhem, na Holanda, com a estreia de pessoas com lesões cerebrais. E em 1984 eles foram divididos: os cadeirantes voltaram a Stoke-Mandeville, enquanto as demais disputas foram em Nova York. O Brasil ganhou nessa edição suas primeiras medalhas de ouro.

Enfim, juntos

Apenas em Seul, em 1988, os Jogos Paralímpicos foram reintegrados ao movimento olímpico. As disputas passaram a acontecer no formato atual: após o encerramento das Olimpíadas, uma pausa para adaptação de arenas e instalações como a Vila Olímpica antes da disputa das Paralimpíadas.

O Comitê Paralímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês) foi fundado no ano seguinte. Em 2001, a entidade assinou acordo com o COI (Comitê Olímpico Internacional) que estabeleceu definitivamente a condição de que sediar um evento obrigatoriamente leva a cidade a receber ambos.

Nesta terça-feira, a cerimônia de abertura marca o início das Paralimpíadas, com a disputa de 22 esportes. Clicando aqui, você vai saber como é a divisão de classes e categorias em cada um deles.

PUBLICIDADE

LEIA MAIS:

Quatro países desistem das Paralimpíadas por conta da Covid-19

Junto com a Globo: TV Brasil vai transmitir Paralimpíadas na TV aberta

 

PUBLICIDADE