Home Futebol Botafogo dá show de jogo coletivo em São Januário e Vasco percebe que a realidade pode ser muito cruel

Botafogo dá show de jogo coletivo em São Januário e Vasco percebe que a realidade pode ser muito cruel

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica como Enderson Moreira explorou os problemas coletivos do time comandado por Fernando Diniz

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

A atuação do Botafogo neste domingo (7) foi absolutamente irrepreensível. Não é exagero nenhum afirmar que o escrete comandado por Enderson Moreira teve uma daquelas atuações que serão lembradas por muito tempo. Contra-ataques de manual, muita aplicação tática e ótima marcação em cima de um atônito, apático e passivo Vasco. Aliás, é plenamente possível afirmar que a equipe de Fernando Diniz recebeu um golpe duro e certeiro de algo chamado REALIDADE diante dos seus enfurecidos e entristecidos torcedores dentro de São Januário. E quando menosprezada e ignorada, ela pode ser extremamente cruel. Os 4 a 0 aplicados pelo Botafogo saíram barato demais por tudo aquilo que vimos em campo neste domingo (7). Se o Glorioso assumiu a liderança do Campeonato Brasileiro da Série B com ótimos números (ver no tweet abaixo) e todos os méritos, o Vasco praticamente acabou com as mínimas chances que tinha de acesso com a goleada sofrida nesse domingo (7). O choro de Nenê ao final da partida é emblemático.

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O confronto em São Januário trazia duas equipes de estilos e propostas de jogo bem diferentes. Fernando Diniz preza pela valorização da posse da bola, pelas trocas de passe e triangulações sempre com muita intensidade (pelo menos em teoria) no campo ofensivo. Já Enderson Moreira tende a ser um pouco mais mais vertical e baseia suas estratégias em contra-ataques velozes e quase sempre fulminantes. A distância para o G4 da Série B obrigava o Vasco a sair mais para o jogo para conquistar a vitória tão necessária para seguir vivo na briga pelo acesso. Muito por conta disso, Fernando Diniz apostou numa marcação mais alta, com linhas bem adiantadas e pressão no campo adversário. O grande problema, no entanto, estava na maneira como o Trem Bala da Colina se comportava quando perdia a posse da bola. Cano e Ricardo Graça fizeram Diego Loureiro trabalhar, mas não demorou muito para que o castelo de cartas que era a defesa do Vasco se desfizesse com o contra-ataque de manual puxado por Luís Oyama, Warley e Marco Antônio.

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Apesar da postura mais ofensiva e com as linhas mais adiantadas, o Vasco de Fernando Diniz sofria com as péssimas transições defensivas e oferecia espaços generosos para o Botafogo. O primeiro gol alvinegro nasceu em contra-ataque de manual puxado por Luís Oyama, Warley e Marco Antônio logo aos 11 minutos. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

É interessante notar que Fernando Diniz estava preocupado com a transição defensiva da sua equipe desde o começo do jogo em São Januário. A necessidade da vitória e todo o cenário que nos era apresentado antes mesmo da bola rolar justificava essa postura mais agressiva do Vasco neste domingo (7). O grande problema é que do outro lado estava uma equipe que sabe muito bem jogar num contexto como esse. Ainda que o Botafogo tenha demorado um pouco para se encontrar em campo, a grande verdade é que o escrete de Enderson Moreira não encontrou nenhuma dificuldade para controlar as ações em todos os setores e impor seu estilo diante de um Trem Bala da Colina desgovernado, apático e sem confiança alguma. Isso era visível no semblante de jogadores como Nenê, Léo Matos, Zeca (um dos mais perseguidos pela torcida), Lucão e do próprio Fernando Diniz. Enquanto isso, Luís Oyama, Pedro Castro e Marco Antônio tomavam conta do meio-campo com bons passes, ótima leitura dos espaços e muita atenção nos movimentos.

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Enderson Moreira, por sua vez, não fez grandes mudanças na sua equipe. Mesmo sem contar com Chay (um dos principais jogadores do Botafogo nessa temporada), o treinador alvinegro manteve seu 4-2-3-1 costumeiro, com Marco Antônio um pouco mais por dentro, Diego Gonçalves e Warley abrindo o campo e Pedro Castro e Luís Oyama aparecendo na frente com certa frequência. Além disso, Carlinhos e Daniel Borges também participavam da criação das jogadas de ataque. Tudo para aproveitar os buracos enormes do 4-3-3 espaçado e desorganizado de Fernando Diniz. O segundo gol do Botafogo é um ótimo exemplo de como o Vasco sofria para se recompor sempre que seu adversário acelerava. Diego Gonçalves apareceu nas costas de Léo Matos, Leandro Castán e Ricardo Graça não acompanharam a jogada e Rafael Navarro apareceu justamente no espaço deixado pela dupla de zaga vascaína no meio da área. A facilidade que o Botafogo encontrava na partida beirava o inacreditável. Assim como a falta de concentração do time comandado por Fernando Diniz.

O Botafogo sempre pareceu mais organizado e mais concentrado. Fernando Diniz apostou num 4-3-3 que abriu espaços generosos entre as suas linhas e facilitou demais a vida do Enderson Moreira e do seu 4-2-3-1 costumeiro. A transição defensiva tenebrosa foi o grande problemas do Vasco neste domingo (7) e em toda a Série B. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

A tola expulsão de Léo Matos e os nervos em frangalhos dos jogadores vascaínos mostravam que o peso da realidade havia caído como uma pedra sobre o Vasco. Enquanto isso, o Botafogo seguia impondo seu estilo e dando show de jogo coletivo em São Januário. Marco Antônio fez o segundo dele e o terceiro do Glorioso em mais um belo passe de Luís Oyama num outro contra-ataque de manual elaborado pela equipe de Enderson Moreira. O que mais chamava a atenção deste colunista era a demora de Fernando Diniz para fechar o setor e compreender que era preciso mudar a postura para evitar uma goleada histórica em São Januário. Não foi por acaso que o treinador vascaíno organizou seu time num 4-4-1 com Nenê e Marquinhos Gabriel fechando os lados do campo, Wálber no lugar de Morato e Ricardo Graça na lateral-esquerda logo após o intervalo. Mesmo assim, o Botafogo fechou a goleada com Diego Gonçalves no início da segunda etapa e apenas administrou a vantagem até o apito final. Resultado mais do que justo.

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O Vasco se rearrumou num 4-4-1 depois da expulsão de Léo Matos, mas seguiu apresentando os mesmos problemas crônicos da primeira etapa. O Botafogo chegou a quatro gols no placar e apenas administrou a vantagem até o apito final. Superioridade técnica e tática do time comandado por Enderson Moreira. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

A atuação sólida e consistente do Botafogo não deixa de ser um choque de realidade para um Vasco que deixa a impressão de nunca ter entendido que estava num contexto bem diferente após o quarto rebaixamento em menos de quinze anos. Difícil não notar a dureza e o peso de uma realidade cruel para um clube centenário e vitorioso. Do mesmo modo, é impossível não reconhecer que o resultado deste domingo (7) foi o mais perfeito retrato da fase de Botafogo e Vasco nesses últimos dias. O primeiro cresceu demais na Série B, praticamente garantiu o acesse e assumiu a liderança da competição com uma sonora goleada na casa do rival. E o segundo vai permanecer mais um ano longe da elite por conta de uma sucessão de erros cometidos pela sua diretoria no planejamento da temporada, pela montagem do time e por mais uma série de escolhas duvidosas. Acabou que a realidade apareceu de surpresa e acertou dois cruzados de esquerda no torcedor que assistia ao jogo atônito nas arquibancadas de São Januário.

Mas é preciso dizer que o Botafogo merece a liderança da Série B por toda a evolução apresentada com Enderson Moreira e pelo poder de reação num momento em que muita gente duvidada da equipe de General Severiano. O show de jogo coletivo e toda a solidez do sistema defensivo do Glorioso são frutos de um trabalho consistente de um técnico que entendeu as características do elenco que tinha em mãos. Bem diferente do Vasco de Fernando Diniz e de tudo que o Trem Bala da Colina apresentou nessa Série B.

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