Home Futebol Salah chama a responsabilidade e Egito supera Marrocos na base da persistência, da eficiência e da concentração

Salah chama a responsabilidade e Egito supera Marrocos na base da persistência, da eficiência e da concentração

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica como os “Faraós” superaram os “Leões do Atlas” nas quartas de final da Copa Africana de Nações

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Felizes são aqueles treinadores que podem contar com um jogador do quilate de Mohamed Salah. O craque do Liverpool fez de tudo na vitória do Egito sobre Marrocos neste domingo (30), no Ahmadou Ahidjo Stadium, em Yaoundé. Marcou, recuou para armar o jogo, organizou sua equipe, superou o cansaço com a segunda prorrogação seguida e ainda deixou sua marca com um gol e uma assistência. Se os “Faraós” se garantiram nas semifinais da Copa Africana de Nações, muito se deve à atuação do seu camisa 10, capitão e principal jogador. Ainda mais sabendo que ele recebeu marcação especial por parte de Marrocos e sofreu um pouco para não ficar encaixotado na defesa dos “Leões do Atlas”. Egito mostrou mais futebol, esteve mais concentrada e foi muito mais eficiente durante os 120 minutos. E Salah mostrou mais uma vez porque é um dos melhores jogadores do mundo atualmente.

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Difícil não concluir que o gol marcado por Sofiane Boufal (em penalidade sofrida pelo lateral Achraf Hakimi, do Paris Saint-Germain) condicionou boa parte do jogo válido pelas quartas de final da Copa Africana de Nações. Com a vantagem no placar, Vahid Halilhodžić recuou um pouco as linhas do seu 4-1-4-1 para esperar os espaços que apareceriam na defesa do Egito. O problema, no entanto, estava na execução dessa estratégia. De acordo com os números do SofaScore, Marrocos finalizou sete vezes a gol no primeiro tempo. Apenas a penalidade cobrada por Boufal acertou o alvo. Muito pouco para quem teve a chance de sair na frente de um dos favoritos ao título mais importante do continente africano.

Do outro lado, Egito demorou para se acertar em campo. Mas quando o fez, dominou completamente as ações nos primeiros 45 minutos mantendo Salah mais solto no ataque (saindo da direita e buscando o espaço entrelinhas), Omar Marmoush fechando o lado esquerdo do 4-3-3/4-4-2 do português Carlos Queiroz e Mostafa Mohamed recuando como um “falso nove” e abrindo espaços para as chegadas do trio de volantes. Os “Faraós” tinham mais posse de bola, controlavam bem a profundidade, mas finalizaram pouco a gol no primeiro tempo. Apenas quatro chutes a gol com apenas dois deles indo na direção da meta do Yassine Bounou (mais conhecido como “Bono”). Faltava intensidade ao Egito e mais ousadia em Marrocos.

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Egito vs Marrocos - Football tactics and formations

Carlos Queiroz manteve o seu 4-3-3/4-4-2 que liberava Salah pela direita. Já Vahid Halilhodžić espelhou o sistema tático do seu adversário e apostou nas subidas de Hakimi.

Enquanto Egito depositava suas esperanças em Salah, Marrocos colocava suas fichas nas descidas de Hakimi ao ataque. Com os “Faraós” recuperados do baque do gol logo aos cinco minutos e distribuindo melhor os passes no meio-campo, os espaços começaram a aparecer. E era possível notar aqui uma constante na partida disputada no Ahmadou Ahidjo Stadium. Sempre que o camisa 10 egípcio puxava a marcação para a direita, o meio-campo marroquino abria espaços na sua intermediária. Isso porque o volante Sofyan Amrabat ajudava a fechar mais o lado esquerdo de defesa junto com o zagueiro Adam Masina e o zagueiro Nayef Aguerd e tirar o espaço de Salah. Com toda essa atenção em cima do jogador do Liverpool, os “Leões do Atlas” acabavam não acompanhando as descidas dos volantes Ayman Ashraf, Mohamed Elneny e Amr Al-Sulaya às costas dos volantes marroquinos. Faltava aprimoramento na conclusão das jogadas.

Todas as atenções do sistema defensivo de Marrocos estavam em Mohamed Salah. O problema é que isso abria espaços generosos para que Egito ocupasse o campo de ataque com a subida dos seus volantes e explorasse bastante o espaço entrelinhas. Foto: Reprodução / YouTube / CAF TV

Logo aos seis minutos do segundo tempo, Salah aproveitou o vacilo da zaga marroquina e o rebote do goleiro Bono após escanteio cobrado da esquerda e empatou a partida em Yaoundé. Só que o escrete comandado por Vahid Halilhodžić assimilou o golpe rápido e criou boas chances. A melhor delas aconteceu pouco depois da confusão provocada por Hakimi (aos 30 minutos) com o goleiro Gabaski fazendo defesa de cinema após cabeçada de Naif Aguerd. O camisa 16 de Egito (que já havia substituído o titular Mohamed El Shenawy no jogo contra Costa do Marfim) saiu lesionado no início da prorrogação e viu do banco de reservas o jovem Mohamed Sobhi assumir a bronca e Salah fazer um verdadeiro carnaval no lado direito de Marrocos antes de deixar Trézéguet com o gol vazio para marcar o segundo. O camisa 10 se projetou no espaço, foi para a linha de fundo e esperou o momento certo para fazer o passe.

Salah recebeu a bola no lado direito e arrastou Amrabat, Masina e Aguerd com até a linha de fundo antes de fazer o passe certeiro para Trézéguet marcar o gol da classificação de Egito. Impressionante como o camisa 10 dos “Faraós” foi decisivo na partida. Foto: Reprodução / YouTube / CAF TV

Este que escreve ainda tenta entender porque Marrocos explorou tão pouco o contexto da partida ao seu favor. O escrete comandado por Vahid Halilhodžić deu apenas cinco chutes a gol durante a prorrogação. Nenhum deles foi na direção da meta egípcia. Vale lembrar que Gabaski jogou machucado por seis minutos e que Mohamed Sobhi entrou em campo claramente nervoso. Por mais que o Egito tenha controlado o jogo e explorado bastante a simples presença de Salah no comando de ataque, os “Leões do Atlas” poderiam ter feito muito mais no jogo diante desse cenário mais favorável. Ainda mais sabendo que Hakimi tinha liberdade para avançar pela direita. Acabou que Egito teve mais concentração nos momentos decisivos da partida, foi mais eficiente na execução do seu modelo de jogo e ainda teve no seu principal jogador o grande responsável pela virada que colocou o time nas semifinais da Copa Africana de Nações.

A impressão que fica é a de que os “Faraós” foram encontrando a melhor formação e a maneira mais eficiente de jogar do decorrer da competição continental. Ainda que Salah venha fazendo a diferença com gols, passes e jogadas de efeito, Carlos Queiroz foi ajustando sua equipe aos poucos. E o confronto contra Camarões será um grande teste para o Egito. Não somente para que o maior campeão da Copa Africana de Nações mantenha vivo o sonho do título. Vale a própria afirmação de um time que já se superou várias vezes ao longo da competição.

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