Home Futebol Flamengo supera a ESMAC sem muitos problemas, mas primeiro jogo do ano não pode servir de parâmetro; entenda

Flamengo supera a ESMAC sem muitos problemas, mas primeiro jogo do ano não pode servir de parâmetro; entenda

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Luis Andrade e a classificação do escrete rubro-negro para as semifinais da Supercopa Feminina

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

É preciso dizer que o Flamengo quase não teve dificuldades para vencer o ESMAC por 2 a 0 e se garantir nas semifinais da Supercopa Feminina. A equipe comandada por Luis Andrade dominou completamente a partida disputada neste domingo (6), venceu quase todos os duelos físicos e teve em Duda e Darlene suas grandes referências técnicas com e sem a bola. E é exatamente por isso que a boa atuação no Estádio Luso-Brasileiro não pode servir de parâmetro para se projetar o que virá pela frente nessa temporada. Isso porque o time de Ananindeua mostrou que ainda precisa evoluir bastante se quiser fazer uma boa campanha na Série A1 do Brasileirão e criou pouquíssimas dificuldades contra um adversário mais qualificado tecnicamente e melhor preparado fisicamente. O Flamengo ainda precisa fazer ajustes em todos os seus setores. Principalmente se a equipe quiser ir longe em 2022.

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O contexto da partida deste domingo (6) já indicava que a ESMAC adotaria uma postura mais e cautelosa reativa diante de um Flamengo que teria Duda, Maria Alves, Gisseli, Leidiane e Monalisa (novos reforços do clube) em campo desde o início e um Luis Andrade completamente elétrico na beira do gramado. Do outro lado, o técnico Mercy Nunes pedia para que sua equipe tentasse tirar o espaço de circulação das atacantes rubro-negras, mas sem muito sucesso. O que se via era o domínio completo do campo por parte do time da casa e a adoção de um estilo mais vertical e objetivo ainda que a valorização da posse da bola seja um dos conceitos mais defendidos por Luis Andrade nos seus treinamentos.

Mas também é bom observar que a ESMAC facilitou demais a vida do Flamengo. Por mais que Mercy Nunes tenha falado que sua equipe criaria problemas para seu adversário, a grande verdade é que o escrete rubro-negro teve espaços generosos para circular a bola e acionar seu quarteto ofensivo. Maria Alves e Leidiane abriam o campo, Darlene jogava como uma espécie de “falsa nove” e Duda aparecia com frequência na frente para aproveitar os buracos que apareciam na última linha do ESMAC. A camisa 7, aliás, sempre trazia uma das zagueiras com ela em todos os momentos em que vinha buscar o jogo. Essas perseguições mais longas acabaram cansando as jogadoras e deixando a vida do Flamengo mais tranquila.

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Maria Alves e Leidiane jogavam pelos lados, Duda aparecia por dentro e Darlene abria espaços na intermediária. Por mais que o Flamengo tivesse volume de jogo, o escrete de Luis Andrade teve sua vida bastante facilitada pela falta de compactação do seu adversário. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

É por isso que a partida desse domingo (6) não pode servir de parâmetro. É o tipo de cenário que o Fla não deve encontrar muitas vezes na temporada. Por mais que a equipe de Luis Andrade tenha encontrado facilidade para construir suas jogadas de ataque, ele e todo o elenco rubro-negro precisam ter em mente que as coisas podem ficar muito mais complicadas contra adversários mais qualificados (Corinthians, São Paulo, Ferroviária, Palmeiras, dentre outros). Além disso, a ESMAC ofereceu muito pouca resistência e concedeu demais para Darlene, Duda e companhia nos dois gols marcados pelo Flamengo na partida. O primeiro nasceu de uma trombada da goleira Letícia Bussatto com a zagueira Lorena (aos 15 minutos). E o segundo veio de boa tabela na intermediária que teve a participação de Cris, Darlene e que terminou com a bela finalização de Duda no canto direito quatro minutos depois.

Duda recebe de Darlene na frente da área com mais quatro companheiras de equipe dando opção de passe e abrindo a defesa da ESMAC. O Flamengo teve muita facilidade para a vitória deste domingo (6) e não encontrou muitos problemas para fazer a bola chegar na frente. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

Mesmo assim, nem tudo são flores. É verdade que a ESMAC pouco ameaçou a meta da goleira Gabi Croco e que facilitou demais a vida do escrete comandado por Luis Andrade na partida deste domingo (6). Principalmente quando a volante Larissa Sanchez puxou a camisa de Anny Marabá e levou o segundo cartão amarelo. Com dez em campo, a equipe de Mercy Nunes pouco pôde fazer para tentar ao menos diminuir a vantagem do Flamengo. Por outro lado, ficou evidente que a recomposição defensiva do escrete rubro-negro ainda está bem longe do ideal. As escapadas da ESMAC nas bolas longas para Luciene Baião e Radija atacarem o espaço às costas da última linha de defesa. Núbia, Kika Brandino, Rayanne e Gisseli mostraram alguma dificuldade para fechar as linhas de passe e a volante Kaylane esteve no “mano a mano” com as atacantes adversárias mais de uma vez no segundo tempo. Preocupante.

O Flamengo apresentou problemas na recomposição defensiva mais de uma vez na vitória sobre a ESMAC. Difícil não concluir que a equipe de Luis Andrade pode se complicar contra adversários mais fortes e mais organizados se não fizer ajustes em todos os setores. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

A classificação para as semifinais da Supercopa do Brasil é o primeiro grande objetivo atingido pelo Flamengo nessa temporada. No entanto, o contexto da vitória diante do ESMAC deixaram bem claro que a equipe de Luis Andrade ainda precisa corrigir muitos problemas. Cenário completamente natural desse início de temporada no futebol feminino. Por mais que este ou aquele jornalista aponte uma “grande atuação” do escrete rubro-negro e indique jogadoras para a Seleção Brasileira (lembrando que Pia Sundhage estava no Estádio Luso-Brasileiro), o momento pede prudência, foco nos treinamentos e aprimoramento dos conceitos trabalhados com a comissão técnica. E o mesmo vale para a ESMAC. É possível considerar que houve uma espécie de “choque de realidade” com a derrota para o Flamengo. Mas também ficou claro que é preciso melhorar as condições físicas do elenco comandado por Mercy Nunes. E pra ontem.

Iniciar a temporada com uma vitória num torneio como a Supercopa Feminina é sempre bom e ajuda na confiança de qualquer equipe de futebol do mundo. Mas isso não pode esconder o fato de que o ano está apenas começando e muita coisa pode acontecer até lá. Luis Andrade tem sim boas ideias, o Flamengo conseguiu bons reforços e a tendência é que o time suba de produção com o tempo. O que não se pode fazer em momento algum é achar que as coisas já estão resolvidas. Humildade e canja de galinha nunca fizeram mal a ninguém.

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