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São Paulo tropeça nos erros de sempre e vê Independiente del Valle levar a Copa Sul-Americana

Luiz Ferreira analisa as escolhas de Rogério Ceni e projeta o futuro da equipe tricolor na coluna PAPO TÁTICO

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

A expectativa pelo chamado “jogo da década” era grande. E nem poderia ser diferente. No entanto, o que eu e você vimos neste sábado (1) foi um São Paulo nervoso, sem muitas ideias e que acabou tropeçando nos próprios erros diante de um Independiente del Valle organizado e muito ciente do que deveria fazer com e sem a bola. A forma como a vitória por 2 a 0 foi construída no Estádio Mario Alberto Kempes (em Córdoba) levam este que escreve a concluir que o título da Copa Sul-Americana está sim em ótimas mãos. Já o São Paulo vai precisar colocar a cabeça no lugar, recolher os caquinhos e pensar num final de temporada mais digno. Com ou sem Rogério Ceni.

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É compreensível que o torcedor estivesse sim com a expectativa lá em cima. O que não dava pra entender antes da bola rolar era a maneira como parte da imprensa esportiva tratava o Independiente del Valle. A equipe equatoriana não recebeu a alcunha de “El Mata Gigantes” à toa ou por “modinha”. Há um trabalho sério sendo realizado no clube e o reflexo disso pode ser facilmente visto no campo. Além do bicampeonato da Copa Sul-Americana, o time de Martín Anselmi já tem um vice de Libertadores (em 2016) e um vice da Recopa (em 2020).

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Além disso tudo, o momento das duas equipes falava por si só. Na prática, o São Paulo repetiu os mesmos erros que vinha cometendo ao longo da atual temporada. Em todos os setores. E o Independiente del Valle soube como aproveitar bem os espaços que o escrete comandado por Rogério Ceni deixava com lançamentos para o veloz Chávez voar pela esquerda ou com as ligações diretas para o ótimo Lautaro Díaz no comando de ataque. O 4-1-3-2 tricolor não conseguia fechar os espaços e nem conter a movimentação constante do seu adversário.

Formação inicial das duas equipes em Córdoba. O 4-1-3-2 do São Paulo concedeu espaços demais no meio e na defesa.

Do outro lado da decisão da Copa Sul-Americana, o técnico Martín Anselmi (que foi auxiliar de Miguel Ángel Ramírez no próprio Del Valle) apostava num 5-3-2 mais compactado e que explorava bastante a velocidade de Chávez, Matías Fernández, Angulo e Lautaro Díaz. O São Paulo começou o jogo buscando encaixar a marcação na saída de bola, mas não demorou muito para que os espaços começassem a aparecer no sistema defensivo. Muito por conta da péssima transição defensiva que o escrete de Rogério Ceni fazia e também pelo nervosismo. O lance do primeiro gol do “Mata Gigantes” saiu justamente de um erro na saída de bola e do posicionamento ruim do escrete do Morumbi.

Primeiro gol do Del Valle: Reinaldo longe da defesa e muitos espaços no meio. Foto: Reprodução / YouTube / Conmebol Sudamericana

Erros que não são novidade nenhuma para quem acompanha o São Paulo nessa temporada. Há a parte que cabe a Rogério Ceni pela insistência numa formação que expõe a última linha. Por outro lado, precisamos também olhar para o planejamento ruim da diretoria tricolor na montagem do elenco para 2021. O trabalho que se desenhava promissor (e que foi elogiado por este que escreve no início do ano), mas que acabou sendo muito prejudicado por lesões e pela péssima fase de alguns nomes. Fora o desequilíbrio facilmente perceptível em determinados setores. Vale lembrar que Rogério Ceni só tinha Éder, Marcos Guilherme e Nahuel Bustos como opções ofensivas. Nenhum meia de criação.

O São Paulo voltou do intervalo com ainda mais ímpeto ofensivo e disposto a igualar o marcador. O time só não esperava que Éder, Calleri e Rodrigo Nestor fossem parar no ótimo goleiro Moisés Ramírez. Rogério Ceni não mexeu na sua equipe. O 4-1-3-2 foi mantido apesar dos evidentes problemas de posicionamento. Enquanto Alisson era quase um “assistente” de Igor Vinícius na direita, Patrick deixava Reinaldo isolado na marcação. O Independiente del Valle, por sua vez, marcou o segundo gol depois de lançamento longo da defesa na direção de Sornoza. Deste para Lautaro Díaz de primeira para Faravelli (um dos melhores em campo na opinião deste que escreve). Resultado justíssimo.

Sornoza lança Lautaro Díaz e este ajeita para Faravelli. Golaço do Del Valle. Foto: Reprodução / YouTube / Conmebol Sudamericana

A atuação do São Paulo neste sábado (1) não deixa de ser uma repetição de tudo aquilo que o torcedor vem acompanhando ao longo da temporada. Não estamos falando de erros novos, mas da repetição de um padrão. As ideias de Rogério Ceni não são ruins, mas a impressão que fica é a de que elas não se encaixam com o elenco à disposição do treinador. Acabou que a Copa Sul-Americana ficou com a equipe mais organizada dentro e fora de campo (mesmo com orçamento bastante inferior ao do São Paulo). E por tudo que se viu no belo Estádio Mario Alberto Kempes, é muito difícil diminuir o feito do time que está recebendo a justa alcunha de “Mata Gigantes”.

Resta ao São Paulo aprender com os erros, encerrar o Brasileirão de maneira digna e repensar muita coisa para 2023. Enquanto a torcida fazia a sua parte em Córdoba, a diretoria seguia mais preocupada em se promover do que em elaborar um planejamento minimamente decente para a temporada. È impossível levantar taças repetindo tantos erros ao longo de tanto tempo. Simplesmente não dá.