Home Futebol Brilho de Messi salva a Argentina na vitória sobre a Austrália e em atuação bem abaixo do esperado

Brilho de Messi salva a Argentina na vitória sobre a Austrália e em atuação bem abaixo do esperado

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca a atuação do camisa 10 da Albiceleste na partida deste sábado (3)

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Quem acompanha a seleção da Argentina nos últimos dez anos já se acostumou a ver a equipe dependente do futebol de Lionel Messi. O que é até natural diante da qualidade imensa do camisa 10 e do que ele já mostrou com a camisa da Albiceleste, do Barcelona e do Paris Saint-Germain. A vitória sobre a Austrália (que valeu a classificação para as quartas de final da Copa do Mundo) neste sábado (3), no estádio Ahmad Bin Ali, teve a marca de um dos melhores jogadores de todos os tempos mais uma vez. No entanto, além da atuação muito abaixo do esperado (por méritos do time de Graham Arnold) ficou claro que o escrete de Lionel Scaloni ainda depende muito de Messi. E isso pode ser um problema.

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Ao contrário da vitória sobre a Polônia na última quarta-feira (30), a Argentina não encontrou facilidade alguma para jogar entrelinhas e potencializar as características dos seus principais jogadores. Isso porque a Austrália jogava num 4-4-2 de bastante compactação com os volantes Mooy e Baccus fechando bem o centro do campo e tirando o espaço que Messi mais gosta de usar. Aliás, o plano dos Socceroos era claro. Isolar o camisa 10 da Albiceleste de Papu Gómez (substituto de Di María), De Paul, Julián Álvarez e Mac Allister.

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A estratégia de Graham Arnold foi tão bem executada no primeiro tempo que não foram poucas as vezes em que Messi ficou sozinho no meio-campo. Sempre que recebia a bola, a marcação bem coordenada da Austrália fechava as linhas de passe do time de Lionel Scaloni e obrigava o craque argentino a recuar para iniciar novamente a jogada de ataque com Otamendi, Romero ou Enzo Fernández. E como o ataque se movimentava pouco para abrir espaço (Di María fez muita falta nesse sentido), Messi não tinha com quem jogar e a Argentina perdia velocidade.

A Austrália dificultou muito a vida da Argentina com forte marcação, linhas bem compactadas e vigilância em cima de Messi. Foto: Reprodução / YouTube / Cazé TV

Você já leu aqui mesmo neste espaço que a Argentina cresce quando consegue fazer as associações por dentro, isto é, quando os jogadores se aproximam para tabelas ou passes em profundidade. O plano da Austrália consistia exatamente em evitar essas associações e tirar o espaço de Messi. Não foram poucas as vezes em que o camisa 10 da Albiceleste recebeu a bola, mas foi obrigado a voltar o jogo e reiniciar a jogada porque Mac Allister e Júlian Álvarez estavam encaixotados na marcação adversária. Por mais que Enzo Fernández qualificasse a saída e que De Paul fizesse a sua melhor atuação na Copa do Mundo até o momento, a Argentina seguia dependente do brilho de seu principal jogador.

Messi recebe a bola na intermediária, mas recebe a marcação dos volantes Mooy e Baccus e era obrigado a recuar para reiniciar a jogada. Foto: Reprodução / YouTube / Cazé TV

Acabou que Messi descomplicou a vida da Argentina na primeira vez em que recebeu a bola perto da área da Austrália. E isso somente aos 35 minutos do primeiro tempo num lance que nasceu de uma falta completamente desnecessária do lateral Behich no lado esquerdo da defesa australiana. É verdade que basta um palmo de chão para que o camisa 10 desequilibre, mas é sempre preciso lembrar que o futebol é um esporte coletivo. Por mais que Messi seja genial, ele ainda precisa dos companheiros de equipe para que seu talento possa resolver os problemas dentro de campo.

O panorama não mudou no segundo tempo. A Austrália seguiu fazendo a sua forte marcação por dentro e isolando o craque portenho de Júlian Álvarez e Mac Allister. Lionel Scaloni mexeu na Argentina e mandou o zagueiro Lisandro Martínez para o jogo no lugar de Papu Gómez. Com isso, Messi virou atacante num 3-1-4-2 que dava mais sustentação para a defesa e permitia que o camisa 10 pudesse jogar mais perto da área. A lambança do goleiro Matt Ryan, aos 12 minutos da segunda etapa, facilitou demais a vida da Argentina e obrigou a Austrália a sair mais para o jogo.

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Foi a partir desse momento que Messi começou a encontrar mais espaço para criar as jogadas de ataque. Mesmo assim, ainda dependia da movimentação dos companheiros de equipe. Pouco depois do camisa 10 quase ter marcado um gol antológico no Estádio Ahmad Bin Ali, Lionel Scaloni mandou Tagliafico e Lautaro Martínez a campo nos lugares de Acuña e Júlian Álvarez. A Austrália ainda descontou com bela finalização de Goodwin que desviou em Enzo Fernández antes de morrer nas redes de Emiliano Martínez aos 32 minutos. Behich quase empatou em bela jogada individual, mas a Argentina controlou o ímpeto dos Socceroos com Messi deixando Lautaro Martínez na cara do gol duas vezes, mas o camisa 22 desperdiçou.

Messi passou a encontrar mais espaço para trabalhar as jogadas no segundo tempo. Principalmente depois do gol de Júlian Álvarez. Foto: Reprodução / YouTube / Cazé TV

Mesmo com a vitória e a classificação para as quartas de final, ficou mais do que claro que a dependência de Messi (até certo ponto natural) pode complicar a vida da Argentina contra adversários mais organizados e mais qualificados. Como a Holanda, próximo adversário da Albiceleste nessa Copa do Mundo. Por mais que Lionel Scaloni mexa na formação básica da sua equipe, posicione seu principal jogador mais próximo da área e reforce a defesa para que as obrigações defensivas do seu camisa 10 sejam menores, é preciso que o restante do time trabalhe para que as coisas fluam do jeito que fluíram (por exemplo) nos 3 a 0 sobre a Itália, na Finalíssima disputada no meio do ano.

Por outro lado, Scaloni pode assumir a dependência de Messi e manter a estratégia na próxima sexta-feira (9), no Estádio Lusail. A Holanda é bem organizada, pragmática ao extremo e não vai se importar em “deixar de jogar” para que seu adversário também não jogue. Mesmo assim, é um nível de exigência que a Argentina ainda não enfrentou nessa Copa do Mundo. E mais do que nunca, Messi será necessário para descomplicar as coisas. Só resta saber se ele estará sozinho nessa missão.

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