Não é exagero nenhum classificar 2022 como o “ano mágico” do Palmeiras no futebol feminino. Além da conquista inédita da Libertadores, as Palestrinas levaram o Campeonato Paulista com nova vitória sobre as Sereias da Vila nesta quarta-feira (21), no Allianz Parque. Apesar da imposição e da entrega do time de Kleiton Lima, o time comandado por Ricardo Belli conseguiu se manter minimamente organizado e aproveitou bem os espaços que teve na construção do resultado que levou mais uma taça para o escrete alviverde. A temporada de 2022 termina com mais uma taça e a certeza de que o Palmeiras já encontrou seu lugar entre as grandes equipes do futebol feminino no Brasil.
Falando sobre o jogo desta quarta-feira (21) em si, é preciso dizer que teve gente se surpreendendo com a escalação inicial das Palestrinas. Isso porque Ricardo Belli deixou Carol Baiana como opção no banco de reservas e mandou a zagueira Poliana para o jogo. Quem pensava que o Palmeiras fosse jogar num 3-5-2, viu Júlia Bianchi se comportar como uma espécie de “ponta de lança” que encostava em Bia Zaneratto (que jogou com total liberdade no ataque). Ao mesmo tempo, Ary Borges jogou mais pela direita e abria o corredor para as descidas de Bruna Calderan.
Apesar da formação mais agressiva, as Palestrinas não se lançavam ao ataque de maneira desorganizada. O time valorizava a posse da bola e aproveitava bem os já conhecidos espaços que as Sereias da Vila deixavam na última linha. Na prática, o que se via era um 4-2-3-1 bem organizado e de muita mobilidade no campo de ataque para travar as principais saídas do seu adversário. Do outro lado da decisão, Kleiton Lima apostava numa formação parecida com Thaisinha mais recuada do que o normal e Jane Tavares espetada pela esquerda em cima de Andressinha e Katrine.
A estratégia de Ricardo Belloi ficou clara logo no primeiro lance da partida. Bruna Calderan recebeu na entrada da área e viu Ary Borges, Bia Zaneratto e Júlia Bianchi se projetando no espaço às costas da última linha de defesa das Sereias da Vila. Com Bia Menezes saltando da última linha para interceptar o cruzamento da camisa 2 (e a falta de cobertura no setor), o Palmeiras conseguiu criar superioridade numérica logo na entrada da área. O placar só não foi aberto porque Bia Zaneratto foi flagrada em impedimento antes do cruzamento para Júlia Bianchi. Mesmo assim, o “mapa da mina” para as Palestrinas já estava traçado. Faltava só o encaixe perfeito da jogada.
É interessante notar que o Santos não mudou sua estratégia apesar do posicionamento mais recuado de Thaisinha com relação ao jogo do último sábado (17). Mesmo jogando em algo mais próximo de um 4-2-3-1, as Sereias da Vila ainda tentavam explorar a marcação mais alta do Palmeiras com bolas longas para Cristiane brigar contra Poliana e Day Silva lá na frente. A ideia até funcionou em alguns momentos, mas faltou capricho e um pouco mais de concentração na conclusão das jogadas de ataque. O time de Kleiton Lima parecia extremamente afobado em alguns lances.
Amanda fez grande defesa em finalização de Gi Fernandes de fora da área ainda no primeiro tempo e as Sereias da Vila ainda tiveram dois gols anulados por impedimento confirmado pelo VAR. Mesmo com as jogadoras tentando se aproximar mais umas das outras, a impressão que ficava era a de que faltava a tranquilidade que sobrava no Palmeiras. E nesse ponto, Ricardo Belli foi feliz nas suas escolhas. As Palestrinas usaram e abusaram das triangulações, Ary Borges e Andressinha foram importantes na saída de bola e Duda Santos pisava na área com frequência.
Apesar da superioridade do Palmeiras na partida, o placar não foi alterado no primeiro tempo. Kleiton Lima tentou aumentar o poderio ofensivo das Sereias da Vila com a entrada de Ketlen no lugar de Fernandinha, mas viu sua equipe ficar ainda mais frágil no sistema defensivo. Não foi por acaso que o primeiro gol da partida desta quarta-feira (21) saiu de bola lançada de Byanca Brasil (que havia voltado para ajudar na cobertura defensiva) para Bia Zaneratto às costas da última linha. Com a falha de Gi Oliveira na interceptação, a camisa 10 teve campo livre pela frente e fez a jogada que praticamente selou a conquista (justíssima) do Brasileirão Feminino pelas Palestrinas.
Notem que o segundo gol do Palmeiras (marcado por Ary Borges aos 31 minutos do segundo tempo) nasceu de jogada praticamente idêntica. Poliana, Byanca Brasil e Bruna Calderan descomplicaram as coisas na saída de bola e aproveitaram todos os espaços que tinham pelo lado direito para iniciar toda a jogada. O lançamento da camisa 2 das Palestrinas encontra Ary se lançando às costas da última linha e Gi Oliveira falha novamente na interceptação. Difícil não notar que a saída de Fernandinha enfraqueceu demais as Sereias da Vila na marcação pelo lado esquerdo. E isso só facilitou as coisas para a equipe de Ricardo Belli construir o resultado diante de mais de 20 mil torcedores.
Ainda haveria tempo para Ketlen descontar para as Sereias da Vila em bela cabeçada no contrapé de Amanda. No entanto, o Palmeiras soube controlar a ansiedade e os espaços para comemorar o título do Paulistão Feminino e a consequente quebra de um jejum que já durava 21 anos. Apesar de todos os (gravíssimos) problemas extracampo na reta final do Brasileirão Feminino, elenco e comissão técnica mostraram estar mais unidos e mais focados no objetivo principal, que era encerrar a temporada erguendo taças. A confiança para se manter no topo e (quem sabe) brigar com o Corinthians pela hegemonia da modalidade no Brasil aumentam com toda a certeza. As Palestrinas fizeram por merecer cada título.
Ao mesmo tempo, é possível afirmar (sem medo de errar) que a próxima temporada já começa com a expectativa lá no alto por conta de tudo que vimos nesse final de 2022. Só resta saber se a CBF fará aquilo que precisa ser feito para melhorar a estrutura da nossa liga e elevar o nível do futebol apresentado aqui por estas bandas. Tudo para que equipes como o próprio Palmeiras de Ricardo Belli possam continuar desfilando qualidade e quebrando recordes.