Home Futebol Fluminense dá baile no Flamengo, leva o bicampeonato carioca e fortalece ainda mais o “Dinizismo”

Fluminense dá baile no Flamengo, leva o bicampeonato carioca e fortalece ainda mais o “Dinizismo”

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca as ideias de Fernando Diniz e a atuação do Tricolor das Laranjeiras neste domingo (9)

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

O Campeonato Carioca pode não ter o mesmo charme e o mesmo valor de outros tempos. Mas a conquista de um título em cima do maior rival precisa ser reverenciada e valorizada. Ainda mais diante da bela apresentação do Fluminense neste domingo (9). O escrete comandado por Fernando Diniz provou sua força mais uma vez ao golear o Flamengo de Vítor Pereira por 4 a 1 com autoridade e levar o bicampeonato estadual com méritos e sem contestação alguma. O que eu e você vimos no Maracanã foi um verdadeiro baile de gala e uma ótima demonstração do que esse time é capaz de fazer quando encontra um contexto favorável. O “Dinizismo” sai muito mais fortalecido depois dessa noite de Páscoa.

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É possível dizer que Fernando Diniz começou a vencer o “duelo tático” com Vítor Pereira assim que as escalações foram divulgadas. Guga entrou no lugar de Samuel Xavier (suspenso) e Marcelo substituiu Martinelli (lesionado) com Alexsander indo jogar no meio-campo. No papel, o costumeiro 4-2-3-1 estava lá, com Cano mais à frente, Keno bem aberto pela esquerda e Jhon Arias se movimentando demais no espaço entrelinhas do Flamengo. Enquanto isso, Vítor Pereira optou por uma formação que deixava a impressão de que ele não tinha certeza da própria convicção.

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Isso porque eu e você sabemos que VP tem predileção por times fortes nos duelos físicos e rápidos nas transições. Com Gabigol em campo e Matheus França no banco, o Fla não teve criatividade no meio-campo e nem fôlego para correr atrás do time do Fluminense. Com a posse da bola, o time de Fernando Diniz tinha Marcelo como mais um articulador (jogando mais por dentro), Jhon Arias como um “ponta de lança” e Ganso ocupando mais o lado direito de ataque (sempre buscando o espaço às costas de Thiago Maia e Gerson). Era mais perfeita execução do “Dinizismo”.

Formação inicial das duas equipes. Marcelo virou armador, Ganso foi jogar mais pelo lado direito e Jhon Arias virou ponta de lança. O Flamengo sofreu com a falta de criatividade.

A formação escolhida por Vítor Pereira foi um convite aos ataques do Fluminense. Difícil entender as escolhas do português sabendo de tudo que ele já sabia sobre a forma como Fernando Diniz arma suas equipes. Mas nem isso tira o mérito do treinador e de sua equipe. Notem que sempre que um jogador pegava a bola, todos os outros companheiros de equipe buscavam o espaço entrelinhas para dar opção de passe por dentro ou por fora. Aliás, a facilidade que o Flu teve para criar e abrir espaços na defesa do Flamengo foi impressionante. Ainda mais com os saltos errados de David Luiz, Gerson e Thaigo Maia na pressão. O time de Diniz tinha um padrão de jogo claro. Bem diferente do seu rival.

Marcelo carrega a bola por dentro, Keno abre o campo e Alexsander infiltra no espaço. O Fluminense fez o que quis com o Flamengo. Foto: Reprodução / YouTube / Flow Sport Club

Vale aqui destacar a grande atuação do jovem Alexsander. Este que escreve já havia notado o jogador durante a disputa do Campeonato Sul-Americano Sub-20, mas a sua evolução é nítida. Seja como lateral ou como volante, o camisa 5 do Tricolor das Laranjeiras tem se mostrado fundamental no encaixe de Marcelo na equipe de Fernando Diniz. É lateral e ao mesmo tempo volante. Tudo para que a principal contratação do Fluminense na temporada possa mostrar seu futebol. Exatamente como no golaço que abriu o placar aos 26 minutos do primeiro tempo após passe de Ganso.

Mas o ponto crucial da partida deste domingo (9) foi a maneira como cada treinador compreendeu o que o campo pedia. Se Vítor Pereira optou por um 3-4-2-1 sem sentido para este que escreve, Fernando Diniz organizou o Fluminense de modo a explorar os pontos fracos do Flamengo. Paulo Henrique Ganso e Jhon Arias foram importantes para ocupar o espaço às costas dos volantes. André comandou as subidas de pressão na saída de bola do Fla e Keno vigiou Varela de perto. Não foi por acaso que a jogada do segundo gol começou com uma roubada de bola do camisa 11.

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Ganso fechava pela direita, Jhon Arias ficou mais por dentro André se juntava a Alexsander na “volância”. O time do Flamengo ficou travado. Foto: Reprodução / YouTube / Flow Sport Club

Toda a estratégia de Vítor Pereira para o segundo tempo caiu por terra depois que Bruno Arleu de Araújo marcou penalidade discutível de Fabrício Bruno. Nesse momento, o Flamengo já jogava num 4-3-3 com Everton Ribeiro e Matheus França nos lugares de Gabigol e Léo Pereira. O (merecido) gol de Alexsander aos 19 do segundo tempo apenas consolidou o sucesso do “Dinizismo” na partida deste domingo (9). Com a vantagem no placar e as duas mãos na taça, Fernando Diniz recuou o Fluminense com os pontas bem próximos dos laterais e tirou o espaço de circulação dos jogadores de criação do Flamengo. Duas linhas com quatro jogadores na frente da área de Fábio que travaram ainda mais o ataque do Flamengo.

Com a vantagem no placar, o Fluminense se fechou na defesa e aproveitou a falta de velocidade do Flamengo para encaixar os contra-ataques. Foto: Reprodução / YouTube / Flow Sport Club

O gol de Ayrton Lucas nos acréscimos foi muito mais fruto da falta de atenção do Fluminense do que mérito do Flamengo. O elenco rubro-negro ainda é sim um dos melhores do país, mas é claro e evidente que as escolhas da sua diretoria simplesmente destruíram aquilo que foi construído por Dorival Júnior de junho a outubro de 2022. Ao mesmo tempo, a confiança que faltou no Fla na temporada passada se fez presente nas Laranjeiras. A continuidade do trabalho de Fernando Diniz já rendeu frutos. A conquista do seu primeiro título de expressão como treinador não deixa de ser um alívio para o profissional. Muitos tentaram rotular seu trabalho. Mas poucos tentaram compreender o que ele pensava e fazia.

Certo é que o “Dinizismo” sai muito mais fortalecido dessa final. É verdade que a conquista do Campeonato Carioca e a forma como o Fluminense amassou o Flamengo no Maracanã já bastam para provar o valor de Fernando Diniz. Mas é bom ver um profissional que ama tanto o velho e rude esporte bretão bem jogado comemorar tanto um título. Não deixa de ser uma lição para a diretoria rubro-negra. Não se faz times campeões apenas com dinheiro. É preciso planejar e acreditar no trabalho. E não mudar por conveniências pessoais.