Home Futebol Apesar da derrota, Fortaleza faz jogo de gente grande e mostra que final da Copa Sul-Americana é só o começo

Apesar da derrota, Fortaleza faz jogo de gente grande e mostra que final da Copa Sul-Americana é só o começo

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a atuação do Leão do Pici contra a LDU e as escolhas de Juan Pablo Vojvoda

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.
Apesar da derrota, Fortaleza faz jogo de gente grande e mostra que final da Copa Sul-Americana é só o começo

Reprodução / Twitter / Conmebol Sudamericana

A derrota do Fortaleza para a LDU na final da Copa Sul-Americana mais sofrida do que emocionante pode ser explicada de várias maneiras. Pela falta de sangue frio de Pedro Augusto, Brítez e Silvio Romero nas penalidades. Pela afobação de Bruno Pacheco em Alzugaray no lance do gol de empate. Ou até mesmo pelo excesso de individualidade de Marinho na oportunidade mais clara do Leão do Pici na primeira etapa. Todas elas apontam para a “casca” da equipe equatoriana e para a falta de experiência do escrete de Juan Pablo Vojvoda em finais internacionais. Tudo é um processo. E o jogo deste sábado (28) nos mostrou que o Fortaleza tinha plenas condições de ficar com a Sul-Americana.

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É lógico que a derrota vai doer nos torcedores e que muitos deles já apontam culpados pela igualdade durante os longos 120 minutos de jogo e pela derrota incrível nas penalidades. Este que escreve, no entanto, prefere olhar essa final com outros olhos. Faltou muito pouco para que o Fortaleza colocasse o futebol nordestino no topo da América do Sul e a atuação da equipe no Estádio Domingo Burgueño nos mostrou o Leão do Pici poderia sim ter ido longe. Não somente pela boa atuação coletiva, mas por todo o conjunto da obra que eu e você conhecemos.

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Não foi por acaso que Juan Pablo Vojvoda, Tinga e outros jogadores falaram em “levantar a cabeça” e em “orgulho apesar da dor” após a final contra a LDU. Existe a compreensão de que o time poderia sim ter vencido (e no tempo normal), mas que o revés faz parte desse processo. Clubes vencedores não surgem de um dia para o outro e vários deles “bateram na trave” diversas vezes antes de comemorarem uma Copa Sul-Americana ou até mesmo uma Libertadores. Ficam as lições para jogadores e comissão técnica e a certeza de que essa história ainda não acabou.

Sobre o jogo deste sábado (28), o técnico Juan Pablo Vojvoda manteve seu 4-2-3-1/4-4-2 costumeiro no Fortaleza. Marinho começou a partida na ponta-direita e Yago Pikachu ficou no banco de reservas. Do outro lado da decisão, Luis Zubeldía apostou num 4-3-3 que lembrava um 4-2-3-1 em alguns momentos com as constantes subidas de Sebastián González pelo lado esquerdo buscando as escapadas de Jhojan Julio. Mais à frente, o experiente Paolo Guerrero comandou o setor ofensivo e tinha a missão de fazer as jogadas de pivô para os companheiros de equipe. Enquanto o Fortaleza tentava colocar a bola no chão, a LDU apostava nas ligações diretas e nos passes longos às costas da última linha.

Formação inicial das duas equipes. Juan Pablo Vojvoda manteve Marinho entre os titulares e Luis Zubeldia apostou na entrada de Sebastián González no meio-campo da sua equipe.
Formação inicial das duas equipes. Juan Pablo Vojvoda manteve Marinho entre os titulares e Luis Zubeldia apostou na entrada de Sebastián González no meio-campo da sua equipe.

Embora o Leão do Pici tenha sido superior na primeira etapa, um problema incomodava bastante o técnico Juan Pablo Vojvoda. Tomás Pochettino (o “camisa dez” da equipe brasileira) circulava muito pouco pela intermediária. E logo depois que Marinho desperdiçou grande chance no começo da decisão, a partida ficou ainda mais travada. E o grande equívoco do Fortaleza foi cair na “armadilha” montada pela LDU ao partir para a “trocação” no meio-campo. Com isso, Zé Welison e Caio Alexandre encontraram dificuldades para levar a bola até o quarteto ofensivo.

Esse cenário fazia com que o Fortaleza perdesse fluidez e ainda expunha a última linha de defesa. Jhojan Julio encontrava certo espaço pelo lado esquerdo de ataque e Maurício Martínez encontrava espaço para organizar as jogadas da LDU. Com Pochettino muito estático na frente e Guilherme e Marinho mais presos pelos lados do campo, o Fortaleza via seu adversário “picotar” o jogo no meio-campo com faltas sem ter muito o que fazer com a posse da bola. Enquanto isso, a LDU levava certo perigo com as bolas longas para Jhojan Julio no lado esquerdo de ataque.

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A LDU apostou nas ligações diretas buscando Ibarra, Guerrero e Jhojan Julio. Já o Fortaleza encontrou dificuldades para levar a bola ao campo de ataque. Foto: Reprodução / SBT
A LDU apostou nas ligações diretas buscando Ibarra, Guerrero e Jhojan Julio. Já o Fortaleza encontrou dificuldades para levar a bola ao campo de ataque. Foto: Reprodução / SBT

A situação melhorou bastante depois do intervalo. Caio Alexandre conseguiu se livrar da marcação no meio e acionou Pochettino no lado direito. Com Marinho arrastando a marcação para a linha de fundo, o camisa 7 do Fortaleza esperou o momento certo para fazer o cruzamento rasteiro para Lucero dentro da área. O gol era a prova de que Juan Pablo Vojvoda havia conseguido resolver o problema que sua equipe apresentou no primeiro tempo apenas corrigindo o posicionamento do seu quarteto ofensivo. Pochettino passou a se movimentar mais na entrelinha e Lucero arrastava a marcação para abrir espaço para a chegada de Marinho e Guilherme em diagonal na direção da área do goleiro Alexander Domínguez.

Marinho arrasta a marcação, Lucero busca o espaço às costas da zaga da LDU e Pochettino faz o cruzamento certeiro. O Fortaleza voltou melhor do intervalo. Foto: Reprodução / SBT
Marinho arrasta a marcação, Lucero busca o espaço às costas da zaga da LDU e Pochettino faz o cruzamento certeiro. O Fortaleza voltou melhor do intervalo. Foto: Reprodução / SBT

No entanto, a LDU tinha experiência e provou isso com o empate logo na sequência. Bola longa para Alzugaray no lado direito, falha de Bruno Pacheco no combate direto e belo gol do camisa nove em chute da entrada da área. Juan Pablo Vojvoda respondeu com a entrada de Yago Pikachu no lugar de Guilherme. Já Luis Zubeldía mudou a formação da sua equipe para um 4-4-2 com Alvarado no lugar de Sebastián González e o deslocamento de Jhojan Julio para junto de Paolo Guerrero. Com isso, a final da Copa Sul-Americana ficou mais aberta no final da segunda etapa.

Difícil não perceber que o Fortaleza perdeu um pouco de agressividade e da “pegada” no meio-campo depois das entradas de Machuca, Thiago Galhardo e Pedro Augusto nos lugares de Marinho, Pochettino e Zé Welison. Mesmo assim, a equipe conseguiu criar boas chances jogando praticamente num 4-4-2 que trazia Thiago Galhardo quase como um ponta de lança e Yago Pikachu muito dinâmico a partir do lado direito. No entanto, o fato do Leão do Pici estar fazendo a sua 68ª na temporada pesou demais contra uma LDU mais descansada e mais “cascuda” na decisão.

Machuca, Thiago Galhardo e Yago Pikachu entraram bem na partida e deram mais mobilidade ao ataque do Fortaleza. No entanto, o desgaste físico cobrou seu preço. Foto: Reprodução / SBT
Machuca, Thiago Galhardo e Yago Pikachu entraram bem na partida e deram mais mobilidade ao ataque do Fortaleza. No entanto, o desgaste físico cobrou seu preço. Foto: Reprodução / SBT

Na decisão por pênaltis, o Fortaleza viu a Copa Sul-Americana escapar por entre os dedos com as defesas do ótimo goleiro Alexander Domínguez nas cobranças de Silvio Romero (substituto de Lucero), Pedro Augusto (que poderia ter convertido a penalidade do título) e Emanuel Brítez (que foi um gigante na defesa durante os 120 minutos). A LDU comemorava o título de maneira justa e o Leão do Pici lamentava a falta de concentração nos momentos decisivos. Mas é bom deixar claro que isso não apaga a grande campanha da equipe de Juan Pablo Vojvoda e todo o trabalho que vem sendo desenvolvido até o momento. Lembrem-se de que o Fortaleza estava na Série C há seis anos. O crescimento é inegável.

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Há organização suficiente dentro do clube para manter a equipe brigando por vagas em competições internacionais e (finalmente) dar o passo seguinte rumo aos títulos e glórias. O Fortaleza é hoje um dos clubes mais organizados do futebol brasileiro e mesmo não estando no mesmo patamar financeiro de Palmeiras e Flamengo, a equipe tem sim poder de investimento para manter a base e até mesmo trazer mais peças de reposição para Juan Pablo Vojvoda. Por mais que o torcedor esteja chateado com a derrota numa final que foi muito mais sofrida do que emocionante, é preciso sim exaltar tudo que vem sendo feito nos bastidores do Leão do Pici. O que aconteceu neste sábado (28) é apenas mais um capítulo desta história.

A final da Copa Sul-Americana é só o começo dessa trajetória. Eu e você vimos o Fortaleza emergir das cinzas mais de uma vez nesses últimos anos e não será diferente nas próximas temporadas. Hoje, elenco, comissão técnica e diretoria lamentam os erros cometidos contra a LDU e a taça que escapou no último instante. O futuro, no entanto, promete ser muito mais feliz. Ainda mais para um clube que dá provas constantes da sua organização dentro e fora de campo. Faltou pouco, mas o Fortaleza vai chegar lá com toda a certeza. Aguardem.