Home Futebol Libertadores: Palmeiras volta a errar demais e vê o Boca Juniors se agigantar nas penalidades

Libertadores: Palmeiras volta a errar demais e vê o Boca Juniors se agigantar nas penalidades

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a partida desta quinta-feira (5) e as escolhas de Abel Ferreira e Jorge Almirón

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

É possível dizer que o Boca Juniors fez por merecer a classificação para a final da Libertadores quando se observa a proposta de jogo da equipe argentina. A confiança no goleiro Sergio Romero e o bom aproveitamento da equipe nas decisões por pênaltis justifica (até certo ponto) essa postura mais pragmática. O Palmeiras, por sua vez, voltou a errar demais durante o tempo normal no Allianz Parque e viu a vaga na decisão escapar diante da sua torcida e com as penalidades desperdiçadas de Raphael Veiga e Gustavo Gómez. Difícil entender também o que levou o técnico Abel Ferreira a insistir na mesma formação que entrou em campo na semana passada. O desempenho do time continuou ruim.

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É lógico que o treinador português ainda tem muito crédito com o time e com a torcida alviverde. Mas algumas escolhas precisam sim ser questionadas. Este que escreve entende que a lesão de Dudu prejudicou todo o planejamento do Palmeiras nessa reta final de temporada e que não é nada fácil encontrar um substituto ideal para o camisa sete. Só que o desempenho ruim das últimas partidas (somando Brasileirão e Libertadores) parece não ter aberto os olhos de Abel Ferreira para o óbvio: era preciso simplificar e dar minutos para as jovens promessas do clube.

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Não que Endrick, Luís Guilherme, Kevin e companhia fossem resolver as coisas de uma hora pra outra. Mas a impressão que fica é a de que o treinador português não parecia ter tanta segurança sobre a utilização dos jovens jogadores. Só mesmo perguntando para Abel Ferreira ou procurando o Professor Xavier para ler a mente do comandante alviverde. E isso ficou claro no segundo tempo da partida, quando a molecada entrou em campo e mudou o panorama da partida com velocidade, boas trocas de passe e muito mais intensidade do que foi visto na primeira etapa.

É interessante notar que a insistência de Abel Ferreira no esquema com Mayke e Marcos Rocha ocupando o mesmo lado deixou o Palmeiras “torto” para a direita, já que Rony tendia a jogar mais centralizado e Piquerez ficou mais isolado no lado esquerdo. Do outro lado, o técnico Jorge Almirón mantinha seu 4-4-2 com Cavani e Merentiel na frente com Medina e Barco armando o jogo pelos lados. A proposta mais pragmática de ligações diretas buscando a dupla de ataque deu certo logo aos 23 minutos do primeiro tempo, com o lançamento longo de Frank Fabra buscando o deslocamento de Merentiel às costas de Marcos Rocha e Mayke. A falha de Gustavo Gómez no bote ao argentino acabaria sendo fatal.

Jorge Almirón manteve o 4-4-2 no Boca Juniors e viu sua equipe abrir o placar na ligação direta buscando Merentiel e Cavani. Foto: Reprodução / YouTube / ESPN Brasil
Jorge Almirón manteve o 4-4-2 no Boca Juniors e viu sua equipe abrir o placar na ligação direta buscando Merentiel e Cavani. Foto: Reprodução / YouTube / ESPN Brasil

Não é difícil concluir que o Palmeiras sentiu demais o gol sofrido diante da sua torcida. Aliás, a equipe de Abel Ferreira quase não levou perigo ao gol de Sergio Romero durante a primeira etapa. Rony seguia encaixotado entre os zagueiros, Rapahel Veiga seguia apagado e Artur errava praticamente tudo que tentava fazer. Com isso, Gabriel Menino e (principalmente) Zé Rafael ficaram sobrecarregados demais na marcação e na cobertura defensiva. Ao mesmo tempo, o Boca Juniors arriscava uma marcação mais alta em alguns poucos momentos com Merentiel, Medina e Cavani fechando em cima de Murilo e aproveitando bem a falta de aproximação dos jogadores do Palmeiras no seu sistema defensivo.

Weverton aciona Murilo na intermediária e este acaba cercado por Merentiel, Cavani e Medina. O Palmeiras sofreu na primeira etapa. Foto: Reprodução / YouTube / ESPN Brasil
Weverton aciona Murilo na intermediária e este acaba cercado por Merentiel, Cavani e Medina. O Palmeiras sofreu na primeira etapa. Foto: Reprodução / YouTube / ESPN Brasil

Veio o intervalo e Abel Ferreira fez o óbvio. Sacou Marcos Rocha e Artur e mandou Kevin e Endrick para o jogo, desfazendo o esquema com três zagueiros e voltando ao seu 4-2-3-1 costumeiro. O Palmeiras melhorou da água para o vinho e até voltou a fazer as conhecidas jogadas de ultrapassagem com mais velocidade e muito mais intensidade. Se Kevin saía da esquerda para dentro, Endrick explorou mais o espaço entre Fabra e Rojo a partir do lado direito. Poucos minutos antes de Piquerez empatar a partida em belo chute de fora da área (que Romero aceitou), Abel Ferreira apostou na entrada de Flaco López no lugar de Gabriel Menino, reforçando ainda mais o sistema ofensivo. O Palmeiras estava de volta ao jogo.

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Kevin e Endrick melhoraram bastante o desempenho do Palmeiras. O time ganhou mais força ofensiva e mais movimentação por dentro. Foto: Reprodução / YouTube / ESPN Brasil
Kevin e Endrick melhoraram bastante o desempenho do Palmeiras. O time ganhou mais força ofensiva e mais movimentação por dentro. Foto: Reprodução / YouTube / ESPN Brasil

Com a justa expulsão de Rojo, o Boca Juniors literalmente “estacionou um ônibus” na frente da sua área e quase não teve força para sequer arriscar uma saída em velocidade para o ataque. Ao mesmo tempo, o escrete xeneize ia sentido os efeitos da exigência física da partida. Abel Ferreira ainda mandou Luís Guilherme e Fabinho para o jogo nas vagas de Mayke e Zé Rafael, mas viu o goleiro Sergio Romero salvar a pátria com três grandes defesas em finalizações de Rony e Endrick. O camisa nove alviverde, aliás, teve chance de ouro depois de ter a bola do jogo com o goleiro já batido, mas perdeu tempo demais ao tentar ajeitar para a perna esquerda. Tudo isso faria muita diferença na decisão por pênaltis.

Sem o zagueiro Rojo, o Boca Juniros se fechou na defesa e viu o Palmeiras empilhar chances de virar o jogo. Sergio Romero brilhou. Foto: Reprodução / YouTube / ESPN Brasil
Sem o zagueiro Rojo, o Boca Juniros se fechou na defesa e viu o Palmeiras empilhar chances de virar o jogo. Sergio Romero brilhou. Foto: Reprodução / YouTube / ESPN Brasil

Na marca de cal, o Palmeiras viu Raphael Veiga e Gustavo Gómez desperdiçarem suas cobranças e o Boca Juniors comemorar a vaga na final da Libertadores. São seis empates nos mata-matas da competição sul-americana e uma radicalização do pragmatismo do técnico Jorge Almirón. Ligações diretas buscando Merentiel e Cavani no setor ofensivo com a chegada forte de Advíncula e Fabra nos corredores abertos por Medina e Barco. Não é algo que enche os olhos deste que escreve, mas é um estilo que tem se mostrado eficiente (dentro da proposta de jogo da equipe xeneize). E talvez o grande erro de Abel Ferreira foi a insistência numa formação que não deu certo mesmo em cenários mais favoráveis. Vida que segue.

Certo é que o Boca Juniors se garante na grande final da Libertadores mais no peso da sua camisa do que numa proposta de jogo mais sólida. A equipe de Jorge Almirón apresentou algumas deficiências que podem sim ser exploradas pelo Fluminense de Fernando Diniz na partida marcada para o dia 4 de novembro, no Maracanã. Mas é sempre bom lembrar que o escrete xeneize sabe muito bem como jogar essa competição e não pode ser subestimado. O Palmeiras de Abel Ferreira acabou compreendendo isso da pior maneira possível.