Home Futebol As ideias, o estilo de jogo e os conceitos táticos de Nicolás Larcamón, novo técnico do Cruzeiro

As ideias, o estilo de jogo e os conceitos táticos de Nicolás Larcamón, novo técnico do Cruzeiro

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa o estilo de jogo do novo treinador da Raposa e projeta a próxima temporada

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.
As ideias e os conceitos táticos de Nicolás Larcamón, novo técnico do Cruzeiro

Reprodução / Twitter / Club León

Anunciado oficialmente na última quarta-feira (20) como novo técnico do Cruzeiro, o argentino Nicolás Larcamón tem um perfil que parece agradar bastante aos donos da SAF do clube. Assim como Paulo Pezzolano e Pepa, é jovem (tem apenas 39 anos), tem um estilo mais ofensivo e propositivo de pensar o futebol e parece se adaptar a diferentes contextos. Pelo menos foi o que se viu do seu trabalho no Club León com a conquista da Liga dos Campeões da CONCACAF no mês de junho e pelos bons trabalhos realizados no futebol mexicano. Não deixa de ser uma aposta interessante do Cruzeiro. E que pode dar certo se Larcamón tiver condições para tabalhar.

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É interessante notar que o jovem treinador argentino (que tem passagens por clubes como Antofagasta, Huachipato e Puebla) organiza suas equipes de modo bastante próximo do pensamento da SAF que comanda o Cruzeiro. Desde o retorno do clube à Primeira Divisão, em 2022, os dirigentes procuram treinadores que montem times que:

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  • Pressionem a posse de bola adversária o tempo todo;
  • Fazem a transição em alta velocidade para o ataque e não economizam nas finalizações;
  • Saibam romper as linhas adversárias com passes curtos;
  • Possuam uma pressão pós-perda bastante agressiva;
  • E que valorizem a posse da bola o maior tempo possível.

Com Nicolás Larcamón não deve ser diferente. Seu trabalho à frente do León (mesmo com a eliminação diante do Urawa Red Diamonds nas quartas de final do Mundial de Clubes) é consistente e atende aos desejos da SAF celeste. Em um ano à frente de “La Fiera”, disputou 51 jogos com 22 vitórias, 13 empates e 16 derrotas (o que dá 51,6% de aproveitamento). Conseguiu imprimir seu estilo com certa eficiência na conquista da Liga dos Campeões da CONCACAF ao apostar num 3-4-3/5-4-1 bem ofensivo e de muita força pelos lados do campo com os alas Iván Moreno e Elías Hernández se juntando a Ángel Mena e Victor Dávila nas transições ofensivas.

Nicolás Larcamón montou o León num 3-4-3/5-4-1 de muita força pelos lados na conquista da Liga dos Campeões da CONCACAF no mês de junho. Foto: Reprodução / YouTube / CONCACAF
Nicolás Larcamón montou o León num 3-4-3/5-4-1 de muita força pelos lados na conquista da Liga dos Campeões da CONCACAF no mês de junho. Foto: Reprodução / YouTube / CONCACAF

Com a posse da bola, a ordem é trocar passes de maneira rápida e objetiva, apostando nas triangulações rápidas e no ataque do espaço às costas da última linha de defesa adversária. Na final da Liga dos Campeões da CONCACAF, o gol do título (marcado por Lucas Di Yorio ainda no primeiro tempo) nasceu de troca de passes em alta velocidade entre Ambríz, Lucas Romero e Dávila e no cruzamento preciso de Iván Moreno (que havia se lançado no espaço às costas da defesa do Los Angeles FC). O estilo mais vertical e agressivo casou perfeitamente com a características dos jogadores na conquista do título continental com uma vitória fora de casa.

Ambríz, Romero e Dávila trocam passes, Iván Moreno ataca o espaço atrás da defesa do Los Angeles FC e Di Yorio arrasta a zaga adversária. Foto: Reprodução / YouTube / CONCACAF
Ambríz, Romero e Dávila trocam passes, Iván Moreno ataca o espaço atrás da defesa do Los Angeles FC e Di Yorio arrasta a zaga adversária. Foto: Reprodução / YouTube / CONCACAF

A construção das jogadas é feita desde o campo de defesa com três zagueiros de bom porte e qualidade no passe pelo chão (no caso, Jaine Barreiro, Adonis Frías e William Tesillo). Os dois se aproximam constantemente da dupla de volantes (Fidel Ambríz e Lucas Romero, velho conhecido da torcida celeste) para trabalhar as jogadas e contam com a chegada dos pontas mais por dentro. Esse posicionamento ajuda a abrir espaços no campo adversário e o posicionamento de Lucas Di Yorio como a referência ofensiva, o León conseguia dar profundidade e amplitude nas suas jogadas de ataque. Em um ano, foram 74 gols em 51 partidas disputadas com Lacarmón no comando.

Ángel Mena e Victor Dávila se posicionam mais por dentro e abrem o corredor para os alas Moreno e Hernández na variação tática para o 3-2-5. Foto: Reprodução / YouTube / CONCACAF
Ángel Mena e Victor Dávila se posicionam mais por dentro e abrem o corredor para os alas Moreno e Hernández na variação tática para o 3-2-5. Foto: Reprodução / YouTube / CONCACAF

Defensivamente, no entanto, a equipe do León apresentou alguns problemas com Nicolás Larcamón. Nas 51 partidas disputadas sob seu comando, o León sofreu 59 gols (mais de um gol por partida). Muito disso vem da escolha por saltos na pressão quando o adversário tem a bola dominada para diminuir o espaço e fechar as linhas de passe. Quando essas perseguições não estão bem coordenadas, ela acaba abrindo espaços na linha de cinco defensores. Na decisão contra o Los Angeles FC, o experiente Rodolfo Cota foi importantíssimo com pelo menos três grandes defesas em lances onde a defesa do León vacilou demais na marcação e nos encaixes.

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Os zagueiros saltam para a pressão, os alas cobrem esse espaço e deixam os adversários livres pelos lados. O León teve problemas na defesa. Foto: Reprodução / YouTube / CONCACAF
Os zagueiros saltam para a pressão, os alas cobrem esse espaço e deixam os adversários livres pelos lados. O León teve problemas na defesa. Foto: Reprodução / YouTube / CONCACAF

De toda maneira, Nicolás Larcamón chega ao Cruzeiro com a chancela da SAF que comanda o clube e dentro do perfil que ela procura para comandar o time. Treinadores jovens, que saibam se adaptar a diferentes contextos e montar equipes competitivas. O argentino de 39 anos se encaixa bem nesse quesito embora ainda passe a impressão de não possuir a “casca” necessária para comandar uma equipe de massa no futebol brasileiro e com toda a pressão que esse trabalho traz. Ele tem boas ideias, sabe montar equipes competitivas e demonstra ter capacidade de gerir um elenco mais estrelado e qualificado do que teve no Club León, por exemplo.

Mesmo assim, ele vai precisar de tempo e paciência para implementar seus conceitos. A aposta em nomes como Paulo Pezzolano e Pepa seguiu essa linha da SAF do Cruzeiro embora a escolha por Zé Ricardo e Paulo Autuori (claramente num papel de “bombeiro”) indiquem que os dirigentes celestes não estejam dispostos a esperar tanto por desempenho e resultados. Nicolás Larcamón se apresenta apenas no dia 5 de janeiro junto com todo o elenco da Raposa. Até lá, muita coisa vai acontecer em termos de contratações e planejamento para a próxima temporada.