Home Futebol Valorização da posse, agressividade sem a bola e estilo ofensivo: as ideias táticas de Paulo Pezzolano

Valorização da posse, agressividade sem a bola e estilo ofensivo: as ideias táticas de Paulo Pezzolano

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica como o treinador uruguaio pode implementar seu estilo agressivo e intenso no Cruzeiro em 2022

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Anunciado oficialmente no início do ano, Paulo Pezzolano tem o perfil desejado pela nova diretoria do Cruzeiro. É jovem (tem 38 anos), barato e possui boa experiência na transição de jovens das categorias de base para o profissional. Comandou apenas três clubes ao longo da sua ainda curta carreira (Liverpool e Montevideo Torque do Uruguai e o Pachuca do México), mas mostrou neles seu estilo ofensivo, de bom toque de bola e muita agressividade na pressão pós-perda sem abdicar das ligações diretas quando necessário. Por mais que ainda seja desconhecido do torcedor celeste e da imprensa esportiva brasileira, Paulo Pezzolano tem a confiança dos gestores do Cruzeiro (capitaneados por Ronaldo Fenômeno) e vem agradando os jogadores nos primeiros treinamentos da temporada. E a grande missão do treinador não poderia ser outra: recolocar a Raposa na elite do Brasileirão.

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Além do estilo mais agressivo e voltado para o ataque, Paulo Pezzolano mostrou uma boa capacidade de adaptação às características dos jogadores que tinha à disposição nos clubes que treinou. O novo técnico do Cruzeiro já deixou bem claro que gosta de equipes que valorizem a posse da bola e saiam jogando pelo chão desde o goleiro, mas ele pode utilizar outros meios para fazer sua equipe chegar no ataque. Há um princípio fundamental, uma ideia inicial do jogo trabalhado pelo uruguaio nas suas equipes que pode envolver o passe por baixo ou até mesmo ligações diretas. Tudo vai depender das características dos jogadores que Pezzolano terá para trabalhar na Raposa.

É verdade que o Cruzeiro passa por um momento extremamente complicado por conta de todas as mudanças profundas que vêm sendo realizadas no clube pela gestão comandada por Ronaldo Fenômeno. A já mencionada capacidade de adaptação e de leitura das características dos jogadores que Paulo Pezzolano mostrou ao longo da sua (ainda) curta carreira será fundamental para identificar a formação ideal e quais peças se encaixam melhor numa equipe coesa e consistente. Seja como for, não é tarefa fácil.

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Paulo Pezzonalo já afirmou que prefere escalar seus times num 4-3-3 de muita amplitude e movimentação no meio-campo para abrir espaços. Quem acompanhou seus últimos trabalhos percebeu que sua equipe se organizava numa espécie de 3-4-3 na saída de bola com suas linhas um pouco avançadas. A maneira como essa “saída de três” vai ser realizada depende muito do material humano que o uruguaio tem à disposição. Pode ser um dos volantes (geralmente o que joga mais ao centro do meio-campo) ou um dos laterais. No caso do Liverpool do Uruguai, quem desce é o lateral-direito Sebastián Cáceres. Com isso, Federico Martínez voltava um pouco e Martín Rivas tinha liberdade para subir mais ao ataque pela esquerda. Em números, o 4-3-3 de Paulo Pezzolano poderia se transformar com tranquilidade num 3-4-2-1 ou até mesmo num 3-5-2 dependendo da posição dos seus jogadores no gramado.

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Paulo Pezzolano aposta numa saída de três quando suas equipes estão em organização ofensiva. No caso do Liverpool do Uruguai, quem fechava junto da dupla de zaga era o lateral-direito Sebastián Cáceres enquanto Martín Rivas subia para o ataque. Foto: Reprodução / YouTube / DAZN

Essa variação do 4-3-3 para um 3-4-3 com um lateral (ou um volante) recuando para ajudar na saída de bola permite uma série de outras formações com a bola. Conforme já mencionado anteriormente, Paulo Pezzolano gosta que suas equipes proponham o jogo e que valorizem bem a posse da bola apesar de não eliminar por completo a opção de uma ligação direta ou um passe mais longo na direção de um dos laterais (ou pontas) quando há espaço e condições para tal. Com os pontas/laterais abrindo o campo, é mais do que natural que suas equipes joguem com uma linha de até cinco jogadores no ataque com o avanço dos jogadores de meio-campo para ocupar os espaços entre os defensores adversários.

Novamente, os jogadores que podem exercer esse papel variam muito. Tudo depende do material humano que Pezzolano tem em mãos. Apesar de não ter ido tão bem no Pachuca (foram 72 jogos, com 24 vitórias, 23 empates e 25 derrotas), o treinador uruguaio conseguiu mostrar um pouco do seu estilo ofensivo no escrete mexicano com inversões para o 3-2-5 e até mesmo para o 2-3-5 em determinadas situações. E isso sempre procurando manter a bola pelo chão e jogando com muita rapidez.

A dinâmica ofensiva das equipes de Paulo Pezzolano permitem que elas variem a formação até mesmo para um 2-3-5 em determinados momentos. Mesmo não indo bem no Pachuca, o uruguaio conseguiu colocar um pouco do seu estilo na equipe mexicana. Foto: Reprodução / YouTube / Liga BBVA MX

Em organização defensiva, as equipes de Paulo Pezzolano se caracterizavam pela agressividade na pressão pós-perda (ainda no campo de ataque) e pelos encaixes nos atacantes adversários. As perseguições tendem a ser mais curtas, limitando tudo ao setor de cada jogador. Sendo adepto do 4-3-3, é natural que suas equipes se defendam num 4-1-4-1 com volantes saltando a pressão junto com o atacante mais avançado e com os pontas acompanhando os laterais adversários e fechando os lados do campo. O objetivo é encurtar o espaço e combater o tempo todo para retomar a posse da bola e reiniciar as jogadas ofensivas em alta velocidade. Por conta desses encaixes, era comum ver suas equipes se defendendo no um contra um quando enfrentava adversários mais fortes. A maioria dos gols sofridos pelo Pachuca aconteceu em lances onde o oponente conseguiu bagunçar a última linha.

As equipes de Paulo Pezzolano se caracterizam pela agressividade na pressã pós-perda e nos encaixes na marcação. O objetivo é encurtar o espaço e combater o tempo todo. Cada perseguição, no entanto, fica limitada ao setor onde está cada jogador. Foto: Reprodução / YouTube / Liga BBVA MX

É verdade que Paulo Pezzolano pode apostar em formações completamente diferentes das expostas aqui neste espaço por conta da já mencionada capacidade que o uruguaio tem de se adaptar ao elenco que tem em mãos. E quando se observa a situação do Cruzeiro após mais um ano na Série B, é plenamente possível afirmar que esse será o maior desafio da sua ainda curta carreira e que todo seu conhecimento será colocado à prova nessas primeiras semanas de 2022. O elenco celeste está sendo montado com peças interessantes e com boas alternativas para Pezzolano montar uma equipe que atenda às suas expectativas. Há como se pensar num mesmo 4-3-3 com Edu jogando entre Bruno José e Thiago no ataque, Willian Oliveira, Rômulo e João Paulo formando o trio no meio-campo e nomes da boa campanha na Copinha completando o plantel. Uma equipe competitiva e brigadora. Exatamente como o torcedor deseja.

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Mas é preciso deixar bem claro que Paulo Pezzolano está iniciando um trabalho praticamente do zero e vai precisar de tempo, paciência e condições de trabalho para implementar seus conceitos nunto ao elenco da Raposa. Não será da noite para o dia que as coisas irão funcionar e que o Cruzeiro ira retomar seu lugar na elite do futebol brasileiro. Mais do que nunca, os processos precisam ser respeitados. Ainda mais quando o assunto é o cada vez mais incerto futebol brasileiro.

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