Home Futebol Defesa forte, ataque vertical e presença ofensiva: as ideias táticas de Alexander “El Cacique” Medina

Defesa forte, ataque vertical e presença ofensiva: as ideias táticas de Alexander “El Cacique” Medina

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa alguns dos conceitos trabalhados pelo técnico do Internacional no Talleres de Córdoba

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Pelo menos num primeiro momento, a escolha por Alexander “El Cacique” Medina parece ter seguido uma linha de raciocínio bem definida pela diretoria do Internacional. Trata-se de um treinador que adota um estilo bem alinhado à chamada “escola gaúcha”. Forte marcação, defesa organizada e bem posicionada, ataque vertical (sem medo de apelar para ligações diretas quando necessário), bom toque de bola e muita intensidade em todos os movimentos. Aos 43 anos de idade e pupilo de Marcelo Gallardo, começou no tradicional Nacional de Montevidéu e estava no Talleres desde o ano de 2019. Mesmo sem títulos de expressão no clube argentino, “El Cacique” levou a equipe à terceira colocação no Campeonato Argentino e chegou às competições internacionais sem grandes investimentos em contratações. Apenas trabalhando e desenvolvendo os jogadores que tinha à disposição.

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É preciso dizer que Alexander “El Cacique” Medina está muito longe de ser uma aposta ou um “tiro no escuro”. A maneira com a qual pensa seus times se encaixa bem com o elenco que terá à disposição no Internacional. E seu trabalho vem credenciado pelas ótimas campanhas no Talleres de Córdoba. Além da boa campanha no Campeonato Argentino e da classificação para as copas Sul-Americana e Libertadores da América, “El Cacique” colocou a equipe na final da Copa da Argentina, quando foi derrotado pelo Boca Juniors apenas na decisão por pênaltis. Logo na sua apresentação oficial, Alexander Medina já deixou bem claro o que quer do time do Internacional.

Vamos tratar de imprimir trabalho e dedicação. Fazer um Inter protagonista, uma equipe muito competitiva, seja no Beira-Rio ou de visitante, e convencer os jogadores do que temos que fazer, encarar cada jogo da melhor maneira e buscar sempre a vitória. É nossa missão. (…) Sabemos da capacidade e qualidade que tem a categoria de base do Inter. Há jogadores que já vão fazer a pré-temporada conosco, outros estão em avaliação, vamos ver como se comportam com os profissionais.

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Alexander Medina é o tipo de treinador que gosta de variações táticas e implementa nas suas equipes uma maneira bem singular de iniciar as jogadas. Seu Talleres era escalado no 4-4-2 na grande maioria das vezes, mas o escrete de Córdoba se organizava numa espécie de 3-4-3/3-4-1-2 nos momentos em que tinha a posse da bola e partia em direção ao campo adversário. O lateral-direito Tenaglia permanecia alinhado aos zagueiros para formar uma saída de três. Quem preenchia o espaço à frente era o meia Valoyes. Do outro lado, Enzo Díaz (meia de origem) abria o campo para formar e dava opção de passe para os jogadores de ataque. Com dois jogadores bem abertos, é natural que o jogo pelos lados ganhe bastante consistência. Toda essa dinâmica na hora de iniciar as jogadas ofensivas permitia que Alexander Medina lançasse mão de uma série de alternativas e movimentos combinados na sua equipe.

O lateral-direito Tenaglia permanecia alinha aos zagueiros para fazer a saída de três e liberar Enzo Díaz pela esquerda. O 4-4-2 inicial do Talleres se transformava num 3-4-3 de muita amplitude e força pelos lados do campo. Foto: Reprodução / YouTube / Liga Profesional de Fútbol de la AFA

É interessante notar que essa estrutura tática do Talleres não era algo fixo e inegociável. O que se via no time então comandado por Alexander Medina era uma postura mais vertical. A ordem era jogar para frente e as ligações diretas buscando os jogadores de frente estavam permitidas sempre que fosse necessário. Ao mesmo tempo, com tanta amplitude na saída de bola, é mais do que natural que o escrete de Córdoba fosse ter muita força nos cruzamentos e jogadas de linha de fundo. E para que o meio não ficasse despovoado, as jogadas de ultrapassagens dos volantes (quase sempre bons no trato com a bola e no jogo de costas) eram fundamentais para desafogar a equipe quando era preciso.

Aliás, era mais do que comum ver todo o sistema ofensivo buscando fazer essas ultrapassagens buscando o espaço às costas da última linha de defesa adversária. E a ordem era chegar no ataque com muitos jogadores. Não era raro ver até mesmo Teaglia, o lateral-base do 3-4-3 de Alexander Medina aparecendo um pouco mais à frente para dar opção de passe ou tentar um lançamento mais longo na direção dos pontas ou do trio ofensivo. Tudo era feito de maneira muito intensa e muito objetiva.

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A organização ofensiva proposta por Alexander “El Cacique” Medina permitiam que o Talleres sempre chegasse na frente com muitos jogadores. Todos eles buscavam fazer jogadas de ultrapassagens e atacar as costas da última linha. Foto: Reprodução / YouTube / Liga Profesional de Fútbol de la AFA

Já quando o assunto é a defesa e a proteção da área, o Talleres de Alexander Medina tendia a ser um pouco mais conservador. A pressão pós-perda existia e ela era bem executada. A diferença é que todos voltavam para fechar seus setores caso a bola não fosse recuperada ainda no campo de ataque. A última linha (quase sempre com quatro jogadores) era extremamente alinhada, organizada e compactada. Ela não avançava tanto e procurava proteger o seu próprio gol antes de tudo. Toda essa organização se refletia nos números e nas atuações dentro de campo. O Talleres dava muito trabalho para seus adversários e criava problemas para equipes tradicionais como River Plate e Boca Juniors. Essa talvez seja a principal diferença entre “El Cacique” e Marcelo Gallardo (um dos seus mentores). O primeiro objetivo é proteger a baliza. O segundo é retomar a posse da bola. Simplicidade.

Ao invés de avançar a marcação, o Talleres de Alexander Medina recuava mais as linhas de marcação e protegia muito bem a entrada da área e a sua baliza. Muita atenção na contenção dos espaços e nas recuperação da posse. Foto: Reprodução / YouTube / Liga Profesional de Fútbol de la AFA

Conforme este colunista escreveu no início desta análise, o estilo de Alexander “El Cacique” Medina se encaixa bem com a característica dos jogadores do Internacional. Yuri Alberto (ou Wesley Moraes) podem ser muito úteis jogando como referência ofensiva. Taison será importante para ocupar o espaço entre as linhas adversárias e fazer o time andar. E com o acerto de Tenaglia com o Deportivo Alavés, Gabriel Mercado pode ser o lateral-base do 4-4-2/3-4-3 colorado num primeiro momento com Moisés mais solto pelo outro lado. E ainda há Liziero, Rodrigo Dourado, Rodrigo Lindoso, Boschilia e Edenílson para jogar mais por dentro, todos com características que agradam o novo treinador. A adaptação do elenco ao estilo de “El Cacique” Medida, no entanto, deve demandar tempo e paciência. Mas não é difícil ver esse mesmo Internacional jogando da mesma maneira que o forte Talleres jogava.

Talvez a característica que mais atraiu a direção colorada em Alexander Medina tenha sido a capacidade do treinador de realizar bons trabalhos sem demandar tanto investimento. Mesmo assim, é preciso ter em mente que esse processo não vai acontecer da noite para o dia e nem num passe de mágica. “El Cacique” tem seu estilo de trabalho e chega credenciado pelo ótimo trabalho realizado no Talleres. Entender esse contexto e saber usá-lo a favor do novo treinador será fundamental para o sucesso da equipe colorada em 2022.

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