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Derrota para o Japão deixa lições importantes para a Seleção Feminina; confira a análise

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Arthur Elias na partida realizada no último domingo (3)

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.
Derrota para o Japão deixa lições importantes para a Seleção Feminina; confira a análise

Nayra Halm / Staff Images Woman / CBF

Assim como a vitória por quatro a três na semana passada, a derrota (justa) para o Japão no último domingo (3) pode ser explicada de várias maneiras. E todas elas deixam lições importantes para Arthur Elias nesse início de ciclo até os Jogos Olímpicos. Por mais que o treinador do escrete canarinho afirme que está preocupado “com a evolução da Seleção Brasileira” e que “as jogadoras estão ganhando confiança e entendendo os posicionamentos e as mudanças de função”, fato é que a atuação foi muito ruim. Pior até do que a derrota para o Canadá no mês de novembro. Difícil entender como a equipe caiu tanto em poucos dias. Mesmo no “jogo maluco” da última quinta-feira (30).

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Este que escreve entende muito bem e sempre vai defender que os processos sejam respeitados na Seleção Feminina ou em qualquer outra equipe do planeta. Mas ficou claro para todos aqueles que viram a derrota no último final de semana que a equipe deixou a desejar em vários pontos. Faltou organização na pressão na saída de bola adversária, intensidade na movimentação e melhores tomadas de decisão com e sem a posse. O setor ofensivo, aliás, é o que mais preocupa diante da insistência nos lançamentos longos em detrimento do passe para a companheira de equipe melhor posicionada. Tudo isso contribuiu para que o Japão controlasse bem o meio e conquistasse a vitória.

Na prática, muita coisa da derrota do último domingo (3) passa pela formação escolhida por Arthur Elias para iniciar a partida. Ao invés do 4-4-2/4-2-4, o treinador optou por um 3-4-3 que sobrecarregava demais as volantes Angelina e Duda Sampaio (visivelmente desconfortável nesse desenho tático) e que isolava o quinteto ofensivo (as alas Adriana e Gabi Portilho e o trio formado por Debinha, Geyse e Priscila) das demais jogadoras. Isso fazia com que o Japão (organizado num 4-3-3 que virava um 4-4-2) tomasse conta do meio-campo através dos encaixes na marcação na saída de bola brasileira. Sem ter quem se apresentasse por dentro, o jogo brasileiro ficou travado.

Formação inicial das duas equipes. O 3-4-3 escolhido por Arthur Elias isolou demais o setor ofensivo e acabou sendo presa fácil para o 4-3-3 montado por Futoshi Ikeda.
Formação inicial das duas equipes. O 3-4-3 escolhido por Arthur Elias isolou demais o setor ofensivo e acabou sendo presa fácil para o 4-3-3 montado por Futoshi Ikeda.

A grande sacada do treinador japonês estava no meio-campo e no encaixe da marcação nesse setor. Hayashi e Hina Sugita fechavam em cima de Duda Sampaio e Angelina e ainda contavam com Kumagai na sobra para fechar as linhas de passe e impedir que a bola chegasse no setor ofensivo pelo chão. A solução encontrada pela Seleção Feminina foi o lançamento longo, quase sempre interceptado pela última linha de defesa do Japão. Na defesa, a recomposição seguia desorganizada. Não foram poucas as vezes em que Naomoto e Fujino exploraram o espaço às costas de Bruninha (muito hesitante como zagueira pela direita), Lauren e Yasmim. Faltava compactação e mais ajuda do ataque.

O Japão fechou as linhas de passe do Brasil e explorou o espaço às costas da última linha de defesa. A Seleção Feminina acabou sendo dominada. Foto: Reprodução / SPORTV
O Japão fechou as linhas de passe do Brasil e explorou o espaço às costas da última linha de defesa. A Seleção Feminina acabou sendo dominada. Foto: Reprodução / SPORTV

Todo esse cenário descrito acima fazia com que a bola batesse no ataque e voltasse para a defesa rapidamente. A falta de uma jogadora que pensasse mais o jogo, que cadenciasse mais quando necessário ficou evidente em determinados momentos. Assim como as inúmeras tomadas de decisão erradas durante todos os noventa e poucos minutos de partida no Morumbi. E com o quinteto ofensivo muito avançado, faltava perna e fôlego para fazer a recomposição defensiva de maneira mais eficiente (exatamente como aconteceu na vitória por quatro a três na semana passada).

É verdade que os gols marcados por Minami e Mina Tanaka nasceram de falhas pontuais do sistema defensivo brasileiro (principalmente o segundo gol, em vacilo de Lelê num chute relativamente fácil). Mas o que se via era a clara dificuldade da Seleção Feminina em fazer uma recomposição defensiva minimamente razoável. O trio de zagueiras era surpreendido com três ou até quatro adversárias arrastando a zaga para trás e aproveitando o espaço que aparecia na área e o setor ofensivo pouco conseguia segurar a bola no campo do Japão. Faltou tranquilidade.

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A Seleção Feminina encontrou dificuldades para fechar os espaços atrás do trio de zagueiras e foi facilmente envolvida em alguns momentos. Foto: Reprodução / SPORTV
A Seleção Feminina encontrou dificuldades para fechar os espaços atrás do trio de zagueiras e foi facilmente envolvida em alguns momentos. Foto: Reprodução / SPORTV

Arthur Elias não modificou o desenho tático no segundo tempo, mas deu sangue novo ao time com as entradas de Eudmilla, Bia Zaneratto e Antônia nos lugares de Adriana, Priscila e Lauren respectivamente. O 3-4-3 do primeiro tempo ganhou “cara” de 3-4-1-2 com o recuo da “Imperatriz” para trabalhar as jogadas de ataque, mas ainda faltava alguma coisa na Seleção Feminina. Principalmente alguém que fizesse o que o Japão fazia: arrastar a zaga para trás com jogadas em profundidade e buscasse o espaço aberto dentro da área. Por mais que Bia Zaneratto chamasse a responsabilidade, o Brasil não soube como sair da marcação japonesa e acabou sofrendo a segunda derrota da “era Arthur Elias”.

A entrada de Bia Zaneratto como "10" melhorou um pouco o desempenho ofensivo da Seleção Feminina, mas nada que oferecesse muito perigo ao Japão. Foto: Reprodução / SPORTV
A entrada de Bia Zaneratto como “10” melhorou um pouco o desempenho ofensivo da Seleção Feminina, mas nada que oferecesse muito perigo ao Japão. Foto: Reprodução / SPORTV

Conforme mencionado anteriormente, o momento é de testes. O ciclo (embora mais curto) ainda está no começo e esses amistosos servem justamente para que se busque o melhor entendimento dos conceitos táticos de Arthur Elias por parte da jogadoras. Por outro lado, as duas últimas partidas mostraram que algumas dessas atletas ainda parecem desconfortáveis nessa filosofia mais propositiva de jogo (talvez pelo longo período em que Pia Sundhage esteve no comando da equipe). Pode ser que seja o caso de fazer pequenas adaptações ou uma espécie de “transição” entre um estilo e outro. Ou pode ser o caso de insistir nessa maneira de jogar até que se encontre a formação ideal para o time.

A única certeza que temos é a de que Arthur Elias e a Seleção Feminina ainda precisam de tempo e paciência. Principalmente no que diz respeito aos processos que estão acontecendo na equipe. A partida contra a Nicarágua não deve trazer muitos problemas para as jogadoras no aspecto defensivo. Por outro lado, pode ser que o amistoso desta quarta-feira (6) seja uma ótima maneira de se encerrar o ano de maneira mais tranquila. Afinal de contas, o ano de 2024 promete fortíssimas emoções para os amantes do futebol feminino e da Seleção Brasileira.