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Dorival Júnior aposta na simplicidade e Seleção Brasileira vence a Inglaterra

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa os pontos positivos e negativos da atuação do Brasil no lendário estádio de Wembley

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.
Dorival Júnior aposta na simplicidade e Seleção Brasileira vence a Inglaterra

O Brasil superou a Inglaterra com gol de Endrick na estreia de Dorival Júnior no comando da equipe. Foto: Rafael Ribeiro / CBF

Nem mesmo o mais otimista dos torcedores esperava muita coisa do jogo deste sábado (23) contra a Inglaterra por uma série de motivos. O péssimo ano de 2023 da Seleção Brasileira e a bagunça que nos bastidores da CBF são os principais. Acabou que o Brasil teve uma atuação acima das expectativas e venceu o English Team com justiça.

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Mais do que isso. Dorival Júnior fez aquilo que todo treinador tem que fazer dentro de um contexto desfavorável: SIMPLIFICAR AS COISAS. O treinador do escrete canarinho buscou deixar cada jogador o mais confortável possível em campo e viu sua equipe conquistar uma bela vitória dentro de Wembley com um gol do iluminado Endrick. Além dele, vale destacar a organização da equipe brasileira e o bom desempenho do sistema defensivo.

É óbvio que a Seleção Brasileira ainda precisa melhorar em vários quesitos. Mas a vitória na casa da Inglaterra e a boa atuação coletiva serviram para dar confiança para Dorival Júnior nesse início de trabalho. Suas apostas deram certo e os jogadores pareciam muito mais à vontade dentro de campo. E isso é importantíssimo.

Dorival aposta num estilo mais reativo e ri por último em Wembley

A Seleção Brasileira jogou num 4-3-3 com Rodrygo fazendo o papel de referência móvel no ataque. O camisa dez baixava para trabalhar a bola com Lucas Paquetá e abria espaços para as chegadas de Vinícius Júnior e Raphinha saindo do lado para dentro. Essa aproximação entre os jogadores de frente permitia que o Brasil encontrasse espaços na entrelinha e às costas da defesa da Inglaterra. Não demorou muito para que o time começasse a criar suas chances de gol na partida.

Organização ofensiva da Seleção Brasileira.
Rodrygo baixava para receber a bola no meio e buscava os toques por baixo com Lucas Paquetá e Vinícius Júnior. Wendell abria o campo pela esquerda. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

A ideia de Dorival era simples. Com a bola, os jogadores se aproximavam para as tabelas e levar vantagem nas associações. Sem ela, linhas compactadas e área bem protegida. Nesse ponto, a escolha por João Gomes iniciando a partida como titular se justificava por conta da capacidade que o volante do Wolverhampton tem para cobrir grandes distâncias. Com Vinícius Júnior mais adiantado (para puxar os contra-ataques), a escolha pelo camisa 15 acabou sendo natural.

Organização defensiva da Seleção Brasileira.
Sem a bola, a Seleção Brasileira baixa o bloco de marcação e protege a entrada da área. João Gomes foi importante para liberar Vinícius Júnior. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

É interessante notar que o jogo da Seleção Brasileira não ficava restrito a apenas um setor do campo. O time buscava sempre as melhores opções, seja através das tabelas ou das ligações diretas buscando Vinícius Júnior e Raphinha às costas de Walker (depois Ezri Konsa) e Chilwell (depois Joe Gomez). Apesar da falta de entrosamento, o Brasil se comportou bem.

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A dinâmica implementada por Dorival na saída de bola também ajudou. Se Rodrygo baixava junto de Paquetá para ajudar na criação, Bruno Guimarães esteve muito bem na distribuição dos passes e Danilo ajudou fechando como um “lateral-zagueiro” pela direita junto de Fabrício Bruno e Beraldo. O Brasil foi encontrando os espaços no 4-4-2 inglês aos poucos e riu por último.

Organização da Seleção Brasileira na saída de bola.
Bruno Guimarães foi importante na distribuição dos passes e lançamentos buscando os pontas brasileiros. A chamada “saída de três” também funcionou. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

Com o tempo, a Seleção Brasileira foi crescendo no jogo e conseguindo encurralar a Inglaterra em determinados momentos. Dorival Júnior renovou o fôlego da sua equipe com as entradas de Endrick, Andreas Pereira, Savinho e Douglas Luiz nos lugares de Rodrygo, Lucas Paquetá, Raphinha e Bruno Guimarães. E foi da bola interceptada pelo jogador do Fullham que saiu o único gol da partida (marcado pela sensação Endrick). Uma aula de como se faz um bom contra-ataque.

Início do lance do gol de Endrick.
Andreas Pereira rouba a bola e faz o lançamento para Vinícius Júnior no lance do gol de Endrick. O Brasil deu aula de contra-ataque na partida. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

A Inglaterra, por sua vez, parecia sem ter muito o que fazer além de levantar bolas na área. É verdade que Harry Kane e Saka fizeram muita falta na partida, mas Gareth Southgate tinha material humano de muita qualidade para fazer o English Team jogar mais do que jogou. Principalmente diante de uma Seleção Brasileira ainda sem o melhor entrosamento. Melhor para Dorival Júnior, que iniciou sua trajetória no escrete canarinho com uma vitória importantíssima.

Fazer o simples não é fácil e Dorival já mostrou isso várias vezes

Este que escreve ainda fica meio na bronca com alguns colegas que insistem em falar que Doriva apenas “faz o simples”. Entender as características de cada jogador, encontrar o setor onde cada um deles se sente mais confortável e dar confiança ao grupo não são tarefas fáceis de se fazer. Ainda mais no contexto em que a Seleção Brasileira se encontrava antes da bola rolar em Wembley. É por isso que o resultado deste sábado (23) precisa sim ser exaltado por todos nós.

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Se a Seleção Brasileira vai repetir o bom desempenho contra a Espanha e na Copa América, isso é outra questão. O que ficou da vitória sobre a Inglaterra foi a certeza de que não temos uma “geração perdida”. Acabou que o “pior Brasil dos últimos anos” venceu a “melhor Inglaterra dos últimos anos”. E dentro de Wembley. Resultado simbólico demais nesse início de trabalho.