Home Opinião Iberê Riveras: Ituano, Mirassol e Red Bull Bragantino – 3ª parte da Retrospectiva 2019/Perspectiva 2020

Iberê Riveras: Ituano, Mirassol e Red Bull Bragantino – 3ª parte da Retrospectiva 2019/Perspectiva 2020

Série dos clubes do interior que irão disputar o Paulistão se encerra com as análises dos jornalistas Moura Napoli (Jornal Periscópio de Itu), Felipe Modesto (TV TEM Rio Preto) e Diego Perez (Rádio 102,1 FM de Bragança Paulista)

Iberê Riveras
Colaborador e colunista do Torcedores.com.

Esta semana o futebol brasileiro conheceu todos os 68 clubes que irão disputar a Série D do Campeonato Brasileiro de 2020. A 4ª e última divisão nacional é o único caminho para qualquer clube adentrar o seleto grupo dos 60 (somando as Séries A, B e C) que têm calendário qualificado para o ano inteiro. As vagas para a Série D são ‘móveis’, ou seja, a cada ano a CBF – apoiada no Ranking Nacional de Federações – abre espaço para as 27 federações estaduais indicarem seus representantes baseadas em seus torneios estaduais.

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Neste 2019 que se despede, o Ituano conseguiu a proeza de ficar entre os quatro melhores da difícil Série D e conseguiu o tão sonhado acesso para a Série C. Agora, o interior de SP corresponderá a 10% do ‘G60’ do futebol brasileiro: Ituano e São Bento na Série C, Ponte Preta, Guarani e Botafogo de Ribeirão na Série B e Red Bull Bragantino na Série A. Os quatro representantes de SP na Série D de 2020 seriam os três melhores classificados do Campeonato Paulista de 2019 ‘sem divisão’ nacional (Red Bull Brasil, Novorizontino e Ferroviária), mais o campeão da Copa Paulista 2019 (São Caetano).

Como já sabido, a multinacional austríaca de energéticos Red Bull assumiu o controle do Bragantino, o que provocou o conflito de dois clubes do mesmo grupo econômico na 1ª divisão paulista, o que não é permitido. Seguindo o que a lei determina, a FPF realocou um dos clubes – a empresa escolheu o Red Bull Brasil, sediado em Jarinu – na Série A2.

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Aplicada a mesma lógica em nível nacional, a Red Bull passaria a ter então o Red Bull Bragantino na Série A do Brasileiro e o Red Bull Brasil na Série D, uma situação dentro da legalidade. Eis que a Red Bull anunciou a desistência de disputar a Série D com o RB Brasil, abrindo uma vaga para o ‘próximo’ melhor colocado do Paulistão 2019 ‘sem divisão’, o Mirassol.

No último dia 7, o presidente da FPF Reinaldo Carneiro Bastos foi a Mirassol acompanhar a inauguração do novo centro de treinamento do clube. No mesmo dia, dentro da Câmara Municipal da cidade, o homem-forte do futebol paulista anunciou a participação do Mirassol na Série D do Brasileiro enquanto recebia o título de ‘cidadão mirassolense’. Já é hora de a FPF se descolar do colunismo social, esta obscura prática política que não combina com o futebol moderno.

Ituano

Ainda com Juninho Paulista como gestor, o Galo começou bem o ano sob o comando de Vinícius Bergantin. Com 5 vitórias, 2 empates e 5 derrotas, terminou a 1ª fase do Paulistão em 1º do grupo, à frente do São Paulo. Nas quartas, perdeu duas vezes para o time do Morumbi e foi eliminado. Juninho foi para a CBF em abril, mas a mobilização para a Série D do Brasileiro foi mantida. Na 1ª fase, URT-MG e Serra-ES foram superados – o Brasiliense ficou em 1º –, e a classificação foi alcançada. No primeiro mata-mata, duas vitórias sobre a Caldense. Nas oitavas, classificação em casa contra o Vitória-ES. A vaga para a Série C foi decidida contra o Itabaiana. Uma vitória em Itu (3 a 1) seguida de revés no Sergipe (0 a 1) garantiram o  acesso para a 3ª divisão do Campeonato Brasileiro – em que pese a eliminação para o Brusque-SC na semifinal. Para o Paulistão 2020, a perspectiva é positiva. Vinícius Bergantin segue no comando da equipe, que conseguiu manter a base de 2019.


Moura Nápoli (Jornal Periscópio e Momento do Esporte)

“Único clube do interior bicampeão paulista, o Ituano iniciou a temporada com a missão de manter-se na ‘nata’ com uma gestão séria e diferenciada. Quem acompanhou de perto, viu que a vitória por 5 a 1 contra o Santos de Sampaoli não foi um acaso. O time não teve sobressaltos na 1ª fase e mesmo a eliminação para o São Paulo esteve longe de ser um vexame. Outro ponto positivo foi a revelação do menino-craque Gabriel Martinelli, que chegou ao clube no sub 15 e galgou todos os postos até ser lançado no profissional ‘prematuramente’, no bom sentido. Bastou um Paulistão para despertar a atenção de Barcelona, Real Madrid, Manchester United e Arsenal, para onde acabou indo. Com o apoio do presidente Vinícius Guitti, o gestor Paulo Silvestri manteve as diretrizes implantadas pelo Juninho para a Série D. Mesclando a experiência de jogadores como Corrêa com a juventude de joias da base como Gui Mendes, o acesso para a Série C premiou um dos clubes mais estruturados, organizados e modernos em sua gestão. Prova disso é que o técnico Vinícius Bergantin vai para o seu terceiro Paulistão seguido. Tudo isso deixa o torcedor confiante em dias ainda melhores.”

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Mirassol

O ano do clube verde e amarelo não foi o ideal, mas acabou com um presentão. No Paulistão, em 12 jogos, só duas vitórias, 11 pontos e o modesto 12º lugar – sorte que Bragantino, São Caetano e São Bento foram piores. Após 110 jogos, o técnico Moisés Egert deixou o comando do clube. No Troféu do Interior, passou pelo Guarani, mas parou no Red Bull Brasil, que viria a ser o campeão. Restou para o 2º semestre a Copa Paulista, com Ricardo Catalá como treinador. Após um início claudicante na 1ª fase, quando se classificou em 4º do grupo, uma arrancada: 6 vitórias em 6 jogos na 2ª fase. Ferroviária e Santo André foram superados na 3ª fase, mas o XV de Piracicaba derrubou o Leão da Araraquarense na semifinal. Graças à melhor posição do clube na história da competição, Ricardo Catalá foi mantido para a temporada 2020. Com a desistência do Red Bull Brasil em disputar a Série D do Brasileiro, o Mirassol terá a chance de subir para a Série C do Brasileiro no 2º semestre do ano que vem. No começo de dezembro, o clube inaugurou um moderno centro de treinamento que custou cerca de R$ 8 milhões. A maior parte deste valor veio do percentual da venda do atacante Luiz Araújo, revelado pelo clube, do São Paulo ao Lille, da França. Numa ação de marketing, a diretoria já vendeu mais de 1.800 carnês para os jogos da 1ª fase do Paulistão. De posse de um chaveiro personalizado, com um chip interno, o torcedor mirassolense terá acesso aos seis jogos no Maião.


Felipe Modesto (TV TEM Rio Preto)

“O Mirassol teve um 2019 com 1º e 2º semestres distintos na maneira do time atuar. No início da temporada, apostou na sequência do trabalho do Moisés Egert, que estava no comando do time desde a Série A2, subiu e chegou ao seu quarto Paulistão. Com um estilo de jogo defensivo, o time sofreu um pouco, brigou para não cair até a antepenúltima rodada, não chegou nem a sonhar com classificação. Havia um desequilíbrio, a equipe apostava muito no sistema de marcação, na maioria das vezes com três zagueiros, mas sofria para fazer gol. Não conseguiu garantir segurança defensiva e produziu pouco no ataque, essa foi a tônica. O Luciano Deitos, auxiliar-técnico, assumiu no Troféu do Interior, um campeonato insosso, não é todo mundo que acha graça. Caiu para o Red Bull com um time já todo esfacelado. O 2º semestre foi diferente porque veio sangue novo, o Ricardo Catalá, ex-assistente do Antônio Carlos Zago no Red Bull. Na Copa Paulista, ele começou a implantar um jeito diferente de atuar, com bola no chão, transição, sem ligação direta, apostando mais em jogadores leves e técnicos do que na força física. Faz uma 1ª fase com resultados ruins, mas tentando implantar esse jogo mais bonito, arejado. Reforços chegaram para a 2ª fase e o Mirassol engatou uma sequência invicta muito boa, uma equipe que jogava sem volante de origem, três meias, três atacantes. Chegou a fazer jogos de impressionar. Eliminou a forte Ferroviária num confronto direto na 3ª fase, mas numa manhã infeliz, acabou empatando contra o XV de Piracicaba em casa. Depois, não conseguiu buscar o resultado no Barão de Serra Negra. O saldo do ano pode ser considerado médio, incompatível com a estrutura moderna que vem sendo montada. Para 2020, com a continuidade da comissão técnica, do Ricardo Catalá, há a perspectiva de melhores resultados. Deve brigar para se classificar para as quartas de final do Paulistão e avançar na Série D. O Mirassol está tentando se tornar um grande do interior do estado de São Paulo.”

Red Bull Bragantino

Dia 27 de janeiro de 2019, estádio Moisés Lucarelli, cidade de Campinas, São Paulo. Com a presença de míseros 283 pagantes e arrecadação de R$ 2.980,00, Red Bull Brasil e Bragantino empataram por 1 a 1 em uma partida morna, que viria a ser histórica. Tão logo a 1ª fase do Campeonato Paulista acabou, no final de março, a especulação sobre a suposta fusão do Bragantino com o Red Bull Brasil se ’confirmou’ por meio de dirigentes do clube de Bragança Paulista, que ficou à beira do rebaixamento. O RB Brasil, sediado na pacata cidade de Jarinu, interior paulista, era então a sensação do campeonato, com a melhor campanha da competição, à frente dos gigantes Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo. A equipe comandada pelo ex-zagueiro Antônio Carlos Zago seria eliminado pelo Santos de Sampaoli nas quartas de final, mas duas semanas depois se tornaria campeã do Troféu do Interior no mesmo estádio da Ponte Preta, justamente contra a Macaca. Para a disputa da Série B do Brasileiro, com a camisa do Bragantino – e com o logotipo da Red Bull estampado ao centro –, chamou a atenção os números às costas, vermelhos, sinal definitivo de que o Massa Bruta nunca mais seria o mesmo. Praticamente todo elenco e comissão técnica do Red Bull Brasil havia ocupado o espaço dos profissionais do Bragantino, num modelo de parceria que só seria compreendido em outubro. Não era uma fusão, mas sim uma espécie de aquisição. A campanha na Série B foi avassaladora e, ao final do turno, já estava encaminhado o acesso de uma das maiores sensações do futebol brasileiro nos últimos anos para a elite nacional. Com 75 pontos em 38 jogos – 22 vitórias, 9 empates, 7 derrotas, 64 gols pró e 27 contra, saldo de 37 –, a cidade de Bragança Paulista voltava a ter um clube na 1ª divisão após 22 anos. O acesso se confirmou na rodada 33, numa vitória por 3 a 1 em casa, contra o Guarani. A repercussão do projeto da Red Bull no interior de São Paulo já é um fenômeno. Para 2020, do elenco do Bragantino no Paulista de 2019, restaram apenas três atletas: Alex Alves, Matheus Peixoto e Wesley. Tudo pode acontecer com este incrível Red Bull Bragantino, que dentro de mais alguns dias anunciará seu novo escudo e uniforme.


Diego Perez (Rádio 102,1 FM de Bragança Paulista)

“O Bragantino não desapareceu. É uma nova fase, uma fase importante que pode ser modelo não só para outros clubes do interior de São Paulo, mas para qualquer clube de aporte financeiro mais baixo. O Bragantino estava fadado a cair mais uma vez na Série B e brigar por descenso na maioria das competições porque investimento, hoje em dia, é praticamente tudo. Com a manutenção da base de jogadores da Série B, acredito que o Bragantino possa sim estar em 2020 entre os dez melhores do Brasileiro da Série A. Estão chegando jogadores interessantes, outros têm sido especulados, jovens com passagem por seleção de base, sub 23, e o que a gente nota nos clubes da Red Bull fora do Brasil, tanto no Leipzig quanto no Salzburg, é que essa filosofia de trabalho dá certo. O Zago gosta disso porque com os jovens, sem aqueles medalhões, tem o time na mão, consegue desenvolver o trabalho baseado no que acredita. O fato de ser um clube-empresa também ajuda porque não tem a opinião daquele dirigente, do conselheiro. É o Zago passando diretamente para o [diretor executivo] Thiago Scuro, que faz todo esse papel de dirigente, de presidente, de consultor. É o cara que também está sempre atento no mercado. A aposta seguirá sendo na mescla de atletas experientes como o Julio Cesar, o Uillian Correia, com jovens como o Claudinho, o Leo Ortiz. Para o Paulistão, acho que o Bragantino briga sim por título. Os jogos decisivos serão em partida única, o time está entrosado, motivado também pela pré-temporada em Itu e na Argentina, com amistosos – um deles será contra o Rosario Central. O futuro é promissor, daqui a dois ou três anos deve estar disputando a Libertadores, consolidado no Brasileiro. A cidade de Bragança Paulista está abraçando o projeto. Claro que tem alguns que torcem o nariz para a troca de escudo, não sabe o que vai acontecer com o mascote, as cores do clube, camisa, mas a maioria gosta. Porque é um atrativo a mais na cidade. A média de público era de 600 torcedores, agora é de 6 mil, então a diferença é muito grande, a gente vê crianças voltando a ir para o estádio, reconhecendo jogador, usando camisa de jogador na rua, querendo tirar foto. Isso tinha acabado e está voltando.”

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Campeonato Carioca 2020 – começa domingo!

Dois clubes do interior (Americano de Campos e Friburguense – campeão da Série B1) irão disputar ainda este ano a Seletiva que irá apontar mais dois participantes do Estadual do Rio. Os rivais serão América, Macaé, Nova Iguaçu e Portuguesa.

Os outros dois clubes interioranos (Volta Redonda e Resende) já estão garantidos na competição; caíram no Grupo B e terão a concorrência direta de Fluminense, Vasco da Gama e Madureira, além do 2º colocado da Seletiva.

Seletiva – 1ª rodada

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Domingo (22), 15h
Nova Iguaçu x Friburguense, no Laranjão (Nova Iguaçu)
Portuguesa x Americano, no Luso Brasileiro (Ilha do Governador)

Campeonato Paulista da Série A1 2020 – Clique aqui para ver a tabela

Dos 16 participantes, nove são do interior.

Botafogo, Ferroviária, Guarani, Inter de Limeira, Ituano, Mirassol, Novorizontino, Ponte Preta, Red Bull Bragantino (interior), Corinthians, Palmeiras, São Paulo (capital), Água Santa, Oeste, Santo André (Grande São Paulo), Santos (litoral).

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Copa São Paulo de Futebol Júnior 2020 – Clique aqui para ver as sedes e grupos e aqui para ver a tabela

A competição será disputada em sete fases: primeira, segunda, terceira, oitavas-de-final, quartas-de-final, semifinal e final.
Os 128 clubes participantes foram divididos em 32 grupos de quatro. Jogarão entre si dentro do grupo, em turno único, classificando-se para a segunda fase os dois melhores de cada grupo.

Campeonato Paulista da Série A2 2020 – Clique aqui para ver a tabela

Dos 16 participantes, dez são do interior.

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Atibaia, Monte Azul, Penapolense, Red Bull Brasil, Rio Claro, São Bento, Sertãozinho, Taubaté, Votuporanguense, XV de Piracicaba (interior), Audax, Juventus, Portuguesa, São Bernardo FC, São Caetano (Grande São Paulo) e Portuguesa Santista (litoral).

Campeonato Paulista da Série A3 2020 – Clique aqui para ver a tabela

Dos 16 participantes, 14 são do interior.

Batatais, Barretos, Capivariano, Comercial, Desportivo Brasil, Linense, Marília, Nacional, Noroeste, Olímpia, Paulista, Primavera, Rio Preto, Velo Clube (interior), EC São Bernardo e Grêmio Osasco (Grande São Paulo).

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