Home Opinião Iberê Riveras: FPF divide a 4ª divisão do Campeonato Paulista em duas e empurra o problema pra frente

Iberê Riveras: FPF divide a 4ª divisão do Campeonato Paulista em duas e empurra o problema pra frente

Com a aprovação dos clubes, Federação Paulista recria a 5ª divisão para 2021; algo pode melhorar, mas o erro estrutural continua

Iberê Riveras
Colaborador e colunista do Torcedores.com.

Por 23 votos a 12, os clubes que disputarão a 4ª divisão do Campeonato Paulista em 2020 decidiram na quarta-feira (29), durante o Conselho Arbitral na sede da FPF, desmembrar a competição para o ano que vem. Não será a primeira vez que o futebol paulista terá cinco divisões – já teve até seis. A novidade é que a 4ª divisão passará a ter o mesmo número de clubes que as três primeiras divisões: 16. Já o último nível do futebol do estado mais rico da federação, a 5ª divisão, terá cerca de 25 clubes.

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A alteração pode parecer insignificante aos olhos do leigo, afinal, “é só a 4ª ou 5ª divisão”, mas é mais uma demonstração da falta de rumo da FPF na organização de seus campeonatos. Os clubes, entre a cruz e a espada, aprovaram a mudança. O que ainda não se iniciou foi o necessário debate sobre a completa remodelação do Campeonato Paulista em todas as suas divisões – a última foi feita há 26 anos. Os tempos mudaram, a demanda dos clubes grandes se alterou com o Brasileiro de pontos corridos, a ampliação da Libertadores. Cada vez com menos datas, os estaduais agonizam e estão levando de embrulho os clubes menores, o grande manancial de jovens atletas. O topo da pirâmide se alterou e a base precisa se reajustar. Cabe ao estado de São Paulo, a locomotiva financeira do país, dar o pontapé inicial neste processo – o interior representa 70% dos clubes.

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Voltando à 4ª divisão paulista, as últimas edições foram, de fato, insanas. Em 2019, os 41 clubes foram divididos em seis grupos “regionalizados”. Quanto menos clubes uma competição tem, mais furada fica a regionalização. Já na 1ª fase, por exemplo, o XV de Jaú disputou o grupo da região de Campinas, o Paulista de Jundiaí teve de ir três vezes ao Vale do Paraíba e duas a Mogi das Cruzes. Viagens realmente longas não puderam ser evitadas já na 2ª fase, quando os 24 concorrentes foram divididos em seis grupos de quatro. Para a maioria dos clubes deste nível, o gasto com transporte é penoso. São 539 km entre São José dos Campos e José Bonifácio, 575 km entre Tupã e Suzano. A 3ª fase teve 16 clubes divididos em quatro grupos de quatro. O mata-mata começou nas quartas de final – oito clubes –, e foi até a final. Postergar o cruzamento das regiões para a fase crucial também pode contribuir na racionalização da competição.

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O projeto da FPF para 2021 aprovado pelos clubes divide a 4ª divisão – chamada pela FPF de 2ª divisão – em duas. A “de cima” terá 16 clubes – os 14 melhores deste ano – fora os dois ascendidos para a A3 – mais os dois rebaixados da mesma – e a “de baixo”, os cerca de 25 restantes. Por mais que a Federação Paulista se esforce em criar nomenclaturas para não dizer 2ª, 3ª, 4ª e 5ª divisões – depois de A1, A2 e A3, agora inventou Segunda Divisão Séries A e B –, é difícil imaginar que qualquer investidor, desde o interessado em assumir um clube até o que toparia contribuir com uma pequena verba, não vá querer entender a real do sistema. Quantos anos um clube da 5ª divisão irá levar para alcançar a visibilidade, por exemplo, da elegante 2ª divisão? Por ora, o acesso/descenso é de dois clubes por ano – fala-se em três da 4ª para a 5ª. Além de competência, será preciso muita sorte para um clube enfileirar acessos em poucos anos. A própria fórmula de disputa e o tempo de disputa dos campeonatos jogam contra o planejamento.

“Eu senti os clubes maduros quanto à decisão [de desmembrar a 4ª divisão]. Cerca de dois terços estiveram favoráveis. É um divisor de águas. Quer queira, quer não, os clubes que ficarem na Segunda Divisão Série A terão investimento maior em atletas e comissão técnica e também em viagens e hospedagem. Em resumo: terão que adequar uma estrutura para esta nova competição”, afirmou Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da FPF. Como sempre, a frase é de efeito, mas a fragmentação distancia os clubes, os isola em seus blocos. Mais do que nunca os clubes precisam se unir em torno de um projeto que se sustenta.

Outro fenômeno que as cinco divisões de 2021 podem proporcionar é o de uma mesma região ter clubes de cidades vizinhas espalhados em divisões diferentes. É evidente que não se pode colocar no mesmo balaio agremiações em condições muito distantes, mas haverá mesmo cinco níveis no futebol de SP? Será que os clubes das futuras 3ª e 4ª divisões não poderiam disputar a mesma competição? A mesorregião de Ribeirão Preto tem hoje o Botafogo na 1ª divisão, o Sertãozinho na 2ª, o Batatais, o Barretos e o Comercial na 3ª e a Francana na 4ª. Poderíamos ter, hipoteticamente, o Jaboticabal – que está desativado – na 5ª. Uma penca de clássicos regionais, um dos motores do futebol, é desperdiçada a cada ano. Há, neste momento, no site da FPF, uma matéria sobre o clássico local Noroeste de Bauru 1 x 0 Marília, que levou quase 6 mil pessoas ao Alfredo de Castilho na última quarta-feira (29). Os dois não se enfrentavam pelo Paulistão há uns bons anos.


Quase 6 mil pessoas no Alfredão, em Bauru, para ver o Norusmac | Foto: Divulgação/EC Noroeste

Outro critério que poderia ser aproveitado na remodelação do Paulistão e suas divisões é se o clube tem calendário nacional para o restante do ano – questão oportuna apenas para os clubes envolvidos na 1ª divisão, mais o São Bento de Sorocaba, que está na 2ª. Nada impede que enquanto as séries A, B, C e D do Brasileiro se desenrolam, o Campeonato Paulista corra em paralelo – nesta fase, sem os gigantes. Como já argumentado em outras colunas, a viabilização econômica de tudo isso não é simples. Hoje em dia, muitos clubes preferem campeonatos curtos, de três ou quatro meses a competições de nove, dez meses. Os 23 clubes que votaram pelo desmembramento da 4ª divisão estavam cientes de que, provavelmente, se permanecerem no mesmo nível em 2021 jogarão por menos tempo do que este ano – entre 12 de abril e 3 de outubro. O insípido modelo de 16 clubes, 15 jogos para cada um na 1ª fase, dois rebaixados, mata-mata a partir das quartas de final e definição de ascendidos nas semifinais costuma levar um trimestre ou pouco mais. Os clubes não sabem mais se preferem estar ativos ou hibernando esperando o ano seguinte. A situação é complexa, requer  análise técnica, debate. Não basta dividir o abacaxi em duas partes.

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4ª divisão de 2020
Dos 36 clubes já confirmados (ainda vai aumentar), 26 são do interior
A 1ª fase terá quatro grupos, regionalizados
Os quatro melhores de cada grupo avançarão para o mata-mata
Cruzamento olímpico, ou seja, 1º x 16º do geral, 2º x 15º e, assim, sucessivamente
Campeão e vice subirão para a 3ª divisão
Os 14 clubes que chegarem às oitavas de final e que não conseguirem o acesso seguirão na 4ª para 2021
Os cerca de 25 restantes cairão para a 5ª divisão de 2021
Serão permitidas até cinco substituições por partida, em no máximo três atos
A partir deste ano, os clubes interessados em disputar apenas as categorias de base não são mais obrigados a disputar o profissional
Todas as partidas serão transmitidas pela plataforma de streaming MyCujoo em parceria com a FPF

Os 26 clubes do interior (em negrito clubes que voltam à ativa)
América (São José do Rio Preto)
Rio Branco (Americana)
São José (São José dos Campos)
XV de Jaú
União Barbarense (Santa Bárbara D’Oeste)
Mogi Mirim
Francana (Franca)
Independente (Limeira)
Inter de Bebedouro
Sãocarlense (São Carlos)
Taquaritinga
Itapirense (Itapira)
Bandeirante (Birigui)
Amparo
Andradina
Assisense (Assis)
VOCEM (Assis)
Grêmio Prudente (Presidente Prudente)
Manthiqueira (Guaratinguetá)
Brasilis (Águas de Lindoia)
São Carlos
Tanabi
Osvaldo Cruz
Itararé
Jaguariúna
Joseense (São José dos Campos)

Os outros 10
Atlético Mogi (Mogi das Cruzes)
Flamengo (Guarulhos)
Guarulhos
Jabaquara (Santos)
Mauá
Mauaense (Mauá)
Osasco
Taboão da Serra
União Mogi (Mogi das Cruzes)
União Suzano (Suzano)

Clubes que ainda podem ser incluídos
Barcelona (São Paulo)
José Bonifácio
Matonense (Matão)
Santacruzense (Santa Cruz do Rio Pardo)
Tupã

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Clube que pode reaparecer
AE Araçatuba

Clubes que disputaram a competição em 2019 e não devem jogar este ano
Catanduva
Catanduvense (Catanduva)
Elosport (Capão Bonito)
Fernandópolis

CAMPEONATO PAULISTA A1  2020 – Clique aqui para ver a tabela detalhada

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Dos 16 participantes, nove são do interior: Botafogo, Ferroviária, Guarani, Inter de Limeira, Ituano, Mirassol, Novorizontino, Ponte Preta e Red Bull Bragantino. Corinthians, Palmeiras, São Paulo (capital), Santos (litoral), Santo André e Oeste (Grande São Paulo) completam a lista.

CAMPEONATO PAULISTA A2 2020 – Clique aqui para ver a tabela detalhada

Dos 16 participantes, dez são do interior: XV de Piracicaba, Taubaté, Atibaia, Monte Azul, Penapolense, Red Bull Brasil, Sertãozinho, São Bento, Rio Claro e Votuporanguense. Portuguesa e Juventus (capital), Portuguesa Santista (litoral), São Bernardo FC, São Caetano e Osasco Audax completam a lista.

CAMPEONATO PAULISTA A3 2020 – Clique aqui para ver a tabela detalhada

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Dos 16 participantes, 13 são do interior: Batatais, Barretos, Capivariano, Comercial, Desportivo Brasil, Linense, Marília, Noroeste, Olímpia, Paulista, Primavera, Rio Preto e Velo Clube. Nacional (capital), EC São Bernardo e Grêmio Osasco (Grande São Paulo) completam a lista.

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