Home Opinião Iberê Riveras: A ‘festa do interior’ no Paulistão de 1990

Iberê Riveras: A ‘festa do interior’ no Paulistão de 1990

Não foram apenas os finalistas Bragantino e Novorizontino que brilharam; XV de Piracicaba, Guarani, Botafogo de Ribeirão, América de Rio Preto e outros 4 do interior ficaram entre os 14 melhores, à frente do São Paulo

Iberê Riveras
Colaborador e colunista do Torcedores.com.

O Campeonato Paulista de 1990 entrou para a história com a ‘final caipira’ entre o clube de Bragança Paulista e o de Novo Horizonte, no entanto, aqueles 422 jogos disputados entre 27 de janeiro e 26 de agosto – com a Copa do Mundo da Itália no meio – produziram muitas histórias, como o eventual rebaixamento do São Paulo para a 2ª divisão.

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Dos 24 participantes, 17 eram do interior; campeão e vice realizaram 37 jogos

De 1978 a 1988, a FPF manteve a 1ª divisão do futebol paulista com 20 clubes. Eram tempos em que o Campeonato Paulista dividia o ano com o Campeonato Brasileiro, um semestre para cada. A Libertadores, com um punhado de jogos, salpicava apenas a temporada do campeão e vice do Brasileirão do ano anterior. Não havia Copa do Brasil e as grandes rivalidades se limitavam ao âmbito estadual. Politicagem sim, já havia para todo o lado, inclusive pelo interior paulista, que pelo menos guerreava pelos seus interesses.

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Em meados de 1988, o sempre inventivo Eduardo José Farah assumiu o posto máximo da FPF e deu início ao projeto de enxugar o número de clubes na divisão de elite e padronizar os pontos corridos em ida e volta. Para atingir o seu objetivo, a estratégia do ex-presidente do Guarani era inchar a divisão de elite até poder dividi-la em duas, sem deixar de chamar o segundo nível de 1ª divisão. O primeiro passo foi fechar a torneira do rebaixamento a partir do Paulista de 88. O Paulista de 89 teve 22 clubes, o de 90, 24, e o de 91, 28 clubes. Seria justamente a classificação da 1ª parte do Paulista de 90 que determinaria o novo corte, em que apenas 14 clubes passariam a ter chances de conquistar o título.

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Grupo 1

O Paulistão de 90 tinha 24 clubes na 1ª fase. No Grupo 1 estavam os 12 melhores de 89: Corinthians (33), Palmeiras (31), Bragantino (28), Santos (25), Mogi Mirim (25), Portuguesa (25), Novorizontino (25), São Paulo (23), União São João (23), Guarani (23), São José (22) e Inter de Limeira (19). O número entre parênteses corresponde ao número de pontos conquistados por cada uma das equipes após 23 jogos – na 1ª fase os adversários eram os do Grupo 2 e, na 2ª, os do próprio grupo. Os sete primeiros do Grupo 1 (de Corinthians a Novorizontino) garantiram vaga para a 3ª fase. Os demais partiram para uma inusitada Repescagem, em que apenas dois sobreviveriam.

Grupo 2

O Grupo 2, que apontou cinco classificados para a 3ª fase, tinha dez clubes do interior, além de Juventus e Santo André. Após 23 jogos, XV de Piracicaba (27), XV de Jaú (26), Ferroviária (25), Ituano (25) e América de Rio Preto (25) classificaram-se para a 3ª fase. Foram para a Repescagem: Botafogo (23), Ponte Preta (23), São Bento (18), Noroeste (17), Juventus (15), Santo André (13) e Catanduvense (13). É interessante notar que se os 24 participantes não tivessem sido separados em dois grupos,  os 12 classificados teriam sido os mesmos. Como 1º colocado do Grupo 2, o XV de Piracicaba garantiu vaga para a Copa do Brasil de 1991.

Repescagem

A ideia da FPF de ‘movimentar o futebol do interior’ durante a Copa do Mundo saiu pela culatra. A presença do São Paulo nesta etapa da competição gerou uma repercussão que não estava programada. Além do mais, pôde-se confirmar que estes  ‘rebolos’ com clubes de pior campanha nunca funcionam. O nível técnico foi sofrível, o público e renda, um fracasso. Menos mal para Botafogo de Ribeirão e Guarani, que conquistaram seus respectivos grupos e avançaram para a 3ª fase. Após jogos de ida e volta dentro do grupo, a classificação do Grupo I foi: Botafogo (14), São Paulo (13), Santo André (10), Ponte Preta (10), Inter de Limeira (10) e Noroeste (3). Já o Grupo II terminou desta forma: Guarani (14), União São João (12), São Bento (11), Juventus (10), São José (9) e Catanduvense (4).

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O São Paulo caiu?

Oficialmente, não, mas o projeto de Farah para 1991 era baseado justamente na classificação do Paulista de 1990: dividir a 1ª divisão em duas séries, sem comunicação entre elas para efeito de disputa de título. O ‘deslocamento’ de um ‘grande’ para o segundo escalão foi um duro golpe e adiou o ‘fechamento de fronteiras’ entre as séries por três anos, tempo suficiente para alguns esquecerem. A manobra só não ficou mais feia porque bastou repetir em 91, 92 e 93 a mesma lógica de fórmula de disputa de 89 e 90 para confundir e sair pela tangente. Finalmente, em 1994, sem mexer com nenhum ‘grande’, foram implementadas as séries A – com A1, A2 e A3 – e B – com B1A, B1B, B2A e B2B. O que não se podia imaginar é que este estratagema estaria presente no futebol paulista até 2020…


Folha de S. Paulo, 22 de junho de 1990
3ª fase

A penúltima fase da competição foi de arrepiar. Os 14 classificados (os sete melhores do Grupo 1, os cinco melhores do 2, mais os dois reabilitados da Repescagem) foram divididos em dois grupos de sete – só o primeiro colocado de cada avançaria para a finalíssima. Os jogos foram de ida e volta dentro do grupo, ou seja, cada clube realizou 12 partidas. Cada vitória valia dois pontos.

Na penúltima rodada do Grupo Preto, Corinthians (15) e Santos (14, com um jogo a mais) se enfrentaram no Morumbi, mas não saíram do zero. O Bragantino bateu o Botafogo em Ribeirão Preto e assumiu a liderança do grupo, com 16 pontos ganhos. Na última rodada, o time de Bragança Paulista recebeu o Corinthians, que com uma vitória simples garantiria uma vaga na final. O Bragantino segurou o 0 a 0 e chegou à final inédita. A classificação terminou assim: Bragantino (18), Corinthians (17), Santos (15), Botafogo (12), Ituano (10), Mogi Mirim (9) e XV de Jaú (3).

Na antepenúltima rodada do Grupo Vermelho, o Palmeiras venceu o Novorizontino no Palestra Itália e assumiu a liderança com 14 pontos – contra 13 do adversário. Na rodada seguinte, o Novorizontino bateu o América de Rio Preto por 2 a 1 (C), enquanto o Palmeiras perdeu para o Guarani por 1 a 0 (F). Na rodada final, o Novorizontino não passou de um empate com a Portuguesa (F), mas o Palmeiras não saiu do zero contra a lanterna Ferroviária (C). O Tigre estava na final. O Grupo Vermelho finalizou com: Novorizontino (16), Palmeiras (15), Guarani (15), Portuguesa (12), América (11), XV de Piracicaba (10) e Ferroviária (5).

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As finais

22/08/1990 – Novorizontino 1 x 1 Bragantino
26/08/1990 – Bragantino 1 x 1 Novorizontino (0 x 0 na prorrogação)

O Bragantino sagrou-se campeão por ter realizado melhor campanha. Foram 48 pontos ganhos em 37 jogos (18 vitórias, 12 empates e 7 derrotas, 43 gols pró e 22 contra, saldo de 21 gols), aproveitamento de 65%.

O Novorizontino foi o vice-campeão com 43 pontos ganhos em 37 jogos (13 vitórias, 17 empates e 7 derrotas, 40 gols pró e 28 contra, saldo de 12 gols), aproveitamento de 58%.

O jogo do título

Local: Estádio Marcelo Stéfani, em Bragança Paulista
Data: dia 26 de agosto de 1990
Público: 15 mil pagantes
Renda: Cr$ 8.400.000,00
Árbitro: José Aparecido de Oliveira
Gols: Fernando 22’ e Tiba 26’ do 2ºT

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Bragantino: Marcelo; Gil Baiano, Júnior, Carlos Augusto e Biro Biro; Mauro Silva (Franklin), Ivair e Tiba; Mazinho (Robert), Mario e João Santos.
Técnico: Vanderlei Luxemburgo.

Novorizontino: Maurício; Odair (Edmilson), Fernando, Marcio Santos e Goiano; Marcão, Tiãozinho e Edson; Robson, Barbosa e Roberto Cearense (Flavio).
Técnico: Nelsinho Baptista

Os números do campeonato

Jogos: 422
Gols marcados: 792
Média: 1,88 gols por jogo
Artilheiros: Alberto do Ituano, Rubem do Guarani e Volnei da Ferroviária, 12 gols
Melhor ataque: Guarani, 46 gols
Pior ataque: Catanduvense, 15 gols
Melhor defesa: Corinthians, 14 gols
Pior defesa: Noroeste, 48 gols
Público total: 1.796.623 pessoas
Média de público: 4.963

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