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O que os fatos nos contam sobre a desigualdade de gênero no esporte

Mulheres convivem com constantes comparações e carregam “rótulo” de inferiores imposto pela sociedade 

Papo de Mina
O "Papo de Mina" é um projeto independente de jornalismo, que visa fortalecer a presença da mulher no ambiente esportivo e em todas as áreas da comunicação. Neste espaço você vai ler, ouvir e ver mulheres que vivem o esporte, mas que também falam sobre diversos assuntos. Nos siga nas redes sociais e acompanhe!

por Beatriz Cruz, do Papo de Mina

Ser mulher sempre foi um desafio. Pouca inserção no mercado, cargos e salários desiguais, além da falta de respeito com os inúmeros casos de assédio e violência. Esses são alguns dos muitos problemas que mulheres sofrem todos os dias ao redor do mundo. Avanços importantes estão sendo conquistados ao tempo, porém ainda há muito a ser feito, e o Papo de Mina traz uma reflexão com alguns fatos que ressaltam a necessidade de mudança. 

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Historicamente, os esportes, principalmente os de forte contato físico, tiveram seu início sendo praticados somente por homens. Um fato sempre baseado numa crença de que as mulheres não tinham porte físico para praticá-los e que esses esportes “masculinizavam” os seus corpos. Apesar destes conceitos serem provenientes da Grécia Antiga, não precisamos voltar tanto a “máquina do tempo” para encontrar as consequências originadas por tais pensamentos. 

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Durante o período de Ditadura Militar no Brasil, a legislação proibia que esportes fossem praticados por mulheres. Segundo o decreto-lei nº 3.199, criado em 14 de abril de 1941,  “Art. 54. Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país”. Em 1965, o Conselho Nacional de Desportos proibiu a prática de lutas de qualquer natureza, futebol, futebol de salão, futebol de praia, polo-aquático, pólo, rugby, halterofilismo e baseball. E durante 40 anos essa foi a realidade das mulheres brasileiras, até que a vigência de tal decreto fosse revogada em 1983. 

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Com a globalização permitida pela internet, as mulheres estão ganhando mais espaço de fala na sociedade e isso tem “respingado” de forma positiva na indústria esportiva. O futebol, por ser o esporte mais popular, é o que oferece resultados mais palpáveis. O sucesso da Copa do Mundo na França em 2019 ou até mesmo a final do Campeonato Paulista Feminino do mesmo ano são dois ótimo exemplos do que está acontecendo, seja com uma “fotografia” global ou local desta evolução.

No entanto, essas mesmas mulheres ainda convivem com constantes comparações e carregam o “rótulo” de inferiores imposto pela sociedade. É  o caso da artilharia de Copas que gera bastante discussão entre os fãs de futebol. Cinco anos depois de Miroslav Klose atingir a marca de 16 gols na Copa do Mundo de 2014, Marta bateu o recorde na edição da Copa Feminina de 2019, com 17 gols.    

Mesmo com os holofotes virados para a atacante após atingir a marca, a maioria dos fãs ainda defende Klose no posto de maior goleador. Nem futebol de alto nível apresentado pelas mulheres na edição passada do torneio mundial permitiu a elas serem vistas como iguais. 

Elas precisam de voz

Maya Moore é uma jogadora da WNBA que tem um currículo invejável. Bicampeã olímpica e campeã mundial pela seleção americana, ela ainda soma quatro títulos da WNBA com o Minnesota Lynx, sendo MVP da liga em 2014 e MVP das finais em 2013. Tudo isso sem falar em suas seis participações no All-Star Game. Porém, logo em seu auge, Maya resolveu dar uma pausa em sua carreira para ajudar um homem que ela acredita ser vítima de um sistema prisional racista no estado do Missouri, onde foi nascida e criada. 

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Sua iniciativa de pausar a carreira foi com o intuito de causar impacto. E, de fato, a repercussão tomou proporções maiores fora dos Estados Unidos. Mas por que Maya teve que dar uma pausa em sua brilhante carreira para ter sua história ouvida e poder usar a influência para lutar em prol de uma causa? Todos os títulos que ganhou não foram suficientes? 

Onde a mudança começa

Mas então, a pergunta que fica é: o que fazer para conseguir minimizar a desigualdade de gênero no esporte? Primeiro, temos que rever alguns conceitos, Começando pelas comparações entre os gêneros não fazem sentido nenhum. Até porque os dois não competem entre si oficialmente. Não temos uma Copa do Mundo onde times masculinos e femininos se confrontam em campo. Por isso, é preciso descartar opiniões do tipo “Marta nunca seria artilheira se jogasse no masculino”.

O segundo é a valorização das atletas e de suas conquistas. Para promover o desenvolvimento, é preciso que o interesse de todas as partes exista. Não só das marcas ao patrocinar clubes e atletas, ou dos governos que devem incentivar a prática esportiva feminina, mas da imprensa, que deve e precisa ser um agente transformador da cultura de consumo dos produtos do esporte. 

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E se você estiver se perguntando como “meros espectadores” também podem ajudar neste processo, é simples: incentive o esporte feminino. Assista aos jogos, dê visibilidade às atletas, compartilhe notícias sobre mulheres e suas conquistas e, o mais importante, mostre o respeito que as modalidades femininas merecem. 

O consumidor é a alma de qualquer negócio e com o esporte não é diferente. 

 

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