Home Futebol Demissão de Jesualdo Ferreira do Santos é o retrato fiel do futebol brasileiro; entenda

Demissão de Jesualdo Ferreira do Santos é o retrato fiel do futebol brasileiro; entenda

Luiz Ferreira analisa o momento difícil do Peixe e os fatores que levaram a saída do treinador português na coluna PAPO TÁTICO

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Jesualdo Ferreira foi contratado pelo Santos no final de 2019 falando da admiração que tinha pelo clube e das lembranças do timaço que contava com Pelé, Pepe, Zito, Mengálvio e muitos outros. O que o treinador português não contava era com a pandemia de COVID-19 (que interrompeu as atividades no futebol por quase quatro meses) e o estado lastimável das finanças do Peixe (com direito a jogador entrando na Justiça para sair do clube). E como sempre acontece no futebol brasileiro, o técnico acabou “pagando o pato” pelos resultados ruins. Não que Jesualdo não tenha a sua parcela de culpa pelo futebol apresentado pela equipe e pelos resultados ruins. Mas a sua demissão (anunciada a quatro dias da estreia da equipe no Campeonato Brasileiro) é o retrato fiel da maneira como a grande maioria dos nossos dirigentes cuidam dos nossos clubes.

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A chegada de Jesualdo Ferreira esteve cercada de expectativas muito por conta do sucesso de Jorge Jesus no Flamengo, já que a ideia da diretoria santista era repetir no Peixe o sucesso do português e manter o legado de seu antecessor, o argentino Jorge Sampaoli. Só que as coisas não funcionam bem assim. Não basta trazer outro treinador estrangeiro e querer que ele tire coelhos da cartola (ou do boné) em pouco tempo e encha a sala de troféus de taças. Jesualdo teve que lidar a todo momento com o estado precário das contas do Santos. Não havia dinheiro para contratações e o treinador ainda perdeu nomes importantes do time de 2019. Para se ter uma ideia, a defesa do Alvinegro Praiano contava com Victor Ferraz, Lucas Veríssimo, Gustavo Henrique e Jorge na temporada passada. E jogou a partida contra a Ponte Preta com Pará, Lucas Veríssimo, Luan Peres e Felipe Jonatan.

Mais do que nunca (e como bem observou o jornalista e analista tático Téo Benjamin), futebol também é contexto. E ele precisa ser observado junto com os números e as partidas de determinada equipe (ainda que estejamos falando dos melhores momentos). Dos (míseros) quinze jogos de Jesualdo Ferreira à frente do Santos, talvez aquele que mais tenha enchido o torcedor de esperança com relação à temporada de 2020 tenha sido a virada sobre o Defensa y Justicia na Argentina, logo na primeira rodada da fase de grupos da Copa Libertadores da América. A equipe que entrou em campo naquele dia 3 de março era bem diferente daquela que encerrou o ano passado e só conseguiu a vitória depois que Jesualdo sacou Luiz Felipe, Evandro e Yuri Alberto para as entradas de Felipe Jonatan, Jobson e Kaio Jorge respectivamente. O 4-3-3 foi mantido. Mas o ânimo foi outro.

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Santos x Defensa y Justicia - Football tactics and formations

O Santos só conseguiu a virada sobre o Defensa y Justicia depois que Jesualdo mandou Felipe Jonatan, Jobson e Kaio Jorge para o jogo. No entanto, a vitória na estreia na Libertadores deu a falsa impressão de que a equipe finalmente engrenaria nessa temporada. Isso até a paralisação por conta da pandemia de COVID-19.

Mesmo com a paralisação das atividades por conta da pandemia do novo coronavírus, Jesualdo Ferreira seguiu no comando do Santos esperando que as promessas da diretoria fossem cumpridas, mas viu exatamente o contrário. Nenhum reforço foi contratado, os salários permaneceram atrasados e jogadores como Everson e Eduardo Sasha entraram na Justiça para pedir seu desligamento do clube. A derrota para a Ponte Preta por 3 a 1 foi a última partida do treinador português no comando da equipe. No total, foram 15 jogos com seis vitórias, quatro empates e cinco derrotas (com aproveitamento de 48,8%). Números bons? Definitivamente não. Mas é preciso lembrar novamente que futebol também é contexto. Diante desse cenário, é praticamente impossível não enxergar a demissão de Jesualdo Ferreira como falta de respeito, profissionalismo e responsabilidade.

Santos x Ponte Preta - Football tactics and formations

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A última partida de Jesualdo Ferreira no comando do Santos acabou marcada pelo futebol razoável no primeiro tempo, pela expulsão de Marinho e também pela péssima atuação do sistema defensivo (principalmente o goleiro Vladimir). O treinador português acabaria não resistindo à eliminação no Campeonato Paulista.

A demissão de Jesualdo Ferreira também escancara outro ponto importante: o fato da diretoria santista nunca soube ao certo por que contratou o técnico português. E esse é o problema quando você acaba tentando surfar numa “onda positiva” de outro clube. Não existe receita de bolo que funcione no futebol, esporte cheio de nuances e detalhes que fazem muita diferença. E as comparações com o Flamengo são inevitáveis. Enquanto Jorge Jesus encontrou estrutura, salários em dia, ótimo elenco e condições de ir ao mercado negociar a chegada de reforços, Jesualdo encontrou um Santos afundado em dívidas, salários atrasados e bastidores em chamas. Como dissemos, ele também tem sua parcela de culpa. Mas a sua saída a três dias do início do Brasileirão nada mais é do que uma tentativa de transferência de responsabilidade por parte da diretoria.

Fala-se no nome de Cuca para assumir o Santos, treinador de filosofia completamente diferente de Jesualdo e que deixou o clube brigado com a diretoria em 2018 (quando contava com Bruno Henrique, Gabigol e Rodrygo no elenco). Se isso realmente acontecer, essa será a prova definitiva de que a diretoria santista não faz a menor ideia de como gerir o clube. Nada além do retrato nu e cru do nosso futebol: maltratado, amador e extremamente pusilânime.

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