Home Futebol Adaptação ao contexto, muita garra e algumas doses de sorte: a Ferroviária está na decisão da Libertadores Feminina

Adaptação ao contexto, muita garra e algumas doses de sorte: a Ferroviária está na decisão da Libertadores Feminina

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a atuação da equipe comandada por Lindsay Camila na partida contra a Universidad de Chile

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.
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Você já viu este colunista falar mais de uma vez que futebol é contexto. Não há como se analisar o desempenho de uma equipe a partir de um único fato isolado e ignorar todo o restante. Ao mesmo tempo, os times que conseguem se adaptar rapidamente ao contexto de cada temporada e ser resiliente a ponto de superar as próprias deficiências costumam chegar bem longe. É esse o caso da Ferroviária de Linday Camila. As Guerreiras Grenás seguiram o roteiro acima com afinco e ainda contaram com algumas boas doses de sorte para vencer a Universidad de Chile nas penalidades e se garantir na grande final da Libertadores Feminina. Vale destacar aqui a atuação gigante de Luciana. A goleira da Ferrinha fez boas defesas durante o tempo normal e ainda defendeu as cobranças de Zamora, Menegardo e Ramírez, garantindo a passagem da equipe brasileira para a final contra o América de Cali.

Essa adaptação ao contexto já foi mencionada por este que escreve nas análises da vitória sobre o River Plate. Vale destacar que a Ferroviária já vinha apresentando problemas coletivos no final da temporada passada (ainda sob o comando de Tatiele Silveira). Lindsay Camila assumiu a equipe no início de 2021 e por conta do tempo escasso para implementar seus conceitos, apostou numa postura mais pragmática e num 4-4-2 que trazia Aline Milene e Carol Tavares pelos lados do campo, Sochor se juntando a Lurdinha na frente, mas se movimentando mais entre as linhas do adversário. A estratégia funcionou contra a Universidad de Chile na última partida da fase de grupos e não comprometeu muito o desempenho da equipe contra o River Plate. E no jogo desta quinta-feira (18), Lindsay Camila repetiu a formação que melhor (e mais rápido) potencializou os talentos que tinha à disposição na Ferroviária.

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Lindsay Camila repetiu a formação e a escalação das duas últimas partidas no confronto desta quinta-feira (18) contra a Universidad de Chile. Aline Milene e Carol Tavares abriam o jogo e Sochor se movimentava bastante entre as linhas do escrete chileno. Foto: Reprodução / YouTube / Zona Latina

E aí vemos o primeiro grande obstáculo de Lindsay Camila. Sem tempo para treinar, conhecer as jogadoras e implementar seus conceitos, a Ferroviária sofreu muito com problemas de execução e tomadas de decisão. Mesmo com as Guerreiras Grenás levando vantagem na maioria dos duelos no ataque (principalmente com Aline Milene pelo lado esquerdo), mas falhava na hora de colocar a bola dentro do gol. O 4-4-2 era bem distribuído no ataque, as volantes Luana e Nicoly chegavam na frente e as laterais Monalisa e Barrinha apoiavam o tempo todo. Mas os problemas de adaptação entre jogadoras e comissão técnica era nítido. NÃO HOUVE TEMPO HÁBIL PARA ISSO. Só que a falta de inspiração das Guerreiras Grenás foi compensada com muita garra e muita entrega dentro de campo e algumas boas doses de sorte. Principalmente quando López desperdiçou cobrança de pênalti no final do primeiro tempo.

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Aline Milene levava vantagem nos duelos e a equipe da Ferroviária estava bem distribuída no campo de ataque. O grande problema da equipe estavam nas conclusões a gol e no acabamento das jogadas. Tudo acabou sendo compensado com muita entrega e algumas boas doses de sorte. Foto: Reprodução / YouTube / Zona Latina

Mas as Guerreiras Grenás criaram chances de gol. Mesmo com todos os problemas apontados acima. Destaca-se aqui um chute no travessão de Sochor no primeiro tempo e uma chance incrível desperdiçada por Duda no finalzinho da partida. No entanto, o cansaço deixou a Ferroviária sem tanta força para puxar os contra-ataques no segundo tempo, ponto esse que fez com que o 4-4-2 de Lindsay Camila perdesse compactação e concedesse espaços para a Universidad de Chile. Zamora, Lopez e Oviedo desperdiçaram ótimas oportunidades de balançar as redes de Luciana. As mexidas de Lindsay Camila também não conseguiram devolver um mínimo de intensidade ao escrete grená. Mesmo assim, a Ferroviária seguia competitiva (ao seu modo), se adaptando ao contexto e superando as próprias dificuldades apesar dos problemas na construção das jogadas e o cansaço evidente de algumas jogadoras no final da partida.

Com o cansaço de algumas das principais peças da equipe, o 4-4-2 proposto por Lindsay Camila perdeu consistência e concedeu espaços generosos para o meio-campo da Universidad de Chile. Zamora, Lopez e Oviedo perderam boas chances de balançar as redes no segundo tempo. Foto: Reprodução / YouTube / Zona Latina

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A goleira Luciana se transformou na grande heroína da classificação da Ferroviária para a decisão da Libertadores ao defender as cobranças Zamora, Menegardo e Ramírez. E isso quando se falava que as Guerreiras Grenás estavam praticamente eliminadas da competição não faz muito tempo. Há como se criticar a qualidade do futebol apresentado pela equipe de Lindsay Camila e a atuação das jogadoras mais experientes nessa Libertadores Feminina sem qualquer medo de ser feliz, DESDE QUE O CONTEXTO SEJA LEVADO EM CONSIDERAÇÃO em todas essas críticas. O confronto contra a Universidad de Chile apenas o quinto jogo de uma equipe que mudou de treinadora nesse ano e que ainda não teve tempo algum para colocar seus conceitos em prática. Não há nem como dizer se Lindsay Camila gosta dessa postura mais pragmática ou se está fazendo isso por conta da situação que encontrou nas Guerreiras Grenás.

Ao mesmo tempo, nada tira o mérito de uma equipe que soube se adaptar e se superar em três partidas. Não foi um desempenho espetacular, é verdade. Mas a Ferroviária cresceu muito em competitividade e vem conseguindo contornar a má fase de algumas jogadoras com muita garra e dedicação. Além de algumas boas doses de sorte que fazem este que escreve se questionar se os deuses do velho e rude esporte bretão já escolheram o campeão. Será?

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