Home Futebol Bahia ressurge das cinzas, conquista a Lampions League e mostra que o futebol nordestino merece respeito e reconhecimento

Bahia ressurge das cinzas, conquista a Lampions League e mostra que o futebol nordestino merece respeito e reconhecimento

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a vitória do Tricolor de Aço e o duelo tático entre Dado Cavalcanti e Guto Ferreira

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Quem acompanha o futebol brasileiro há mais tempo já deve ter percebido que existe uma tendência clara em se diminuir o que acontece fora da região sudeste (principalmente fora do Rio de Janeiro, e São Paulo e de Minas Gerais). Só que os últimos anos tem mostrado que essa tese não se sustenta mais. Ainda mais quando o Bahia conquista a Copa do Nordeste depois de vencer o sempre organizado e competitivo Ceará no tempo normal e na decisão por pênaltis. O escrete comandado por Dado Cavalcanti pode não ter sido brilhante, mas nos presenteou com uma atuação digna do tamanho do clube, com muita aplicação tática, intensidade e muita força mental para tirar a vantagem do seu adversário e ressurgir das cinzas quando muitos já o davam como derrotado. O futebol apresentado pelo Tricolor de Aço e pelo Vozão nessa edição da Lampions League foi do mais alto nível. Falo com tranquilidade.

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Sem poder contar com Nino Paraíba e Patrick de Lucca (ambos suspensos), o técnico Dado Cavalcanti apostou em Renan Guedes na lateral e no volante Jonas para melhorar a marcação na frente da zaga tricolor. O que se viu, no entanto, foi um Bahia sem tanta qualidade no passe e que sobrecarregava Daniel na saída de bola contra um Ceará bastante compactado e concentrado em todos os movimentos do 4-2-3-1 costumeiro de Guto Ferreira. Com Mendoza, Lima e Vina empurrando a zaga do Bahia para trás e Felipe Vizeu aproveitando bem os espaços que apareciam na intermediária adversária, o vozão foi se impondo e controlando as ações nos primeiros 45 minutos de jogo na Arena Castelão. Isso até Dado Cavalcanti adiantar Thaciano para jogar mais próximo de Rodriguinho no seu 4-2-3-1 “torto” no Bahia. A equipe tricolor melhorou no final da primeira etapa e Richard salvou o Ceará em duas oportunidades

É interessante notar que o jogo poderia ter ido por um caminho completamente diferente se Jonas não tivesse deixado a partida no início da segunda etapa. Essa foi a senha para Dado Cavalcanti dar mais qualidade ao meio-campo da sua equipe. Matheus Galdezani entrou e melhorou demais o desempenho do Bahia. E tendo em vista que o Ceará voltou do intervalo marcando em bloco baixo e esperando o momento certo para encaixar os contra-ataques, a mexida foi a mais acertada possível. Tudo por conta da característica mais ofensiva do Bahia nesses primeiros minutos de segundo tempo. Rossi passou a ser mais acionado pela direita, Rodriguinho não ficou sobrecarregado na marcação e Gilberto passou a receber mais bolas. O primeiro gol veio em penalidade confirmada pelo VAR aos 18 minutos. E o segundo veio sete minutos depois em belíssimo contra-ataque que teve a participação de Matheus Bahia, Rodriguinho e Gilberto.

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Mas o duelo tático estava longe do fim. Guto Ferreira respondeu com as entradas de Jael, Cléber e Marlon nos lugares de Felipe Vizeu, Oliveira e Gabriel Dias respectivamente. Tudo para explorar o jogo aéreo na área do Bahia com descidas fortes pelo lado direito de ataque. Com Fernando Sobral jogando na lateral, Vina mais recuado, Mendoza acelerando pela esquerda e muita intensidade nas transições, o Vozão conseguiu diminuir com Jael aos 38 minutos do segundo tempo. E isso num momento em que Dado Cavalcanti já havia mandado Thonny Anderson, Edson, Lucas Araújo e Óscar Ruíz para o jogo com o claro objetivo de povoar o meio-campo e diminuir o ritmo da partida. O confronto dentro de campo e na beira do gramado ganhava ainda mais emoção no final da partida na Arena Castelão. Se Dado Cavalcanti alterava qualquer coisa no Bahia, Guto Ferreira respondia com mais mexidas no Ceará. E vice-versa. Baita jogo na capital cearense.

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Acabou que a disputa na marca de cal premiou a concentração e a resiliência de um Bahia que se reinventou em pouco tempo, ressurgiu das cinzas quando todos o davam como derrotado e venceu a melhor defesa da Copa do Nordeste. E isso diante de um Ceará elogiadíssimo por todo o trabalho feito por Guto Ferreira na montagem de uma equipe extremamente competitiva e que vem se tornando protagonista nesses últimos meses. A campanha na Copa Sul-Americana está aí para provar essa tese. Nem mesmo as cenas lamentáveis antes da premiação diminuíram o tamanho da conquista do Tricolor de aço e os feitos do Vozão. Não é exagero afirmar que o duelo tático entre Dado Cavalcanti e Guto Ferreira foi digno do tamanho da Lampions League e da qualidade dos dois elencos. Dois grandes treinadores que trabalham sério e que montaram dois times de muita qualidade com e sem a bola nos pés. Aguardemos o Brasileirão.

A partida deste sábado (8) mostra também que o futebol nordestino merece sim mais respeito e muito mais reconhecimento de quem mora no “eixo”. Há coisas maravilhosas sendo feitas em várias regiões do país e que acabam sendo ignoradas por causa de um preconceito besta e mesquinho. Bahia e Ceará não fizeram apenas uma grande final. As duas equipes mostraram que o Nordeste é um tremendo celeiro de talentos quando o assunto é o velho e rude esporte bretão.

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